Ecoa um enorme vazio sobre os pastores porquanto já nada se ouve a respeito de “Vou lá visitar pastores”que nos trazia as proposições humanas, culturais e políticas no sul do país, através de uma perspectiva dos povos kuvale. Estamos, assim, perante uma desconformidade temporal dentro de um espaço geográfico que a todos diz respeito directa ou indirectamente.

“O sol o sul o sal/ as mãos de alguém ao sol/ o sal do sul ao sol/ o sol em mãos do sul (…)” são estrofes de uma alma presa ao Sul que se inscreveu na plenitude de condição de vida desértica ao sol. Impulsionando uma transposição entre o tempo presente e o passado dos povos pastorais que procuram resistir à inserção nos processos de transformação do país. Mantendo, ainda assim, as suas colocações humanas e culturais dentro de uma proposta de formulação da nação.

As transformações políticas continuam a ocorrer de acordo com os cânones ocidentais ou seguindo proposições ocidentalizadas, confirmando as reflexões de Ruy Duarte de Carvalho (2004), “figuras, figurões & figurantes na cena democrática angolana” onde se referia que os “papéis, marcações e desempenhos” dos decisores políticos apenas diferiam na forma e na retórica.

O conteúdo (de fundo) assemelhava-se às pretensões democráticas importadas, como se a democracia pudesse ser um produto exportável e adaptável, sem se atender às reais condições e práticas dos povos. Por isso, já defendia que “o próprio mecanismo formal de votar e mais ainda a noção fundamental de que o conteúdo de voto é que confere valor ao acto de votar, são aspectos que da parte de uma população com as características da nossa [angolana] carecem de uma aprendizagem que nem sempre é facilmente apreendida”.

Esta tendência verifica-se não apenas no campo político, mas, igualmente, na área económica. Assim, já não são os “Papéis do Inglês” que entram e se perdem pelo país adentro. Os papéis dos chineses, americanos e de outros povos chegam ao país, atraídos por promessas de enriquecimento e de acesso à exploração de recursos naturais. Mas o país continua a ser constituído por “Paisagens Propícias” para o empreendedorismo ou para o turismo, mesmo com problemas reais e difíceis bem presentes.

Estes problemas reais que perturbam o quotidiano dos filhos da terra já não são produtos da guerra, conforme projectado nas “Actas da Maianga”, mas, sim, de uma vida do pós-guerra, que motivou outros dilemas e makas de outra ordem. A ausência de Ruy Duarte de Carvalho trouxe um enorme vazio e, por isso, a obra que se publicou em sua homenagem é intitulada de o que não ficou por dizer… Ruy Duarte de Carvalho in memoriam.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.