Temos uma mega investigação do Ministério Público sobre contratos realizados entre o Estado e empresas privadas, concretamente sobre o programa Aldeia Segura e o programa de alerta de incêndios por SMS. Os contratos valem 1,8 milhões de euros, segundo o “Público”. Entretanto, o secretário de Estado da Proteção Civil, Artur Neves, foi constituído arguido e pediu a demissão. Este processo vai fazer correr mais sangue pelo caminho, com o DCIAP a querer saber mais, na medida em que estão sob investigação alegados crimes de corrupção, participação económica em negócio e fraude na obtenção de subsídios públicos.

O curioso de toda esta história que dominou a semana foi o facto de para o Governo, e em particular para o gabinete do primeiro-ministro, tudo se passar sem grandes surpresas. Esta é uma grande diferença em relação ao que aconteceu em governos anteriores. Saiu um comunicado assaz lacónico, com elogios ao governante exonerado e os opinion makers, na sua generalidade, não acharam estranho que esta demissão não tenha sido escalpelizada.

Mas, na realidade, estamos perante um grande escândalo que mexe com a vida das pessoas, a confirmar-se as suspeitas sobre os materiais das golas e o impacto na saúde dos utilizadores. Lembremos que quando o tema rebentou alguém disse que isto não seria assunto para mais de dois dias e aí temos o resultado – uma demissão que configura um dos piores exemplos desta governação: alegada corrupção com fundos comunitários. O envolvimento de 200 agentes e técnicos da PJ espelha a importância do processo com buscas e análise aprofundada. Este é o quarto membro de topo do Governo socialista a ser constituído arguido num total de 14 demissões, devido a polémicas ao longo destes quatro anos.

O escândalo maior está na falta de importância que o Governo atribui a mais um caso, depois dos recentes casos de nomeações familiares para vários cargos do Estado. Em qualquer outro país da União Europeia o escândalo levaria ao pedido de demissão do ministro da tutela e a uma explicação profunda do primeiro-ministro no Parlamento.

E não é por estarmos em campanha eleitoral e pelos deputados estarem ausentes do Parlamento que este não pode reunir para um aceso debate. Bastaria a oposição querer fazê-lo. Poderia acionar mecanismos de emergência, tais como os que existem para o período de férias de verão. A legislatura ainda não acabou e o Parlamento deveria debater o assunto, assim como os constitucionalistas já deveriam ter vindo a terreiro exigir esse mesmo debate.

Mas não, e António Costa vai fugir ao dito por entre os pingos da chuva. E nada acontece! A conclusão é que esta é uma aldeia “rosa”. Por muito que Rui Rio, o líder do PSD, possa ganhar um ou dois debates, por muito que Passos Coelho siga a vida académica e trate de assuntos pessoais, por muito que Luís Montenegro estude hoje no Insead e amanhã em Harvard, por muitos jantares que Miguel Morgado faça e muitos artigos de opinião que Miguel Pinto Luz escreva, o PSD não conseguirá regressar ao poder e aí permanecer duas ou três legislaturas sem uma estratégia de comunicação e uma estratégia para o empresariado português. O PS já lá está e vai ficar por lá a dominar e gerir a sua “aldeia”.