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“A gestão de risco tem vindo a assumir um papel crescente nas empresas”

Jorge Luzzi, CEO da RCG, diz que “todas as empresas, incluindo as PME, necessitam de avaliar os riscos a que estão expostas e delinear estratégias de mitigação ou de transferência.
3 Novembro 2018, 20h00

O que significa para uma empresa ter um correto planeamento dos riscos inerentes à sua atividade?

A gestão de risco é fulcral para as empresas e deverá fazer parte da sua estratégia. Todas as empresas necessitam de definir uma política de gestão de risco que proteja os seus ativos e a sustentabilidade da atividade, qualquer que seja a sua dimensão ou âmbito geográfico. Assim, um correto planeamento dos riscos implica o estudo dos vários riscos a que empresa se encontra exposta, nomeadamente patrimoniais, reputação, cadeias de abastecimento, pessoas, etc., e a definição e implementação de medidas de minimização e mitigação dos mesmos.

 

Pode uma seguradora responder por todos os riscos imagináveis que uma empresa pode sofrer?

As empresas estão expostas a um elevado número de riscos no seu dia-a-dia. Alguns deles são seguráveis, ou seja, passiveis de serem transferidos para as seguradoras em troca do pagamento de um prémio. No entanto, há outros que não o são.

Entre os riscos transferíveis estão os relacionados com danos à propriedade, lucros cessantes, a responsabilidade civil, os acidentes de trabalho, etc. No entanto, há outros riscos que não são facilmente transferíveis em mercados tradicionais, como por exemplo, os riscos reputacionais, a deterioração de produtos ou mesmo a perda de “colaboradores-chave” na empresa. De realçar que o mercado segurador está atento às mudanças e tem desenvolvido soluções que procuram dar respostas a estes novos desafios.

Contudo, todos os riscos, seguráveis ou não, devem ser analisados e tratados minuciosamente para que o seu impacto não destrua a atividade empresarial.

Daquilo que conhece das empresas portuguesas, está a respetiva gestão sensibilizada para a necessidade de existir um trabalho a nível da gestão do risco?

A gestão de risco tem vindo a assumir um papel crescente nas empresas, mesmo ao nível estratégico. Em Portugal as empresas seguem esta tendência, mas existe ainda um vasto espaço de melhoria, nomeadamente porque ainda falta uma visão integrada da gestão de risco alinhada com os objetivos estratégicos e operacionais da organização.

Os empresários portugueses estão conscientes da necessidade de implementar uma correta política de gestão de risco, no entanto muitos deles não o fazem da forma mais correta, seja por falta de know-how técnico ou experiência, ou mesmo, por não estarem disponíveis no mercado nacional soluções inovadoras e adequadas.

 

É possível uma solução a nível de risk management para uma PME em Portugal? Os custos são absorvíveis?

Todas as empresas, independentemente da sua dimensão, necessitam de avaliar cuidadosamente os riscos a que estão expostas e delinear estratégias de mitigação e/ou transferência. As grandes empresas e as multinacionais têm já gestores de risco nas suas equipas, contando ainda com o apoio de empresas de consultoria em gestão de risco que complementam o trabalho desenvolvido internamente.

No caso das PME, dado que os recursos internos – humanos e financeiros – são muitas das vezes limitados, não é habitual terem nos quadros um gestor de riscos profissional, pelo que optam por externalizar este tipo de serviço a empresas especializadas em consultoria de risco e Enterprise Risk Management (ERM), como é o caso da RCG – Risk Consulting Group.

Esta solução permite às empresas clientes o acompanhamento permanente por parte de uma equipa de especialistas, que conta com um profundo conhecimento da realidade de cada empresa e e que está numa constante atualização de conhecimentos e boas práticas, beneficiando também da disponibilização de software state of the art que facilita a gestão de risco.

 

E para as empresas multinacionais faz sentido uma cobertura a nível global, ou apenas local e dependente das regiões onde se insere?

A gestão de risco tem uma componente técnica que não varia consoante a geografia.

No caso das empresas multinacionais, a complexidade da análise é acrescida e deverá ser acautelada uma política transversal a todos os mercados – coerente, centralizada e controlada.

No entanto, cada mercado acarreta novos desafios decorrentes de um ambiente económico, social, legal e regulatório e político específico. Consultores como a MDS, com um vasto know-how e acesso a informação detalhada e atualizada de cada mercado, podem ajudar as empresas a minimizar riscos, otimizar estratégias e potenciar rendimentos.

Um programa global assegura o cumprimento da regulamentação de cada país, a integridade e uniformidade das coberturas, um maior controlo da gestão e uma maior eficiência de custos em virtude do aumento do poder negocial.

 

Existem empresas de grande dimensão em Portugal com capacidade para criar e/ou manter uma cativa? Que vantagens poderiam ter?

Sim, existem empresas portuguesas com capacidade de criar uma cativa e, de facto, algumas já o fizeram. As vantagens são muitas e variam de acordo com as características da empresa. Por exemplo, uma multinacional portuguesa com presença noutros países pode ter a vantagem de gerir de forma conjunta os seus riscos em todo o mundo através da emissão local de apólices primárias nos termos da lei dos países onde opere e da colocação em resseguro na cativa de todas suas operações mundiais. Isto permitirá que a multinacional portuguesa retenha o correspondente ao seu apetite de risco e faça retrocessões (resseguro de resseguradores) dos montantes que não queira reter, mas tendo desta forma um acesso direto ao mercado de resseguros. Mas a cativa é também é uma solução conveniente para empresas sem operações fora de Portugal já que, através da cativa, podem participar nos resultados positivos de sinistralidade para investir na mitigação do seu risco, contribuindo assim para a sua melhoria. No fim do dia, a cativa cria um círculo virtuoso que permite à empresa melhorar a qualidade do seu próprio risco.

