Presença em 14 países, terceira maior empresa de produção de eletricidade, dez milhões de clientes de energia elétrica, 1,2 milhões de pontos de ligação de gás, 12 mil colaboradores, principal investidor no nosso país e um dos motores da economia e do desenvolvimento nacional. A EDP tem uma importância vital para Portugal e para as suas empresas e cidadãos, que dependem da sua rede de distribuição, e também para os seus clientes internacionais distribuídos por quatro continentes.

Não admira, pois, que seja uma das empresas mais cobiçadas pelos grandes investidores estrangeiros, nomeadamente os chineses, que encontram nela uma via rápida para chegar a mercados europeus como Espanha, França e Itália ou outros como os EUA e Brasil.

Já presente na EDP com 23,27% do capital social, a China Three Gorges, tutelada diretamente pelo governo chinês e consequentemente pelo Partido Comunista, nunca conseguiu disfarçar o interesse em ir mais além na sua participação, concretizando agora o seu desejo com uma OPA, que, a acontecer, lhe permitirá a aquisição de controlo da elétrica.

Obviamente que se trata de um negócio vantajoso para o gigante chinês, que reforça a sua posição no poderoso mercado mundial das utilities. A questão é se o é para Portugal. A resposta não é óbvia e deve ser ponderada. Contrariamente à reação precipitada do nosso Governo – que, horas depois do anúncio, já estava a declarar o seu apoio à operação, sem ter em conta que não podia nem devia reagir antes do mercado, uma vez que não é acionista, optando antes pelo direito de reserva –, é preciso ter em conta algumas fragilidades da proposta e o contexto em que foi apresentada.

O grande ponto crítico é, desde logo, o preço. A China Three Gorges oferece uma contrapartida de 3,26 euros por cada ação, um valor inferior à atual cotação de mercado. O Conselho de Administração da EDP já se pronunciou, considerando que o preço “é baixo e não reflete adequadamente o valor da EDP”, posição também assumida por analistas e investidores. De registar que António Mexia, CEO reeleito em abril último (apenas há um mês), afastou na altura cenários de alteração à estrutura accionista.

Exige-se, pois, ponderação e bom senso na análise a este negócio, que implica o aval de Bruxelas e de países como Espanha, Polónia, Roménia e EUA (neste último, a operação dependerá da aprovação da Comissão para o Investimento Externo, que tem impedido vários negócios que envolvem empresas chinesas).

Da parte do Governo, é de esperar alguma contenção, sobretudo quando é conhecida a ligação indireta do ministro adjunto do primeiro-ministro, Pedro Siza Vieira ao processo da OPA, já que foi o escritório de advogados do qual é sócio a assessorar os chineses no anúncio junto da CMVM.

Veremos, nos próximos dias, os desenvolvimentos deste negócio via OPA sobre a maior empresa nacional, um dos motores da nossa economia, e se o desfecho final é ou não, em poucos anos, passar das mãos do Estado português para as mãos do Estado chinês.