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“O que se espera para a terceira fase de desconfinamento é um reforço da confiança e do consumo”

“O que se prevê é o aumento do consumo, motivado pelos constrangimentos e restrições causados pela pandemia. As pessoas estão ansiosas pela retoma à normalidade”, sustentou João Costa, country manager da Expense Reduction Analysts, ao Jornal Económico.
20 Abril 2021, 07h35

A pandemia afetou Portugal em março de 2020, e um ano e um mês depois do primeiro confinamento Portugal recomeça a reabertura económica. Os dados de março de 2021 do Inquérito de Conjunto às Empresas e Consumidores mostraram um aumento no indicador da confiança, dando esperança às empresas.

Na segunda-feira assistiu-se à terceira fase de desconfinamento na maioria dos concelhos portugueses, o que levou dezenas de portugueses a fazerem fila nas lojas dos centros comerciais e centenas de alunos de regresso ao ensino secundário e superior. Os dados do INE relativamente a março mostraram uma recuperação da esperança por parte dos consumidores e das empresas como consequência do desconfinamento.

country manager da Expense Reduction Analysts, João Costa, conversou com o Jornal Económico sobre o que o aumento de confiança dos consumidores e empresas significa para a economia, o futuro após o desconfinamento e a recuperação de vários negócios que foram fortemente afetados pela pandemia.

O indicador de confiança dos consumidores do INE mostrou uma melhoria em março perante as quebras significativas de janeiro e fevereiro. Como pode ser visto este aumento da confiança a par com o plano de desconfinamento?
Segundo o Inquérito de Conjuntura às Empresas e aos Consumidores, verificou-se, em março, um aumento expressivo no indicador de confiança dos consumidores e nas perspetivas de atividade das empresas, nomeadamente na indústria transformadora, no comércio e nos serviços. Estamos, atualmente, em níveis próximos dos observados em abril e em agosto de 2020, para consumidores e empresas, respetivamente. Isto tem de ser visto como consequência do anúncio do plano de desconfinamento.

Abril e agosto do ano passado foram meses de esperança e expectativas, tal como março deste ano. Por isso, acredito que estes resultados refletem a recuperação da esperança dos consumidores e das empresas, uma consequência das expectativas geradas com o plano de desconfinamento.

Pode a confiança dos consumidores e das empresas continuar a crescer quando a terceira fase do plano de desconfinamento terminar?
Sim. Aliás, o que se tem verificado é que os indicadores de confiança tanto dos consumidores, como das empresas, estão muito ligados às fases da pandemia. Com o anúncio do plano de desconfinamento, as expectativas aumentaram e a esperança no retorno à normalidade também.

Conforme avançamos no sentido da retoma da normalidade, penso que os indicadores de confiança e as expectativas acompanharão. Não só durante o desconfinamento, mas também nos próximos anos. O que se prevê é o aumento do consumo, motivado pelos constrangimentos e restrições causados pela pandemia. As pessoas estão ansiosas pela retoma à normalidade. Além disso, é importante notar que muitas das famílias que mantiveram os seus empregos têm mais poupanças, fruto da diminuição das despesas com férias, serviços e deslocações. Por isso, penso que o que se espera para a terceira fase de desconfinamento é um reforço da confiança e do consumo.

A pandemia afetou muitas empresas. Como podem os negócios superar a crise desenvolvida pela pandemia?
Neste momento estamos a verificar fortes aumentos de algumas áreas de custo e/ou dificuldade de sourcing de várias matérias primas e subsidiárias, motivadas por escassez a montante e dificuldades de transporte.

Por isso, o que aconselhamos às empresas, de uma forma geral, é que se foquem, primeiramente, na gestão de compras, que é frequentemente uma das formas mais rápidas e eficazes de reduzir custos e obter liquidez. No entanto, esta opção nem sempre é considerada, quer seja pela falta de tempo, de recursos, de know-how ou, até, por conta de alguns mitos que importa desconstruir, como, por
exemplo, “a nossa experiência numa determinada área de compras garante-nos as melhores condições em qualquer categoria de custos”, ou “os acordos globais são sempre melhores do que acordos locais”, “ter um fornecedor mais antigo traduz-se sempre num melhor preço e serviço”, ou mesmo “é provável que eu esteja a pagar um preço semelhante aos dos meus concorrentes e empresas semelhantes”.

