A manifestação pública de que a estrela da direita espanhola, que governa Madrid e reduziu a esquerda e a extrema-esquerda aqui ao lado a uma minoria, manifestou o seu apoio à candidatura de Carlos Moedas, em Lisboa, é um dado político relevante mas que, infelizmente, não irá chegar à generalidade dos eleitores da capital.

Inegável que Carlos Moedas é um economista experimentado, um gestor que provou ser essencial quando foi secretário de Estado de Passos Coelho nos tempos da troika, e um comissário europeu dedicado e que fez obra em Bruxelas, criando até laços com grandes players internacionais da área da ciência e da tecnologia. Mas Moedas não foi o candidato que a direita precisava em Lisboa. É demasiado técnico, hermético e – coisa que funciona contra ele na política de hoje – demasiado bem formado.

Moedas é um homem bom no meio de uma política lisboeta recheada de interesses, processos em tribunal por decisões dúbias da autarquia, alianças políticas contranatura e um apoio completamente declarado do Governo central ao homem preferido do primeiro-ministro para a sua sucessão no PS.

Moedas lutou, qual David contra Golias, estoicamente e contra os interesses instalados mas, indicam todas as sondagens, não chegará lá. Posto isto, o sinal de ter incluído Isabel Díaz Ayuso na sua campanha é relevante, porque nos faz lembrar que não existe alternativa de direita em Portugal, e que poderia ter começado em Lisboa, tal como a alternativa em Espanha começou em Madrid.

Depois destas autárquicas nada ficará como antes, apesar de Rui Rio, o líder do PSD, continuar agarrado ao poder partidário, afinal de contas, a única atividade que desenvolveu praticamente durante toda a sua vida.

Os challengers Paulo Rangel e, quiçá, Luís Montenegro, para além de outsiders como Miguel Pinto Luz, terão que forçar o atual líder do PSD a eleições diretas.

Desde a saída de Passos Coelho que Portugal está sem um líder que consiga aglutinar as várias sensibilidades ao centro-direita, tal como Costa tão bem o faz à esquerda. É quase inegável que apenas existe uma pessoa capaz de semelhante feito. Chama-se Passos Coelho, um líder que facilmente faria o aggiornamento do espaço político do centro para a direita.

O ex-primeiro-ministro tornaria o PSD forte, com o CDS a revitalizar-se, e o Chega e a IL rapidamente iriam esquecer divergências para se juntarem ao bloco de poder liderado pelo ex-PM. Um problema. Mesmo com esta nova dinâmica e com Passos a dar sinais de que é um presente/ausente, porventura o seu regresso não seria suficiente para afastar a esquerda unida do poder.

Quem voltar a pegar na rédeas da direita em Portugal, seja Passos ou um qualquer outro sucedâneo, terá sempre desafios mais importantes para resolver previamente. A economia está de rastos, as empresas encontram-se descapitalizadas, o setor financeiro ainda não recuperou dos anos difíceis, o Estado tem uma dívida pública galopante, os profissionais qualificados continuam a emigrar e, ao contrário do que aconteceu nos anos 80 e 90, não temos uma classe empresarial ativa politicamente, que pense a sociedade no seu todo, que queira investir num projeto alternativo ao Portugal quase soviético onde vivemos.

Com muitos defeitos, há uns anos vários empresários juntaram-se para ajudar programas partidários, para financiar universidades, empresas e projetos de comunicação social, para patrocinar livros e estudos sobre o estado do país. Hoje, esta classe empresarial está no bolso de um grande mestre da política, de seu nome António Costa.