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80% das empresas de restauração esperam faturação zero em abril e maio

Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP, exige do Governo medidas concretas e rápidas de apoio ao setor da restauração, como a concessão de verbas a fundo perdido para manter os postos de trabalho e evitar despedimentos.
  • Hugo Correia/Reuters
3 Abril 2020, 14h20

Cerca de 80% das empresas do setor da restauração em Portugal esperam não registar qualquer tipo de receitas, ou seja, uma faturação zero, durante o presente mês de abril e no próximo mês de maio, devido ao efeito do surto do coronavírus.

Esta é uma das principais conclusões da teceira edição do inqúerito realizado pela AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares em tempos de pandemia, revelando um setor económico devastado.

Vejamos: 74% das empresas inquiridas estão encerradas, 30% não conseguiram pagar salários emmarço, 63% dizem que não vão conseguir pagar salários em abril, 49% vão recorrer ao ‘lay-off’ e 21% ainda sabe se o vai fazer.

O inquérito da AHRESP, divulgado em conferência de imprensa há minutos, acrescenta que 77% das empresas ouvidas não recorreram aos apoios financeiros disponibilizados pelo Governo, mas, mesmo assim e apesar da crise em curso, 94% não efetuaram despedimentos em março.

Este último ponto é o mais parecido com uma boa notícia que se pode retirar das conclusões deste inquérito da AHRESP, que ouviu 1.819 empresas associadas da restauração e do alojamento entre os dias 1 e 3 de abril. Deste universo, 50% das respostas são de microempresas, que representam cerca de 95% do tecido empresarial neste setor.

“O impacto no emprego é tremendo, o impacto na faturação é tremendo”, resumiu Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP, na referida conferência de imprensa.

Ana Jacinto reconheceu “o esforço que o Governo tem feito, em particular o Ministério da Economia e a secretária de Estado do Turismo”, mas foi bastante crítica em relação às medidas, ou à falta delas, para as empresas do setor.

“Temos um conjunto de 40 propostas feitas ao Governo para as medidas irem mais longe na questão do apoio direto às empresas de restauração. Não chegam as linhas de apoio. É preciso dinheiro a fundo perdido para apoiar a tesouraria das empresas, para que possam manter os postos de trabalho e, se possível, os negócios, e depois, quando a pandemia acabar, poderem reerguer-se e terem capacidade para reabrir as portas”, defendeu a sectetária geral da AHRESP.

Ana Jacinto explica as linhas de crédito e as moratórias, além de terem condições de difícil acesso, burocráticas e implicando demora nas respostas, são “apenas “alívios que vão implicar endividamento mais à frente, quando já se sabe que a retoma vai demorar”.

“Estamos em permanente diálogo, em permanente articulação com o Governo, vamos continuar a trabalhar, vamos continuar a insistir”, promete a secretária geral da AHRESP, na procura dos referidos apoios a fundo perdido para o setor da restauração.

Ana Jacinto admite que “o impacto é transversal a todo o setor e a todas as regiões” e lança um apelo para que “as empresas não façam nada sem se apoiarem na AHRESP”.

“O que nós desejamos é que as empresas não caiam em salários em atraso, têm de tomar a decisão certa”, sublinha Ana Jacinto, considerando que, “na prática, o único apoio que as empresas de restauração têm é o recurso ao ‘lay-off’, é o único mecanismo que têm”.

Ainda assim, a secretária da AHRESP entende que essa medida devia ser melhorada e revelou que a associação apresentou uma proposta ao Governo para que as empresas sejam responsáveis pelo pagamento de apenas 10% dos ordenados dos trabalhadores em situação de ‘lay-off’, ficando os restantes 90% a cargo da Segurança Social, quando atualmente as responsabilidades são partilhadas em 30% pelas empresas e em 70% pela Segurança Social. É mais uma sugestão à espera de resposta.

Sobre as medidas de apoio do Governo, Ana Jacinto assume que a única que está disponível neste momento é a linha de crédito do Turismo de Portugal, no valor de 60 milhões de euros, mas dedicada exclusivamente a microempresas. E isso explica porque é que o inquérito concluiu que cerca de 60% das empresas ouvidas considera que as linhas de apoio decretadas pelo Governo não são adequadas e, também, em parte, porque é que cerca de 80% não recorreram a essas linhas, porque só estão disponívei há dois dias.

“Além da linha do Turismo de Portugal para microempresas, todas as outras linhas de apoio não são de fácil acesso, e entre o momento da candidatura e a decisão do apoio pode mediar 40 dias. As empresas não podem aguentar à espera 40 dias. Não podem estar a viver de moratórias e de alívios temporários que vão implicar a breve termo custos enormíssimos”, assinalou Ana Jacinto.

Em jeito de conclusão, a secretária geral da AHRESP alertou, que se o atual estado de coisas não se alterar em termos de apoio ao setor, “não morremos da doença, vamos morrer da cura”.

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