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Estado pagou indevidamente mais de 11 milhões por contratos de conectividade nos 350 mil computadores para as escolas (com áudio)

O relatório do Tribunal de Contas diz respeito à Fase Um, com a aquisição de 350 mil destes equipamentos, no valor de 126,8 milhões de euros, destinados a alunos com ação social escolar e a docentes.
9 Maio 2023, 07h38

Uma auditoria do Tribunal de Contas agora divulgada que diz respeito à Fase Um do processo – em que foram adquiridos 350 mil computadores, no valor de 126,8 milhões de euros, celebrados pela Secretaria Geral da Educação e Ciência (SGEC) em 2020 e 2021 – revela que o Estado pagou, indevidamente, mais de 11 milhões de euros por contratos de conectividade, relativos a 350 mil computadores adquiridos para as escolas, durante a pandemia.

Os montantes pagos indevidamente resultam de “desconformidades” já detetadas pela Secretaria-Geral de Educação e Ciência (SGEC) e que uma auditoria do Tribunal de Contas (TdC) vem agora revelar, instando a que as diligências já em curso para resolver o problema sejam céleres.

O Tribunal de Contas diz no Relatório sobre Aquisição de computadores e conetividade – Fase 1 que “tem vindo a acompanhar a execução de medidas adotadas no âmbito da digitalização para as escolas relativas à universalização do acesso e utilização de recursos didáticos e educativos digitais por todos os alunos e docentes, entre as quais sobressai a aquisição de computadores”.

É o caso de auditorias ao ensino a distância durante a pandemia, à aplicação dos recursos públicos na digitalização para as escolas e à aquisição de computadores.

O Ministério da Educação estruturou a aquisição de 1,05 milhões de computadores e de prestação de serviços de conectividade para os alunos e docentes dos ensinos básico e secundário em três fases – Fase Zero (100 mil), Fase 1 (350 mil) e Fase 2 (600 mil).

Segundo a auditoria, realizada no segundo semestre de 2022 (quando todos os computadores das três fases já tinham sido entregues às escolas), a execução dos contratos de aquisição de computadores atingiu 100% (104,4 milhões de euros), mas a dos contratos de aquisição de conectividade não foi além de 65% (14,6 milhões), “essencialmente devido à devolução às operadoras de faturação desconforme com os termos contratuais – serviços faturados sem que os cartões de conectividade (cartões SIM) tenham sido utilizados”.

Em resultado da verificação que empreendeu à faturação relativa à conectividade das três fases, a Secretaria-Geral de Educação e Ciência (SGEC) “apurou desconformidades na Fase 1 no montante de 7,9 milhões de euros já pago, sem a efetiva prestação de conectividade, e devolveu às operadoras faturação desconforme no montante de 3,2 milhões (entretanto, pagou 0,4 milhões e pediu Nota de Crédito de 2,8 milhões de euros)”.

Nos contratos da Fase Zero e da Fase 2 estão em causa 1,7 milhões (pago) e 25 milhões (faturação devolvida), respetivamente. No entanto, “o processo de apuramento de desconformidades está a ser finalizado e a SGEC encontra-se a diligenciar pela necessária regularização”.

O Tribunal de Contas revela que “a apreciação dos sistemas de acompanhamento, gestão e controlo evidenciou insuficiências e deficiências, na sua maioria já antes identificadas, relacionadas com a quantidade de computadores e o seu acondicionamento e qualidade, bem como com a eficácia da plataforma onde são registados”.

“Tais fragilidades evidenciam a pertinência de prosseguir a adoção das medidas corretivas apropriadas, entre as quais se destaca a implementação de um novo sistema de gestão e controlo financiado pelo Orçamento do Estado para 2023”, segundo o TdC.

Neste contexto, as conclusões do Relatório “suscitaram a formulação de recomendações dirigidas à SGEC para que prossiga as diligências com vista à conclusão do processo de verificação e de regularização das desconformidades ocorridas no âmbito dos contratos de aquisição de serviços de conetividade; a adoção das medidas necessárias para suprir as fragilidades identificadas e melhorar os sistemas de acompanhamento, gestão e controlo dos equipamentos”.

A principal razão encontrada pelo tribunal — embora seja recusada pela SGEC — é que as escolas têm “computadores em quantidade superior às necessidades”, conclui o documento.

Tudo porque os encarregados de educação recusam-se a receber os equipamentos, por não quererem arcar com eventuais consequências económicas caso estes se estraguem por uso indevido das crianças. “Entre os motivos para a recusa surge o necessário contrato e o receio do consequente ónus a suportar em caso de dano ou perda, atendendo a que o equipamento, destinado a crianças e jovens desde os 6 anos de idade pode ser, fácil e inadvertidamente, danificado e os custos de reparação/substituição têm um elevado impacto, sobretudo nas famílias apoiadas pela ASE”, lê-se no relatório.

Por outro lado, o processo de reutilização que tem sido posto em prática, entregando a novos estudantes computadores, entretanto devolvidos por alunos que os utilizaram anteriormente, faz com que “inúmeros computadores” permaneçam armazenados nas escolas, ainda por usar.

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