A agência de notação Moody’s alertou esta terça-feira que a crise económica causada pela Covid-19 terá repercussões na banca europeia, chamando a atenção para o risco do aumento do crédito malparado, especialmente no sistema bancário do sul do ‘velho continente’, que tem uma relevante exposição ao crédito às pequenas e médias empresas (PME).
A banca portuguesa está, por isso, no centro do alerta da Moody’s. Ainda que a agência de notação antecipe a deterioração da qualidade do crédito para a generalidade dos bancos europeus, estimando “que os empréstimos problemáticos possam subir entre 100 a 300 pontos base até 2022”, a Moody’s espera “um profundo declínio da atividade económica e o seu impacto no rendimento das famílias vai pressionar as pequenas empresas e o crédito ao consumo”.
“Por isso, antecipamos que os sistemas bancários com maior proporção destes empréstimos serão os mais vulneráveis às perdas para crédito”, abarcando a banca nacional.
A Moody’s, compilando dados do Eurostat, explica que 62% dos postos de trabalho em Portugal são criados por pequenas empresas, acima da média da União Europeia (48%) e apenas superado pela Grécia e pela Itália, cujas pequenas empresas representam 78% e 66% do emprego.
Isto pode ser um problema porque a Moody’s defende que “geralmente as PME têm almofadas de capital reduzidas e têm menor flexibilidade para ajustarem os modelos de negócio às mudanças rápidas da procura e da oferta. Com as economias europeias ainda parcialmente encerradas, ou a operar de forma reduzida, a capacidade do serviço de dívida das PME está em risco”.
Segundo dados avançados pela Autoridade Bancária Europeia e pela Moody’s Investors Service, de junho de 2019, 26% do crédito privado concedido pela banca nacional destinou-se ao financiamento das PME. Neste indicador, apenas os bancos gregos e italianos têm maior exposição ao crédito às PME que os bancos portugueses, com 30% e 28%, respectivamente.
E, se for apenas considerada carteira de crédito às empresas, o financiamento às PME pela PME representava 55% da totalidade da carteira de crédito dos bancos portugueses em 2019, acima dos bancos gregos (52%) e italianos (42%).
Entre os bancos portugueses, a Moody’s alerta para o riscos do aumento do crédito malparado para três instituições financeiras. “Em Portugal, os maiores bancos, a Caixa Geral de Depósitos e o Millennium bcp, têm uma exposição [às PME] de 26% e 20%, respectivamente, mas alguns bancos mais pequenos têm uma proporção mais elevada, como o Banco Montepio, com 35%”.
A Moody’s refere ainda que as políticas orçamentais e regulação apenas vão mitigar “parcialmente” o impacto negativo da Covid-19 na economia.
“A extensão da qualidade dos ativos nos sistemas bancários europeus vai depender da profundidade da contração da economia e de até quando perdurar o elevado nível de desemprego em 2021. A recuperação gradual na segunda metade deste ano vai depender da possibilidade de os governos poderem reabrir as economias enquanto protegem a saúde pública. Até com uma recuperação gradual, antecipamos que o PIB na maioria das economias avançadas fique aquém dos níveis pré-crise em 2021”, salienta a agência de notação.
A Moody’s refere que “os programas de apoio, suportando a oferta e o emprego, podem mitigar os riscos de crédito para os bancos”. No entanto, “ainda que antecipemos que os governos continuem a expandir e a aprimorar as medidas em linha com os desenvolvimentos, estas medidas não serão suficientes para compensar totalmente as pressões” dos devedores de crédito. “Uma vez que a maior parte destas medidas e os subsídios de férias são, por natureza, temporários, a extensão real da deterioração da qualidade dos ativos só será conhecida quando estas medidas forem levantadas”, conclui a agência de notação.
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