O investimento da Google em novas instalações em Portugal, no Oeiras Park, que foi anunciado esta semana por António Costa na Cimeira de Davos, na Suíça, sem ter sido revelado o seu valor, pode marcar o regresso em força do IDE – Investimento Direto Estrangeiro ao nosso País e ser mais uma força motriz para ajudar à recuperação da economia nacional. Grande parte dos projetos estão a ser acompanhados de perto pelo primeiro-ministro, que faz questão de saber todos os detalhes dos processos durante a fase de negociação e de assumir o anúncio dos contratos em termos públicos quando eles estão fechados, como foi o caso da Google esta semana.
“A Google vai abrir um novo centro de operações de fornecedores em Lisboa, totalmente dedicado a fornecedores terceiros. Com esta abertura, estamos a instalar num local alguns dos muitos fornecedores que dão apoio às operações da Google”, explicou fonte oficial do gigante norte-americano em declarações ao Jornal Económico.
A Google pode funcionar como uma mola para outros colossos empresariais das telecomunicações e tecnologias seguirem o exemplo e decidirem apostar e investir em Portugal. Mas não só, porque, segundo o Jornal Económico conseguiu apurar junto de diversas fontes, existe um pipeline significativo de projetos à beira de serem assinados, resultado do esforço de diversas equipas que funcionam de forma coordenada entre o Governo, a Aicep e as autarquias envolvidas. Alguns desses projetos terão financiamento comunitário e apoio do BEI – Banco Europeu de Investimento. De acordo com essas informações, além do investimento estrangeiro em imobiliário e no setor hoteleiro, muito fomentado pelo crescimento galopante do turismo em Portugal), estão em curso e na calha investimentos estrangeiros de relevo nas áreas de energias renováveis, retalho especializado e distribuição, infraestruturas, moldes, agroindústria, setor farmacêutico, serviços e AED – aeronáutica, espacial e defesa, entre outros.
De entre os grandes grupos internacionais que decidiram investir em Portugal nos últimos meses, sobressaem os nomes da Uber, Continental, Somincor (Lundin Mining), Mercadona, Lidl e ADEO (dona das cadeias de distribuição especializada Leroy Merlin ou AKI). Outros, como as multinacionais Bosch ou Siemens, por exemplo, presentes há várias décadas no País, decidiram reforçar a sua presença e o seu investimento.
Em paralelo, há já diversos meses que são comentados os esforços de várias entidades nacionais no sentido de captar futuros investimentos em Portugal de outras grandes empresas internacionais, como as norte-americanas Tesla ou Amazon.
A Nestlé é outro dos casos possíveis. A multinacional suíça tem a funcionar em Portugal um centro de serviços partilhados – o Nestlé Business Services – que serve as filiais do grupo na Península Ibérica, Benelux (Holanda, Bélgica e Luxemburgo) e países nórdicos, empregando nestas funções 120 dos cerca de 600 funcionários que a empresa tem neste momento na sede, em Linda-a-Velha. Se a sede da casa-mãe decidir atribuir a Portugal a função de fornecer os serviços partilhados para os outros mercados da Nestlé na Europa Ocidental é certo que essa operação terá de ser efetuada noutras instalações, por falta de espaço na atual sede. O Jornal Económico sabe que uma das hipóteses passa por um novo parque de negócios que a Câmara de Oeiras está a projetar para o espaço da antiga fábrica da Legrand, em Carcavelos, mas fonte oficial da Nestlé esclareceu que “nenhum compromisso foi assumido, nem nenhuma decisão foi ainda tomada sobre esta matéria”.
Nas infraestruturas, além da Vinci, gestora da ANA, que está a investir na modernização de diversos aeroportos e terá de suportar o projeto do novo aeroporto de Lisboa, previsto para o Montijo, está projetado o investimento de várias dezenas de milhões de euros na ampliação do atual terminal de contentores do porto de Sines por parte da atual concessionária, a PSA, empresa estatal de Singapura, assim como na concessão de um novo terminal em que estão interessados, pelo menos, diversos grupos chineses.
Mas o reforço do IDE é uma tendência que se tem acentuado nos últimos anos. Segundo os dados disponibilizados pelo Banco de Portugal, o IDE ascendeu a 2.242,1 milhões de euros em 2014, tendo quase triplicado no ano seguinte, para 6.348 milhões de euros. Depois de uma ligeira descida em 2016, para 5.600,1 milhões de euros, a retoma do IDE ocorreu novamente no ano passado. Ainda só com dados dos primeiros nove meses de 2017, o IDE já tinha superado os valores de todo o ano precedente, fixando-se em 5.878,3 milhões de euros.
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