É o mínimo que se pode exigir. Cumprir serviços mínimos e requisição civil. Este vernáculo entrou na ordem do dia com a greve dos motoristas das matérias perigosas, mas expandiu-se a uma série de actividades, desde a saúde ao ensino e passando pela política.

Hoje o que se diz de Rio é que “não cumpre os serviços mínimos” mas que está de férias antes da rentrée. O Governo, por seu lado, estava em mínimos, mas o primeiro-ministro António Costa aprendeu com a tragédia de Pedrógão e trocou a praia por reuniões do grupo de crise a bem do interesse nacional. O Governo está, claramente, acima dos serviços mínimos com a desproporcionalidade das medidas, mas com a estratégia cilindrada.

O país, diga-se de passagem, também está acima do que lhe era exigível em termos de mínimos, pois o segundo trimestre do ano revelou um crescimento do PIB na ordem de 1,8% e a entrada dos turistas já superou os 12 milhões. Ora, aqui esperava-se um andamento pelos mínimos, o mesmo é dizer que se o número de turistas fosse de crescimento zero em termos homólogos já seria bom. Mas não. O país superou os mínimos.

Voltando aos motoristas de matérias perigosas – desmontaram a prévia preparação do Governo ao cumprirem horários de oito horas – e a toda a política que está envolvida, começa agora a desenhar-se aquilo que será o mais relevante para as eleições dentro de mês e meio. A geringonça está a quebrar e os partidos mais à esquerda estão reféns de uma postura ético-política que não os deixa ser mais “elásticos”.

O PS de Costa está a aproveitar a situação com respostas musculadas. E embora esteja longe de ter ganho a “guerra”, passou bem a mensagem de que aquilo que faz é a bem do país, o que contrasta com uma classe profissional que tem dirigentes sindicais que se mostram absolutamente corretos no cumprimento de obrigações mas que, na prática, têm sindicatos que fazem o contrário.

Mas não nos iludamos, se até agora nos agrada o facto de não haver filas para abastecer e de a generalidade dos postos nas grandes cidades estarem a responder convenientemente. Não sabemos o que poderá acontecer quando houver uma luta sindical do género nos portos nacionais, ou no caso do pessoal de terra ou de cabine nos aeroportos, ou do pessoal da área da saúde ou mesmo das forças de segurança. Será que os envolvidos nas lutas sindicais vão continuar a achar graça à requisição civil preventiva? Possivelmente não e há sempre o reverso da moeda.

É durante a “silly season”, com o depósito atestado e a despensa lá de casa bem nutrida, que devemos estar atentos àquilo que os políticos vão prometer na rentrée. Por enquanto, o foco que esteve nos incêndios florestais e passou para a crise energética, a par do clima que nos engana com a promessa de bons momentos de praia, continua a desviar a nossa atenção de temas verdadeiramente fundamentais. Vem aí mais uma legislatura de quatro anos. A Europa está a mudar politicamente. Portugal irá manter o mesmo governo, mas próximo de uma maioria absoluta e convicto que a indústria do turismo não vai acabar.

Será que estamos em contraciclo e não sabemos?