A propósito da crise e do período de emergência financeira foi implementado um novo modelo de financiamento, de forma dissimulada. A quebra abrupta das transferências do Estado (cerca de 30% entre 2010-2012), foi compensada com um aumento do financiamento por fundos estruturais, o que significou uma mudança com implicações profundas nas nossas universidades.

Isto porque, ao contrário do que tinha sido estruturado por Mariano Gago, o financiamento competitivo passou a ser assegurado pelas agências regionais, o que tem consequências várias, incluindo os perigos de endogamia e clientelismo que têm sido tema na opinião pública.

Um sinal deste perigo foi a forma como foram conduzidos os concursos de financiamento. Em vez de uma chamada aberta, conforme acontece com o financiamento da Fundação de Ciência e Tecnologia, tivemos instituições de ensino superior a promover seleções internas de projetos, sendo depois estes os projetos apresentados às comissões regionais.

Todos conseguem perceber as consequências destas decisões passadas e hoje temos instituições muito dependentes destes fundos regionais. Ora, este problema pode e deve ser agora transformado em oportunidade para rejuvenescermos o sistema.

Esta necessidade é reforçada pela lógica de Missões do próximo programa Horizonte Europa. Essa lógica é bem ilustrada pela cooperação europeia para conseguir a primeira imagem de um buraco negro. E é bom que se perceba a participação dos investigadores portugueses nestes projetos, que quebra com muitas das lógicas de afiliação e clientelismo nacionais em que a nossa academia está enredada.

Portanto, para tornar as nossas instituições competitivas precisamos urgentemente de integrar os nossos investigadores doutorados, nomeadamente aqueles que possuem ligações internacionais, com provas dadas em vários projetos europeus (o que ultrapassa a mera métrica das publicações).

Outro sinal foi dado pela sábia resposta que muitos empresários deram ao Conselho de Reitores na sessão da Convenção do Ensino Superior dedicada à Valorização do Conhecimento. Como eles explicaram, inovar obriga a que se tenham vastas equipas de doutorados a trabalhar com boas condições de desenvolvimento, matéria que só está ao alcance de poucas empresas. É por essa mesma razão que eles confiam no Estado.

Ora, é exatamente isso que Mariana Mazzucato demonstrou com o seu “Entrepreneurial State”. Os doutorados estão nas universidades e nos laboratórios do Estado, beneficiando do capital paciente e da possibilidade de falhar, que permite gerar inovação disruptiva.

Portanto, sobre a integração dos doutorados, o caminho já deveria estar compreendido e claramente traçado: é nas universidades, rejuvenescendo-as e dando espaço aos muitos que têm provas dadas, nomeadamente em projetos internacionais.

Claro que a questão está em agilizar os mecanismos de extensão, para que esse conhecimento possa passar das universidades para a sociedade. Esse é o papel dos mediadores de Ciência, razão pela qual o SNESup tem tanta preocupação com os Gestores e Comunicadores de Ciência.

Há quem pense que o próximo quadro comunitário pode ser distribuído nas pirâmides de sempre, na mesma lógica de sempre e financiando empresas em dificuldades. Já conhecemos esse erro e sabemos muito bem das suas consequências.

Para sermos competitivos na lógica de missões temos de quebrar com pântanos passados e temos de dar finalmente espaço aos nossos investigadores.