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As soluções IoT obrigam a uma nova abordagem da cibersegurança

Depois da indústria transformadora, muitos setores estão a adotar tecnologia IoT. Saúde, agricultura, retalho são alguns exemplos, mas “qualquer organização, independentemente da indústria ou setor deve adotar a IoT.
18 Agosto 2018, 20h00

A Internet das Coisas, Internet of Things ou IoT, é uma rede de dispositivos físicos que incorpora eletrónica, software, sensores, conectividade que permite àqueles objetos ligar-se e trocar dados. “É uma ponte entre o mundo físico e o mundo digital e tornou-se numa enorme oportunidade”, pois os dispositivos inteligentes conectados “dão-nos acesso a melhor informação que, consequentemente, nos permite tomar melhores decisões”, explica Aleksander Poniewierski, global IoT leader da EY. Em suma, “a combinação de poder avançado de computação, sensores e analítica de dados deu-nos uma ferramenta incrível”, refere o “guru” de IoT da consultora, que esteve recentemente em Portugal e que respondeu a algumas questões sobre esta tecnologia disruptiva.

Afinal, a Internet das Coisas “deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma realidade com potencial para ter impacto não apenas na nossa vida, mas também no modo como trabalhamos”.

 

Onde é a IoT mais prevalece atualmente?

A IoT está a ter impacto em todas as indústrias e setores. Até agora, o campo que tem liderado tem sido a IoT industrial, isto é, a aplicação da IoT nas operações e manufatura. De qualquer modo, assistimos em diferentes indústrias às mesmas necessidades. Por um lado, a necessidade de otimização e redução de custos, por outro, a necessidade de gerar novas receitas através da criação de novo valor.

Até agora, a maioria das aplicações IoT tem servido para otimizar a gestão de ativos e gestão de processos. Esta é a utilização mais comum da tecnologia em diferentes setores. No entanto, começamos a ver mais organizações com vontade de experimentar tecnologias IoT com o objetivo de criar novo valor e, como resultado, impactar o desenvolvimento de novos modelos de negócio baseados em IoT e melhorar a experiência do consumidor.

Isto está a acontecer atualmente na saúde, na agricultura, no retalho e por aí diante. Hoje em dia, qualquer organização, independentemente da indústria ou setor, deve adotar a IoT.

 

Como é possível monetizar os dados IoT?

Os dados estão a transformar a economia digital. Historicamente, a monetização era entendida como o processo de converter ou criar algo em moeda legal. Atualmente, o termo é utilizado para representar a conversão de ativos em receitas. Até certo ponto, a monetização dos dados IoT é um processo de criar receitas adicionais sobre ativos – dados IoT – que já foram recolhidos e utilizados por qualquer outra razão relacionada com o negócio principal.

Os modelos de negócio e operacionais baseados em capacidades IoT ainda são muito tradicionais e os benefícios antecipados focam-se principalmente no valor incremental (que cria ilhas de valor) através do aumento da produtividade, automação de processos e redução de custos de manutenção, por exemplo.

Em todo o caso, cada vez mais decisores estão atentos ao potencial disruptivo da IoT e deverão, muito provavelmente, aumentar os fluxos de valor atuais (em direção aos ecossistemas de valor) e utilizar com mais eficiência e monetizar os dados recolhidos.

 

O processamento edge (nas extremidades da rede) está a tornar-se uma realidade? O que irá acontecer ao cloud computing? Os dois ecossistemas vão coexistir?

Passar o processamento dos dados IoT para os limites da rede era antecipado nos primórdios do desenvolvimento da IoT. No entanto, a tendência abrandou devido à redução dos custos de conectividade e ao aumento das redes de comunicação, o que resultou numa mudança para um processamento centralizado.

Além disso, a redução dos preços e o aumento da capacidade de processamento dos dispositivos nos limites da rede reavivou a necessidade de uma rede edge. Como se pode ver nas principais tendências da IoT, esperamos que as organizações adotem gradualmente sistemas de processamento de rede edge. O volume e velocidade dos dados produzidos pela IoT fazem com que o edge computing seja a melhor opção. Os dispositivos inteligentes conectados continuam a evoluir e muitos deles vão precisar de dar resposta e processamento em tempo real, tornando o edge computing numa primeira escolha para processar dados em tempo real. No entanto, é provável que os dados mais relevantes continuem a ser armazenados e analisados em cloud computing. É deste modo que os dois ecossistemas vão coexistir.

 

Qual é o principal ponto de interseção da IoT e do 5G?

Segundo o relatório de mobilidade da Ericsson, o 5G será capaz de transmitir dados a uma velocidade dez vezes mais elevada do que o atual standard 4G LTE. Isto significa que o 5G poderá alavancar um crescimento significativo da Internet das Coisas, uma vez que a transmissão mais rápida de dados poderá aumentar a eficiência ao simplificar a gestão de dispositivos conectados, enquanto aumenta a capacidade de transmissão e processamento de dados, e o potencial de mais dispositivos conectados sem riscos de uma rede sobrecarregada.

Está a cibersegurança – ou a ausência de cibersegurança – a impedir a adoção generalizada da IoT?

As preocupações com a segurança e a privacidade estão entre os principais fatores que impedem os decisores de se empenharem no desenvolvimento e implementação de soluções IoT. E estas preocupações são muitas vezes resultado da falta de compreensão de que a IoT é um ecossistema de dispositivos e plataformas conectados, habitualmente fornecidos por diferentes fabricantes. Isto resulta numa desresponsabilização da segurança numa altura em que é necessária resiliência adequada, a todos os níveis, por parte de cada um dos fornecedores de tecnologia. Infelizmente, esta tendência de conectividade de dispositivos é muitas vezes conduzida por fabricantes que não pensam em segurança, o que resulta na existência de centenas de milhões de “coisas” vulneráveis ligadas à Internet, à espera de serem atacadas.

O mais assustador é que os dispositivos IoT são capazes de recolher, transmitir e partilhar informação altamente sensível tendo pouca ou nenhuma segurança integrada.

As soluções IoT requerem a satisfação simultânea de requisitos de segurança, privacidade, confiabilidade e resiliência. E hoje, devido ao desenvolvimento de novos modelos de negócio, aumento da conectividade e mudança das fronteiras na responsabilidade da segurança IoT, é obrigatória uma nova abordagem à cibersegurança.

Será necessário alterar o rumo e deixar simplesmente de procurar a segurança para passar a ter uma abordagem de resiliência by design, que incorpora redundância ao nível do design de arquitetura e organizacional, em que o processamento de dados é separado. Esta abordagem resulta numa grande transformação do negócio e tem impacto tanto na organização, como nos processos, como na tecnologia.

 

Os sistemas seguros parecem ser atualmente a exceção. Como irá a indústria encontrar solução para desenvolver segurança nos mini-dispositivos com poder computacional?

Antes de mais, é necessário trabalhar na consciencialização de todos os stakeholders da indústria: dos fabricantes aos clientes. Os fabricantes de dispositivos costumavam competir tentando melhorar as funcionalidades, a eficiência e o preço. Atualmente, devido à mudança nas expectativas dos clientes, a segurança está a tornar-se num importante campo de concorrência. À medida que a consciência aumenta, mais seguros serão os dispositivos.

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