 

Que análise faz a RCG da gestão do risco em Portugal? Quais os tipos de empresas e o tipo de gestão que demonstra mais sensibilidade para este tema?

Todas as empresas deveriam ter um princípio de gestão de riscos para assegurar a sua permanência no tempo. No caso das de maior dimensão, criando a sua própria estrutura com a ajuda de empresas especializadas como a RCG e, no caso das PME, subcontratando serviços especializados. Mas o mais importante em todos os casos é que este tem de ser um trabalho conjunto com o “Risk Owner”. Os profissionais de gestão de risco trarão a sua capacidade técnica e experiência, mas estas de nada servirão se a empresa não aplicar as recomendações e não gerar uma cultura de gestão de riscos. Independentemente da experiência de ambas a partes, tem de haver abertura para encarar novas formas de gestão para os riscos emergentes. Num país como Portugal, que tem marcada a sua história por um terrível terremoto (como foi o de Lisboa em 1755) e que enfrenta ouros riscos catastróficos (como por exemplo os incêndios florestais) começam a surgir novos riscos de calamidade que antes pareciam impossíveis. São os casos dos furacões ou da recente tempestade tropical Leslie, da qual resultaram milhares de habitações sem eletricidade, pessoas desalojadas, estradas cortadas, voos cancelados, danos na via pública e árvores caídas, sobretudo nos distritos de Leiria, Coimbra e Lisboa, não esquecendo o facto de ter causado pelo menos 28 feridos. Há alguns anos uma tempestade deste tipo não seria sequer uma possibilidade, mas hoje, com as alterações climáticas, têm de ser tidas em consideração. Aqueles que não o fizerem ficarão sem saber como atuar perante a inevitabilidade dos factos e essa é sempre a pior das opções.

Hoje, a realidade política mundial, a “desglobalização” que implica que mercados importantes se fechem a importações de produtos estrangeiros, a perda de know how ou de “key people” que não se conseguem substituir rapidamente ao mesmo nível, podem afetar seriamente o mundo e Portugal também. As empresas que estiverem melhor preparadas serão têm maior probabilidade de assegurar a sua permanência ao longo do tempo, garantindo a sua sustentabilidade.

 

Quais são os grandes riscos de matriz global que se poderão manifestar em Portugal?

São muitos. Posso destacar alguns menos tradicionais, como as catástrofes naturais ou o risco político em países onde as empresas portuguesas têm fornecedores de matéria-prima ou clientes, pois a alterações nesses mercados vão ter impacto direto na produção.

E, logicamente, podemos agregar também riscos tradicionais, como Incêndio, Perda de Lucros, riscos de logística, responsabilidade civil por exportações a países como os Estados Unidos, Canadá ou outros da União Europeia, etc.

 

O Brexit constitui um risco para as empresas portuguesas que trabalham com esse tipo de clientes? E pode ser segurado?

O Brexit é, antes de mais, um problema sério para a própria Grã-Bretanha, mas não esqueçamos que se trata de uma das grandes economias europeias. O impacto do Brexit tem que ser estudado em função de como será o acordo de saída, ainda que exista o risco de não haver acordo.

Assim, é algo prematuro estimar o impacto, pois pode ser reduzido ou muito considerável. De todas as formas, empresas como o mercado segurador especializado londrino Lloyd’s já planearam uma presença europeia, inclusivamente de forma física, abrindo escritórios em Bruxelas e emitindo nesse mercado antes mesmo de saber como será o acordo. Isto demostra a existência de uma política de gestão de riscos, com o intuito de evitar surpresas de último momento.

 

O risco de terrorismo é relevante para Portugal?

Hoje podemos dizer que Portugal tem um risco muito menor que os principais países europeus. No entanto, é necessário termos presente que há 20 anos o risco de terrorismo era praticamente nulo na Europa e nos Estados Unidos. Era muito elevado na Colômbia (FARC) ou no Peru (Sendero Luminoso) mas praticamente nulo em Nova Iorque, Londres, Paris ou Madrid. Em 2001 tudo se modificou num instante, começando pelas viagens aéreas que de controlos rotineiros passaram a ter medidas rigorosas de segurança para evitar os sequestros ou atentados nos aviões. Hoje os atentados podem suceder em qualquer local: espetáculos de música, de dança, estádios desportivos, metros, comboios, etc.  Em contrapartida o risco de terrorismo na Colômbia diminuiu e no Peru praticamente desapareceu.

Recordo sempre um professor que tive na universidade que nos dizia: se você não tiver acidentes durante anos e acreditar que nunca vai ter, é aí que estará mais perto de sofrer esse acidente. Assim, baseando-nos nos dados do passado podemos dizer que Portugal tem um risco de terrorismo pouco relevante, mas se não atuarmos preventivamente através da implementação de medidas de segurança pode implicar que esse risco se torne mais provável.

 

Os avisos sobre as alterações climáticas estão a ter eco entre os empresários nacionais?

Creio que existe uma maior preocupação, mas ainda não ao nível desejado. A realidade é que as alterações climáticas são cada dia mais evidentes, como vimos recentemente com o furacão Leslie. Uma política séria de gestão de riscos permitirá às empresas estarem mais bem preparadas para este tipo de eventos, com alternativas de fornecedores de matéria-prima e de logística em caso de catástrofes.

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