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Santander Totta. Pedro Castro e Almeida escreve aos colaboradores a dizer que “procedimento unilateral” é o último recurso

“Pelos dados que temos hoje, antecipo também, que dificilmente os resultados do Plano + 55 anos serão, por si só, suficientes para dispensar a realização de mais contactos para saída do Banco até ao final do ano”, revela o CEO do banco. Santander Totta garante SAMS e outros privilégios a quem sai.
  • Pedro Castro e Almeida
28 Abril 2021, 14h56

No dia em que o Banco Santander Totta apresentou os resultados do primeiro trimestre de 2021, onde regista uma queda de 71,2% face a igual período do ano passado, para 34,2 milhões de euros, o CEO do banco, Pedro Castro e Almeida, escreveu aos seus colaboradores a explicar a necessidade de redução do quadro de pessoal.

“Os resultados demonstram muito do que temos antecipado sobre o Banco e a realidade em que vivemos”, diz a nota a que o Jornal Económico teve acesso.

“Neste trimestre, atingimos um resultado de 34 milhões de euros, 71% abaixo do período homólogo, incluindo este resultado uma provisão de 164,5 milhões de euros, destinada a fazer face aos custos do nosso programa de transformação”, diz a nota interna.

O Banco diz que “mantém a sua solidez e a sua resiliência perante um contexto da atividade muito adverso”, onde as taxas de juro mantêm-se e permanecerão negativas por muito tempo; onde se regista uma adoção acelerada de canais digitais por parte dos clientes e a entrada de novos players; e onde o custo de crédito, embora controlado, irá por certo sofrer os impactos da pandemia e das maiores dificuldades dos clientes.

“É sobre o programa de transformação que vos venho falar hoje”, diz o CEO. Pedro Castro e Almeida lembra que “tal como é do conhecimento de todos, desde o final de Setembro passado que o Banco tem acelerado o programa de fusão de balcões, ao mesmo tempo que tem implementado alterações de layouts na rede, que implicam postos de caixa avançados e que, por essa razão, deixam de ter associada a função permanente de caixa”.

Uma vez que as suas funções se extinguiram neste programa, muitos dos colaboradores afetos a estes balcões foram abordados com propostas de saída do Banco. “Até à data, dos colaboradores que foram contactados e que estavam afetos aos balcões que foram fusionados ou objeto de intervenção, muitos responderam positivamente havendo no entanto outros, que não aceitaram as propostas apresentadas pelo Banco”, revela o banqueiro.

“Relativamente a esta situação, iniciámos hoje os contactos com a estrutura representativa de trabalhadores, informando a mesma que tencionamos iniciar medidas unilaterais de redução do número de trabalhadores do Banco, nos termos legais”, anunciou o presidente do Santander em Portugal.

O que já motivou críticas do Sindicato dos Quadros Técnicos e Bancários.

“Sobre este procedimento unilateral, que iniciamos hoje, repito o que sempre defendemos: trata-se de um último recurso, pois não podemos deixar de tomar as medidas que asseguram a solidez futura do Banco e a sua sustentabilidade para todos os demais colaboradores”, diz o responsável pelo banco.

Pedro Castro e Almeida diz ainda na nota interna aos colaboradores que “para além das alterações na organização da rede comercial, também em Março aprovámos um programa, agora geral e destinado a todos os colaboradores com 55 ou mais anos de idade, em que iremos apresentar até Junho, consoante a situação particular de cada colaborador, uma proposta de rescisão por mútuo acordo ou, sempre que seja possível, de Reforma antecipada”.

“Pelos dados que temos hoje, antecipo também, que dificilmente os resultados do Plano + 55 anos serão, por si só, suficientes para dispensar a realização de mais contactos para saída do Banco até ao final do ano”, revela o CEO.

O CEo do banco diz que tem em conclusão neste momento “a implementação de novos processos e de melhorias operacionais que implicarão a extinção de um conjunto adicional de funções no Banco, ainda este ano”.

Por esta razão, “estamos neste momento a trabalhar num plano formal de reestruturação, que será apresentado em Junho, e que conterá a necessidade adicional de redução de funções e postos de trabalho”, revela o presidente do banco.

