Ao longo de mais de 200 anos de democracia americana, Barack Obama foi o primeiro afro-americano eleito presidente dos Estados Unidos da América e foi o quarto presidente americano a ganhar o Prémio Nobel da Paz. Eleito pela primeira vez em 2008 com o slogan “yes we can” e reeleito em 2012, deixou a Casa Branca no dia 20 de Janeiro de 2017 com a convicção de que cada americano tem potencial para mudar o mundo.
Oito anos e dois mandatos depois, Obama não conseguiu fazer muito daquilo a que se propôs. Contudo, a sua administração ficou marcada por algumas conquistas de grande relevância. Desde logo, deixou ao povo americano o Patient Protection and Affordable Care Act, diminuindo substancialmente o número de pessoas sem seguro de saúde; fez parte do acordo internacional com o Irão que permite um controlo externo do seu programa nuclear; o seu governo liderou a operação que levou à morte de Osama bin Laden, ex-líder da Al-Qaeda e responsável pelas cerca de três mil vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001; iniciou a reaproximação diplomática a Cuba e diminuiu de forma efectiva o desemprego no país, entre muitas outras conquistas.
Terminado o seu mandato, Obama será recordado por motivos distintos mas com respeito e admiração e, com o passar do tempo, o seu lugar e importância na História tornar-se-ão mais precisos. Por agora, a melhor e a mais justa homenagem que o mundo lhe pode prestar é perceber que lição nos deixou e de que forma mudou a nossa concepção sobre a política.
A humildade das suas origens, com as quais inicia o seu prodigioso discurso enquanto keynote speaker em 2004 na Convenção Nacional Democrata em Boston, o seu sentido de humor comprovado pelo riso incontrolável que tantas vezes provocou no anual White House Correspondents’ Dinner, o seu humanismo evidenciado pelas lágrimas que chorou emocionado ao recordar as 28 vítimas do tiroteio na escola de Sandy Hook em Newtown, a sua amizade e gratidão ilustradas pela condecoração de Joe Biden com a medalha presidencial da Liberdade, o amor e afecto incontornável à sua mulher e filhas patentes no seu último discurso enquanto presidente, fazem de Obama um grande homem e um político excepcional.
Em suma, o carácter de Obama e a sua forma de fazer política valer-lhe-ão certamente um lugar entre as personalidades mais notáveis do século XXI. Obama é um político com uma retórica fabulosa, com objectivos bem definidos e que lidera pelo exemplo, mas é também um homem que se emociona com os outros e cuja esperança na decência da humanidade foi, até ao fim, a lição que pretendeu deixar ao mundo. Esse talvez seja o seu mais valioso ensinamento.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.