A recente notícia de que o Montepio irá cortar 800 postos de trabalho não é, afinal, uma novidade. Desde há anos que ouvimos falar de bancos com centenas de balcões que se tornaram digitais, mas também ouvimos falar das comissões e das iniciativas parlamentares para acabar com essas mesmas comissões bancárias, tal como sabemos que há custos para operações que as plataformas executam gratuitamente.

Afinal, nada de novo para quem não enfiou a cabeça na areia. Pelo andamento do negócio bancário, é bem possível que dentro de cinco anos os funcionários estejam reduzidos a metade, relativamente ao dia de hoje, assim como o número de balcões, ou menos ainda. É a nova banca e o movimento é irreversível.

Para se compreender o futuro é preciso recuar 50 anos e perceber como no final dos anos 60 havia 996 balcões, destacando-se o BNU e a Caixa com menos de 100 balcões cada, sendo que existiam seis mil correspondentes que faziam a capilaridade total do país. Mais. Atendiam até às 22 horas e aos fins de semana, logo, com um melhor atendimento. Mais. Faziam as operações que lhes permitiam pagar custos e obter margens. O banco que representavam ia buscar o negócio e o lucro com custos reduzidos.

O ano de 75 e a ascensão ao poder dos sindicatos, do poder político e a nacionalização criou a necessidade de acabar com os agentes e de abrir balcões por todo o país como cogumelos. Evitava-se que os correspondentes que canalizavam 90% do negócio bancário acabassem a “sabotar” as “conquistas” revolucionárias. O resultado foi uma banca pesada, com os custos a repassarem todos para as instituições. O clímax desta opção política ocorreu em 2005, com seis mil agências bancárias e perto de 60 mil quadros bancários, contra os 10 mil funcionários uns anos antes.

A distorção no mercado instalou-se. E aquilo que ao longo deste milénio foi a evolução para bancos digitais mais não é do que a correção de erros vários. ATM e digitalização foram o grande salto mas, nos últimos anos, são as plataformas conhecidas como GAFA, onde pontua a Amazon, que concentram a maior parte do dinheiro em circulação no mundo. E é a partir daqui que ganham dinheiro.

E não se diga que todos fizeram o mesmo na Europa. Não. Em Espanha continuou a existir a figura dos agentes bancários nos “pueblos”, tendo-se privilegiado o “cost to income” que em Portugal esteve nos 66% de média durante muito tempo, e em Espanha sempre se fixou nos 42%. O resultado é a situação atual de bancos espanhóis com potencial e poder, e a banca nacional com acionistas nacionais reduzida à Caixa e ao Crédito Agrícola.

A Europa ajudou à festa e o sistema de bancos centrais optou por sufocar bancos e clientes com burocracia, tudo em nome de uma melhor supervisão. Mas tudo o que fez foi afastar os clientes dos bancos.

No fundo, isto tem sido um convite aos clientes para saírem dos bancos, com destaque para os jovens da geração X e Y, que aceitaram fazer parte da horda de clientes dos operadores e plataformas que se livraram de uma regulamentação asfixiante e burocracia total. O mundo vive de transferências e pagamentos sem risco, que pagam comissões e oferecem um float que é rentabilizado através do crédito ao consumo. E tudo passa ao lado dos bancos. Nas antigas instituições ficou pessoal, instalações, depósitos e burocracia.