Homens encapuzados e armados distribuíram um vídeo em que apelam aos georgianos que aproveitem o momento da invasão russa à Ucrânia para fazer ressurgir o movimento separatista e tentarem reaver os territórios da Ossétia do Sul e da Abkhazia, perdidos na guerra de 2008 com a Rússia.
A ideia é retirem vantagem da situação na Ucrânia, onde as forças russas estão a enfrentar forte resistência das forças ucranianas. “A Ucrânia está em fogo e nós georgianos temos uma oportunidade única de recuperar o nosso território”, diz um dos elementos que surgem no vídeo, dado a conhecer pelo serviço georgiano da Radio Free Europe, órgão de comunicação patrocinado por Washington.
“Nós georgianos, que lutamos pela liberdade na Ucrânia, também estamos prontos para lutar pela liberdade da Geórgia. É por isso que pedimos que peguem em armas e ataquem o inimigo. Nunca mais teremos essa hipótese como esta”.
A possibilidade de abrir uma nova frente de conflito com a Rússia – que de algum modo obrigasse Moscovo a divergir para outra geografia – é um tema que não está de todo fora dos horizontes de alguns analistas. Segundo a rádio, o vídeo foi colocado no YouTube em 4 de março passado e espalhou-se rapidamente nas redes sociais na Geórgia, angariando dezenas de milhares de visualizações e comentários.
O vídeo não explica quem são os homens, embora afirmem que estão a lutar na Ucrânia. Os combatentes georgianos estão ativos no leste da Ucrânia desde 2014, quando a Rússia começou a apoiar os separatistas locais.
Para ajudar a defender o país, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky convidou estrangeiros para entrarem na Ucrânia e juntarem-se à legião internacional e para já cerca de 20 mil pessoas de 52 países aceitaram o repto, disse recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba.
No entanto, os problemas militares da Rússia na Ucrânia podem ser uma oportunidade para a Geórgia, disse Olesya Vartanyan, analista para a região do International Crisis Group. A analista explicava num texto recente que “desde que o ataque russo à Ucrânia começou em 24 de fevereiro, o apoio popular ao país sitiado está em toda parte na capital georgiana, Tbilisi. Bandeiras ucranianas estão penduradas em varandas e janelas em subúrbios distantes, bem como nas portas de cafés e lojas nas avenidas do centro. Todas as noites, o centro da cidade se torna um mar de amarelo e azul enquanto milhares se reúnem para mostrar solidariedade à Ucrânia”.
“Para muitos georgianos, a guerra lembra a invasão russa do seu próprio país em 2008. Após um conflito de cinco dias, a Rússia reconheceu duas regiões separatistas georgianas – Abkhazia e Ossétia do Sul – e ali estacionou tropas. Desde então, Tbilisi pressionou ainda mais fortemente por uma integração mais próxima com o Ocidente, por meio de laços mais estreitos com a União Europeia e com a NATO, mesmo que a adesão a qualquer desses órgãos parecesse provável no imediato”.
Olesya Vartanyan recorda que “o primeiro-ministro georgiano Irakli Gharibashvili disse que o seu governo se recusaria a aderir a quaisquer sanções ocidentais contra Moscovo”. “Já em março, o presidente ucraniano retirou o seu embaixador na Geórgia um protesto contra o que chamou ‘uma posição imoral sobre as sanções’ e os obstáculos que Tbilisi colocou no caminho de um pequeno grupo de voluntários georgianos que quiseram viajar para a Ucrânia para combater a Rússia”. Em 28 de fevereiro, as autoridades georgianas não permitiram que um avião ucraniano que deveria transferir 30 voluntários georgianos para Kiev pousasse no aeroporto de Tbilisi.
“Qualquer movimento levará a um confronto aberto com as tropas russas estacionadas nas regiões separatistas”, disse Vartanyan à RFE, afirmando que há um total de oito mil forças russas na Abkhazia e na Ossétia do Sul.
Entretanto, dezenas de milhares de pessoas participaram em manifestações de apoio à Ucrânia em Tbilisi e outras cidades georgianas desde o início da invasão russa, durante as quais foi exigida a renúncia de Garibashvili e do seu governo, bem como medidas ativas de apoio à Ucrânia e maior pro-atividade na candidatura à adesão à União.
Outra mensagem pedindo aos georgianos que peguem em armas foi escrita pelo deputado ucraniano Alexei Honcharenko no Facebook em 26 de fevereiro. “Queridos georgianos, o clima está maravilhoso lá fora – vocês podem caminhar por Tskhinvali e Sohumi? Vocês podem destruir vários veículos blindados, tanques? Vá georgianos, tomem o que vos pertence. Está na hora”.
“Estou convencida que não há planos para iniciar qualquer ataque às regiões separatistas. Não vemos tais movimentos ou preparativos no terreno”, disse Olesya Vartanyan.
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