1. Há o risco de o Papa Francisco ser afastado do Vaticano. As hordas conservadoras não suportam um padre próximo do homem comum e, sobretudo, do senso comum. EUA e Irlanda são a origem das informações relativas a alegados crimes sexuais praticados ao longo de dezenas de anos por clérigos. Supostamente, tudo foi sendo encoberto. Depois veio a história dos temas fraturantes, lançados numa entrevista dentro do avião papal, e da confusão entre homossexualidade, psiquiatria e crianças.

O que se passa com o Papa Francisco? Melhor, o que se passa dentro da Igreja Católica no mundo? Ou ainda, o que leva a que de uma assentada surjam notícias explosivas por todo o lado e todas confluam para o Sumo Pontífice, como se este fosse o responsável de todos os pecados do mundo? Francisco corre o risco de voltar a ser o Cristo crucificado que quis expiar os pecados do mundo. Também Francisco desafia os poderes do mundo instalados dentro da Igreja, sobretudo os poderes conservadores, fechados e orientados.

O tempo de reflexão do Papa parece não chegar a todos os que, dentro da Igreja Católica, estão sedentos de poder. As denúncias de práticas horríveis feitas ao longo de dezenas de anos estão a convergir em catadupa durante o seu mandato. Antes de si passaram outros Papas que não sofreram estas pressões. Os problemas não são de hoje, existem desde há mais de dois mil anos quando nasceu a Igreja, são de gerações de Papas políticos, corruptos e apenas crentes em bens materiais.

A Igreja Católica sobreviveu dois milénios porque soube gerir o tempo no seu tempo, e o Papa Francisco tem o seu tempo para resolver os assuntos complexos de uma Igreja de mil milhões de crentes. Diferente é acelerar o tempo para empurrar um Papa dos pobres e dos aflitos para o abismo, para a gestão da espuma dos dias. Francisco arrisca o pontificado perante as chusmas dos dirigentes eclesiásticos conservadores que lhe apontam a responsabilidade pelos erros graves de alguns. Se Francisco for afastado, Roma perderá milhões de crentes. Passará a ser de uma elite, palco apenas dos que são infalíveis.

2. Está em marcha, ou não, a recondução da procuradora Joana Marques Vidal. O comentador televisivo Marques Mendes diz que é “óbvia” [a recondução], mas a verdade é que tudo está nas mãos do Presidente da República, já que nos bastidores do PS luta-se por outro nome. Marques Vidal – ao contrário de Pinto Monteiro – parece não ter agradado aos poderes instituídos. Diz Marques Mendes que “se não houver bom senso será uma decisão sempre suspeita”, e nisso tem razão, mas desde há muito que os poderes políticos tentam instrumentalizar a justiça, retirando-lhe credibilidade ou transformando a justiça num instrumento para atingir determinados fins, com a conivência de outros interesses. Lembremos que a atual PGR teve de lidar com dossiês politicamente sensíveis, caso do processo ao ex-primeiro-ministro Sócrates e ao governante angolano Manuel Vicente.