Segundo o Banco de Portugal, 60% dos pagamentos são efetuados em dinheiro, mas representam apenas 2% do montante global. Ou seja, o dinheiro é muito utilizado, mas em pequenas transações. Dado este peso reduzido, num sistema amplamente dominado pelas transferências bancárias, é discutível a guerra que ainda se faz aos pagamentos em numerário. Mesmo para o Estado, é questionável que se persiga estes pequenos pagamentos.

É do interesse da banca continuar a reduzir a utilização das notas e moedas. O mesmo relatório do BdP conta-nos que os bancos lucram milhões de euros com as operações de pagamentos com cartões e transferências. Já o numerário e os cheques dão prejuízo.

A liberdade de pagar em dinheiro é importante porque entronca no direito à privacidade. Não se trata de um tema de “quem não deve não teme” porque um comportamento pode não ser secreto ou ilegal, mas não tem de ser público ou pesquisável.

Estamos na era da análise de grandes quantidades de dados e perante a emergência das fintech. Quem se preocupa com os problemas de privacidade das redes sociais facilmente compreende a ameaça de todas as nossas decisões de compra se tornarem eletrónicas. Se a guerra ao dinheiro prosseguir, não poderá ser surpreendente se as pessoas procurarem alternativas que as protejam.