“O número final de colaboradores abrangidos e as áreas envolvidas apenas poderão ser concretizados, como referi, com a conclusão em Junho do Plano +55 anos, e em função dos resultados apurados”, acrescenta.

Pedro Castro e Almeida lembra que “estas medidas não são exclusivas do nosso Banco: todo o setor bancário europeu está a implementar programas de transformação, para assegurar a sua sustentabilidade. São medidas fruto da baixa rentabilidade que os Bancos europeus têm mantido nos últimos anos e sobretudo, da já referida alteração de comportamento dos nossos clientes”.

“A verdade é que todos os dias lemos notícias de reduções de milhares de colaboradores nos maiores grupos europeus, incluindo os mais rentáveis, e sabemos do compromisso assumido pelo Grupo Santander, de redução de cerca de 1000 milhões de euros de custos na Europa, encontrando-se os Bancos na Polónia, Reino Unido e Espanha a implementar reduções muito significativas do seu quadro de colaboradores”, refere o presidente do banco português em comunicado.

“No nosso caso, a integração do Banif e do Banco Popular foram dois momentos de sucesso da nossa história, mas atrasaram o nosso caminho de transformação. Temos ainda uma estrutura demasiado complexa, com balcões em excesso e com redundâncias em diversas áreas”, lembra Pedro Castro e Almeida.

O responsável pelo banco diz que “os nossos clientes pretendem hoje o acesso remoto ao Banco a qualquer hora, para qualquer produto e serviço, com contratações imediatas e automáticas, e a baixo custo”, acrescentando que “isto implica um investimento muito grande na melhoria dos nossos processos e sistemas informáticos, em detrimento da necessidade de uma presença física tão ampla. Sem essa adaptação, perderemos todos os dias terreno para os nossos concorrentes, que não são hoje apenas os Bancos, sendo que temos a responsabilidade de criar um Banco mais ágil e adaptado aos novos tempos”.

“O Banco somos nós. Uso esta expressão intencionalmente, ao iniciar um período em que muitos dos nossos colaboradores deixarão o Banco”, diz o CEO que adianta ainda que tem “falado diariamente com muitos destes colaboradores, e deixo aqui publicamente a mesma mensagem que transmito a cada um. Um enorme agradecimento pelos anos de dedicação e trabalho, o compromisso de que lhe foram apresentadas as melhores condições possíveis, e a determinação em poder contribuir para apoiar na procura de uma nova etapa para a sua vida”.

Banco garante SAMS e outros privilégios a quem sai

“Para todos estes colaboradores, os nossos compromissos são o de assegurar a cada um as melhores condições possíveis de saída; de  garantir que essas condições incluem a possibilidade de uma reforma antecipada ou de uma compensação monetária equitativa e muito acima do legalmente estabelecido; de manter muitas das condições aplicáveis enquanto colaboradores do Banco, como sejam as condições de crédito, de proteção, nomeadamente nos casos mais difíceis de famílias de rendimentos mais baixos e filhos com incapacidade, no acesso ao ensino superior, além de oferecer um conjunto de condições adicionais, como seja um programa completo de outplacement que ajudará na vida pós Banco; e de garantir a existência de um seguro de saúde ou, quanto aos colaboradores filiados em sindicatos que aceitaram a celebração de um protocolo com o Banco, a manutenção do SAMS”.

Pedro Castro e Almeida deixa também uma mensagem aos “demais colaboradores, aqueles que permanecerão”, dizendo que quer “recordar que o Banco que hoje temos é o resultado do trabalho de gerações, e que temos um dever especial de lealdade e respeito, não só para com os que nos antecederam, mas também para todos aqueles que durante este ano deixarem o Banco”.

“Temos o dever de transmitir à próxima geração um Banco adaptado ao tempo em que vivemos, sustentável e, acima de tudo, um Banco que se mantenha sólido e com capacidade de continuar a servir o seu propósito de apoiar as famílias e as empresas do nosso país”, diz o CEO do banco que reforça ser essa a missão que tem de levar a cabo.

O Banco Santander Totta terminou 2020 com 5.980 colaboradores, menos 208 do que no ano anterior, e um total de 443 agências, menos 62 face a 2019.

Em Espanha o Banco  Santander vai perder cinco mil pessoas, embora as dispensas líquidas sejam de 3.572 devido ao efeito das realocações.

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