Quem entra em Portugal por estes dias tem pela frente um cenário dantesco se tiver de apresentar o passaporte: esbarra numa fila de quatro horas, por vezes até um pouco mais. O calvário tem uma explicação: o Serviço de Segurança Interna (SSI) avançou de supetão para a instalação de novas máquinas para leitura de passaportes – que iriam rever os documentos em 20 segundos, em vez dos 120 atuais –, mas fê-lo sem informar a ANA, que tem a concessão do aeroporto Humberto Delgado; e, imagine-se o delírio: não criou um plano de contingência para o caso de alguma coisa correr mal. Ora bem: foi isso mesmo que aconteceu.
As máquinas estão inoperacionais, o servidor que junta a informação não serve para a função (foi preciso encomendar um novo) e entretanto quem chega a Portugal é confrontado com a obrigação de passar pelos guichês da PSP, compreensivelmente sem agentes suficientes. Não há dúvida: a responsabilidade é do SSI. Não é da ANA, que tem de gerir um aeroporto esgotado (obrigado, António Costa pelo hábito de empurrar os assuntos com a barriga). E a responsabilidade também não é do Governo, que foi apanhado em cheio pela incúria do Serviço de Segurança Interna.
Os governos têm certamente responsabilidades em diferentes áreas e isso deve ser-lhes cobrado, mas este hábito nacional de fazermos dos ministros os responsáveis por tudo-tudo é um jogo de soma nula. Como fica demonstrado pela catástrofe no Humberto Delgado, muitas vezes os nossos problemas estão na administração pública e não no governo. A falta de investimento justifica parte dos erros, sim, mas não é certamente o caso das máquinas para leitura de passaportes, e há muitas outras situações assim: sobra a impreparação e até a incompetência.
A reforma do Estado é, por isso, o alfa e o ómega desta legislatura. É preciso gerir melhor, ter mais competência e até pagar melhor. Quando a oposição se põe ao berros contra um ministro – ontem foi a da Saúde – confirma a falta de vontade de mudar a forma de fazer política. É tudo muito básico. A única coisa que interessa é o poder e a forma de o obter – o resto é supérfluo. É importante notar que no passado recente o PSD fez o mesmo, mas terá de chegar o dia em que a oposição terá de encontrar uma voz capaz de ser crítica sem ter de pedir a cabeça de um ministro por tudo e por nada. O populismo não é exclusivo do Chega.