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“A economia nacional não é sustentável sem o turismo”

Apesar do crescimento do número de turistas e dormidas ter desacelerado, o setor é cada vez mais importante para a balança comercial, salienta Francisco Calheiros. A situação do aeroporto “é inexplicável”, afirma.
  • Cristina Bernardo
30 Setembro 2018, 09h00

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, é o convidado desta semana do programa Decisores, nesta edição apresentado por Alexandra Almeida Ferreira, transmitido hoje, às 11h00, no site e nas redes sociais do Jornal Económico.

O número de turistas britânicos que visitaram Portugal baixou entre 6% e 7% no primeiro semestre quando comparado com o mesmo período de 2017. Apesar de a tendência ser “preocupante”, Calheiros sublinha que as receitas do turismo em Portugal ascenderam aos sete mil milhões de euros no primeiro semestre de 2018, um crescimento de 14%, em termos homólogos.

A razão do aumento da receita numa altura em que as dormidas e o número de turistas estagnaram explica-se porque os turistas gastam mais diariamente, diz o presidente da CTP.

E, com a conquista de outros mercados, Portugal conseguiu mitigar a quebra do mercado britânico, que era previsível por causa do Brexit e da desvalorização da libra esterlina. “Países como o Brasil os EUA, o Canadá e a China, cujos turistas têm uma estadia maior e gastam mais [são] a razão pela qual a receita aumentou”.

O presidente da CTP espera que, até ao final do ano, as receitas do turismo cresçam até aos 15 mil milhões de euros, porque o “segundo semestre é um pouco mais forte que o primeiro”. Mas, para Calheiros, o destaque vai para o saldo da balança comercial do setor que, depois de deduzida a despesa, gera riqueza no valor de 11 mil milhões de euros.

“Isso é que é importante”. Calheiros contraria alguns críticos, dizendo que “a economia portuguesa não é sustentável sem o turismo”, relembrando que o turismo, nos últimos três anos, deu emprego a cerca de 60 mil pessoas.

Apesar do panorama positivo, Calheiros quer ver resolvidas determinadas situações que têm impacto na competitividade do turismo.

Em relação à ‘taxa Robles’, alcunha dada à proposta do Bloco de Esquerda para colocar um travão à especulação imobiliária, Calheiros partilha da opinião do primeiro-ministro e diz que “a taxa não vai existir nunca” e argumenta que é essencial não beliscar a estabilidade do investimento estrangeiro.

Já em relação ao Orçamento do Estado para 2019, o presidente da CTP quer ver uma maior aposta na promoção turística nacional que “tem diminuido todos os anos”, numa altura de estagnação no número de dormidas.

Sugere ainda revisão do IVA do golfe que, com uma taxa de 23%, não consegue competir com a Turquia.

Sobre o aeroporto de Lisboa, devido ao crescimento do setor de quase 50% entre 2012 e 2017, considera “evidente haver alguns estrangulamentos” e que encerra “um custo de oportunidade enorme”.

“Na melhor das hipóteses, estamos a falar em 2022 – e eu não acredito. Se a questão [do aeroporto] resvalar para 2023, estamos a falar de um período de quatro a cinco anos cujo único aeroporto continua a ser o da Portela”.

Questionado sobre o nível salarial dos trabalhadores do setor do turismo, Calheiros defende que esta atividade “tem, contrariamente a outras atividades, uma grande dose de pessoas pouco qualificadas”, mas que “são igualmente importantes” que as pessoas com um nível de educação mais elevado.  Embora defenda que parte da riqueza gerada pelo turismo deveria reverter para quem trabalha na indústria, o presidente da CTP revela “que há muitos anos que a contratação coletiva no turismo não estava tão dinâmica como agora”.   Dito isto, considera que “é difícil amanhã termos uma [profissional] das limpezas a ganhar dois mil euros por mês”.

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