Repensar a gestão de compras, permite às empresas inverter a tendência de cortar em recursos humanos ou em outros custos de forma pouco estratégica.

As moratórias chegaram ao fim no passado dia 1 de abril. Como vão as empresas, muitas que só agora iniciam atividade após o confinamento, conseguir pagar os empréstimos e os juros associados?
Em primeiro lugar, é preciso destacar que o fim das moratórias não significa a retoma das entregas de prestações de capital em dívida, que se mantém suspensa, mas sim o pagamento dos juros associados a esses empréstimos.

Em seguida, dizer que, a incerteza quanto à situação de saúde pública gera receios nas empresas e, por isso, mesmo que a retoma esteja marcada para abril, muitas empresas temem o cumprimento do plano de desconfinamento.

Esta situação cria um cenário muito dramático para muitas empresas, não lhes restando outra solução senão o encerramento. Para outras, poderá ainda haver algo a fazer.

Existem passos que são comuns a todas as empresas, como, por exemplo, analisar a estrutura de custos, com o propósito de reduzir despesas, tornar-se mais lean, procurar novos modelos de negócio, novos clientes e negociar contratos. Neste momento é crucial que as empresas repensem os seus custos com o propósito de obter liquidez, e isto pode ser conseguido, por vezes, através da negociação planificada dos contratos com fornecedores.

Contudo, é importante notar que cada empresa deverá ter a sua própria estratégia, adaptada à sua dimensão, volume de faturação, impacto e dificuldades detetadas, de forma a conseguir responder de forma acertada aos desafios que enfrenta.

Como podem as empresas recuperar quando a pandemia ainda está presente no panorama nacional e as contas continuam a somar com o fim das moratórias?
Com a pandemia, as empresas precisaram de redobrar a atenção aos custos, especialmente aos variáveis, e ao mercado. O confinamento geral que atravessamos desde janeiro, o fim das moratórias, são desafios que se somam aos já existentes desde março de 2020.

Contudo, o que verificamos é que as empresas portuguesas estão a tornar-se progressivamente mais lean e mais eficientes, apostando na melhoria contínua, na criação de valor para o consumidor e na resposta aos seus diversos stakeholders.

Assim, agora, no momento de dar o primeiro passo no caminho da recuperação, é crucial que as empresas continuem a repensar os seus custos de modo a obter mais liquidez. Uma revisão profunda e sustentada das compras em determinadas áreas de custo, é frequentemente uma das formas mais rápidas e eficazes de o conseguir. Para isso, há que fazer uma reavaliação custo a custo. Pôr em questão o status quo é o primeiro passo para o processo de controlo de custos nas empresas: quais são os que podem ser otimizados? Em que categoria está a ser alocada uma maior fatia do orçamento? Existem oportunidades de poupança que não comprometem as metas de vendas? Que pressupostos ou “mitos” na nossa gestão das compras devemos questionar?

Ainda no que diz respeito à gestão de compras e aos constrangimentos na cadeia de abastecimento, causados pela pandemia, é importante que as empresas reavaliem a sua estratégia de sourcing, como aliás já se está a fazer na generalidade dos mercados, optando por soluções de proximidade. O que é também uma oportunidade para a indústria nacional reconquistar clientes europeus.

A continuação do teletrabalho é uma forma que pode potenciar a poupança financeira das empresas?
Sim. As empresas que pensam, ou que até já decidiram, adotar o teletrabalho ou o modelo híbrido como modelo de trabalho para o futuro, sabem que terão poupanças em muitos dos custos associados a um escritório tradicional.

No entanto, estas poupanças não são só em matérias diretamente relacionadas, como a possibilidade de, ao invés de um escritório para a totalidade dos funcionários, ter um espaço menor capaz de acomodar os serviços essenciais e as idas esporádicas ao escritório. Também a possibilidade de trabalhar com os melhores profissionais, independentemente de onde moram, a diminuição do número de faltas por doença, como reportam várias empresas, e o aumento da satisfação e da capacidade de retenção de talento, são mecanismos de poupança que as empresas devem ter em consideração.

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