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“A necessidade de agir foi unânime”, diz Christine Lagarde, sobre o reforço da ‘bazuca’

Em conferência de imprensa, Christine Lagarde falou ainda da decisão do Tribunal Constitucional alemão sobre o programa de compra de ativos lançado em 2015. “Estamos confiantes que será encontrada uma boa solução que não irá comprometer a independência do BCE”, referiu.
4 Junho 2020, 15h24

A revisão em baixa das perspectivas sobre a inflação na zona euro criou unanimidade no Conselho de Governadores sobre a necessidade de o Banco Central Europeu (BCE) agir, afirmou a presidente da instituição, Christine Lagarde, explicando que a decisão de aumentar o valor programa de de compra de ativos deveu-se à flexibilidade que este instrumento oferece e que o montante adicional colheu consenso alargado.

O BCE anunciou esta quinta-feira que acrescentou 600 mil milhões de euros ao Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP), o programa de compra de ativos que lançou em março para ajudar a economia e os mercados a enfrentarem os riscos que a pandemia de Covid-19 trouxe para a economia da zona euro.

A medida, anunciada depois da reunião do Conselho de Governadores, aumenta o valor total do programa para 1,35 biliões de euros. A maioria dos analistas esperavam a decisão, mas apontavam para um aumento de 500 mil milhões. O BCE decidiu também prolongar o programa por mais seis meses até junho de 2021,

“O PEPP já demonstrou que é um programa com muito sucesso”, afirmou a francesa, em conferência de imprensa. “Pouco depois de o termos lançado, no dia 18 de março, permitiu-nos evitou a espiral decrescente nos mercados financeiros e reduziu riscos persistentes nessa altura, e sem o qual teriamos estado numa situação seriamente diferente em termos das perspectivas do crescimento e da inflação”.

Lagarde explicou que dois fatores levaram o BCE a reconsiderar o valor total e a duração do programa. O primeiro é que as perspectivas em relação à estabilidade de preços foram afectadas de forma significativa pelas consequências da crise da Covid-19. O BCE reviu em baixa o cenário base da inflação e aponta para uma inflação de 0,3% em 2020, subindo para 0,8% em 2021 e 1,3% para 2022 e Lagarde sublinhou que a anterior projeção para 2022 era de 1,6%.

O segundo fator foi o facto de as condições de financiamento para a zona euro como um todo estarem significativamente piores, numa situação em que a economia precisa de condições mais vantajosas para atingir a estabilidade de preços.

“Posso assegurar que houve uma visão unânime no Conselho de Governadores de que tínhamos de agir perante esse outlook para a inflação e dado o nosso mandato para a estabilidade dos preços”, vincou a presidente do BCE.

Lagarde adiantou que o aumento do valor foi decidido para tornam mais fáceis as condições de financiamento, salvaguardar a transmissão da política monetária para todas as classes de ativos e jurisdições “graças a um aspecto específico do PEPP, que é a flexibilidade”, e “ajudar o BCE retomar o caminho para a rota da inflação pré-Covid”.

Sobre a decisão da escala do aumento, Lagarde explicou que “obviamente houve um debate, mas decidimos de forma colectiva, e houve um consenso alargado sobre a proposta, que 600 mil milhões nos podem levar para significativamente mais perto desse caminho da inflação a níveis pré-Covid e também nos permitem monitorizar como alguns desenvolvimentos importantes vão se desenrolar nos próximos meses e que irão afectar as nossas políticas”.

Em termos do prolongamento do prazo, adiantou que o BCE acredita que até junho de 2021 a inflação terá acelerado de novo e que o banco central poderá ter maior visibilidade sobre a situação.

Lagarde foi questionada sobre se o BCE tinha considerado incluir “junk bonds” ou “fallen angels”, ou seja, ativos cujas notações de crédito tenham caído em território espectaculativo, no programa de compra, mas respondeu de forma curta que o banco central vai continuar a observar a situação, mas adiantou que o tema não tinha sido discutido na reunião.

A decisão do Tribunal Constitucional alemão de classificar como ilegal parte do Public Sector Purchase Programme, o programa ‘convencional’ lançado em 2015 por Mario Draghi, também foi abordado na conferência, por várias. Lagarde ofereceu sempre uma messagem simples.

“Sim, tomamos nota da decisão e estamos confiantes que será encontrada uma boa solução que não irá comprometer a independência do BCE”, disse, recordando ainda que a decisão foi dirigida ao Governo e ao parlamento da Alemanha e não ao BCE.

“O BCE está sujeite à jurisdição do tribunal de justiça da União Europeia, que já classificou o PSPP como estando em linha com o nosso mandato”,  vincou.

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