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A crise na Venezuela também passa pelo subsolo

O país tem as maiores reservas de “ouro negro” do mundo mas as sanções de Trump aumentaram a pressão na petrolífera estatal, a PDVSA.
24 Fevereiro 2019, 12h00

A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo. Um litro de super, a mais usada, custa 0,01 dólares por litro (0,009 euros). Para se ter um termo de comparação, os habitantes sabem que um litro de combustível é vinte vezes mais barato do que uma garrafa de água pequena. De acordo com o site GlobalPetrolPrices, Sudão, Irão, Koweit, Argélia, Nigéria e Egito são os outros países, após a Venezuela, com a gasolina mais barata.

Em janeiro, para apoiar Guaidó, a administração norte-americana de Donald Trump aplicou sanções à petrolífera estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA). As sanções congelaram todos os recursos que a petrolífera venezuelana tem no território norte-americano e proibiu os cidadãos e empresas norte-americanas de se relacionarem com a PDVSA.

A Venezuela precisa desesperadamente de vender o “ouro negro” aos Estados Unidos. Segundo a agência Reuters, em janeiro, a Venezuela produziu 1,17 milhões de barris diários. Em novembro de 2018, de acordo com as contas da Administração de Informação de Energia, chegavam aos EUA 560 mil barris de petróleo da Venezuela todos os dias.

Agora o tempo é desespero. A Venezuela envia à Rússia e à China 450 mil barris todos os dias, mas não pode cobrar nada em troca porque o regime de Nicolás Maduro envia petróleo a estes dois países como pagamento em espécie pelo financiamentos que os russos e os chineses lhe concederam.

Antes do agravamento da crise, a alta produção de petróleo e o baixo preço da gasolina influenciava o dia-a-dia dos venezuelanos. A começar pelo tráfego. O trânsito na cidade é caótico e carros de marca Toyota, Chevrolet ou Hyundai têm, no mínimo, 1.900 de cilindrada.

Às seis da manhã, as filas eram caóticas em todos os acessos da capital. Para piorar ainda mais a situação, muitos condutores estacionavam os carros na berma da estrada para ir ao banco, à padaria ou até comprar o jornal. A esta hora, o ponteiro que controla a velocidade dos automóveis quase não mexia: 1,2 quilómetros por hora era a velocidade máxima a que se conseguia circular na Avenida Francisco de Miranda, uma das principais de Caracas.

A decisão de aumentar o preço do combustível sempre provocou reações fortes por parte da população. No dia 27 de fevereiro de 1989, data que ficou conhecida como o “Caracazo”, o governo do presidente Carlos Andrés Perez anunciou uma série de medidas anti-populares para conter a crise económica do país. Uma delas foi o aumento do preço da gasolina.

Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar. Os conflitos duraram cinco dias e morreram mais de mil pessoas. Em 2002, temeu-se que acontecesse o mesmo. O presidente Hugo Chávez decidiu demitir os gestores da PDVSA e substituí-los por pessoas da sua confiança. Em protesto, e para tentar forçar a queda do presidente, os opositores convocaram uma greve geral de trabalhadores. Como consequência, metade dos poços do país ficaram paralisados.

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