Os governos são, cada vez mais, labirintos obscuros e nebulosos, onde os corredores de poder são ocupados por figuras sem expressão mediática.

Contudo, são figuras com bastante relevância política na articulação de interesses e na concentração de poder, sem necessitarem de um crivo eleitoral, que gravitam dentro da máquina governativa e estão livres de qualquer tipo de fiscalização política dos órgãos de controlo político – enquanto os ministros são os rostos visíveis da acção governativa, mas o alcance efectivo do poder destes é impossível de mensurar – acabando, por vezes, por ser um poder decorativo ou simbólico. No entanto, é sempre representativo.

Esta representação política serve como alimento de análises políticas e comentários políticos que, por vezes, servem de veículo para clamar pela responsabilidade ministerial, que deveria, segundo alguns comentadores, culminar na demissão do ministro quando se mostra incapaz de resolver os assuntos.

Essa pressão jornalística é totalmente destituída de impacto estruturante, porquanto não altera nada, nem sequer as relações de poder na máquina opaca associada a qualquer governo moderno. Assim sendo, a máquina continua a operar dentro da mesma lógica e com outros ministros.

Na ausência de capacidade para alterar o jogo político representativo, os cientistas sociais (cientistas políticos, sociológicos e antropólogos) optaram por descrever a natureza dos regimes. De acordo com essa taxinomia, já não se entende se os regimes determinam o comportamento das elites ou se foram as elites que construíram tais regimes.

Numa tentativa de sair de uma categorização abstracta do regime angolano, a socióloga Christine Messiant entendeu que o innner circle de José Eduardo dos Santos era constituído por uma elite “futunguista”, que acabou por ser introduzida no seio do partido através da expansão dos poderes do presidente do partido, que passou a ter o direito de indicar alguns membros do Bureau Político do MPLA.

Esta confluência entre elites partidárias e elites ministeriais gera uma teia de interesses que é vital para a sustentação do partido do governo ou do poder. Acabando também por gerar um conjunto de figuras opacas que gravitam em zonas cinzentas do poder, cuja influência no processo decisório é relevante.

Somente quando surge um processo mediático ligado a um escândalo de corrupção é que os seus rostos são desvendados. Este facto demonstra que o jornalismo está submerso nas espumas da maré mediática, sem entender as dimensões mais pantanosas da política e os códigos de cumplicidade e de articulação de interesses.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.