Dentro de 20 anos, advoga Michio Kaku, um dos físicos teóricos mundialmente conhecidos, já não teremos ou falaremos em computadores, porque os atuais “pcs” assumirão a ubiquidade, teremos impressoras 3D que darão vida a tudo o que formos capazes de imaginar, as casas falarão connosco e os automóveis conduzir-nos-ão para onde quisermos. Viveremos mais conectados e com capacidade de comunicarmos em qualquer língua, não teremos intermediários nas transações comerciais e erradicaremos o processo de envelhecimento.

O que nos separa deste futuro, para além do tempo, é o conhecimento que ainda não temos mas que sabemos que iremos, inevitavelmente, adquirir até lá. E trata-se, efectivamente, de uma inevitabilidade, pois rejeitar o conhecimento equivale a autocondenarmo-nos à exclusão e à condição de seres obsoletos, com fracas ou nulas hipóteses de fazemos parte da sociedade do futuro e do que vier a ser o mercado de trabalho nessa sociedade.

Neste futuro, prevê-se que parte dos empregos que conhecemos hoje desapareçam, surgindo outros, forçosamente diferentes, que irão emergir das necessidades que entretanto foram sendo criadas, provocadas pelo próprio avanço tecnológico, e para os quais serão necessárias qualificações novas, inexistentes nos atuais sistemas de educação e formação.

Alguns estudiosos dizem que os primeiros empregos a desaparecer serão os afetos a atividades rotineiras, às quais associamos as qualificações mais baixas, uma vez que esses postos de trabalho poderão ser preenchidos por robôs. Não se pense, contudo, que os empregos afetos a qualificações médias ou superiores não serão afetados. Se os primeiros desaparecerão devido aos robôs, estes últimos sucumbirão devido à inteligência artificial e ninguém garante que isso aconteça apenas depois de os robôs invadirem as fábricas.

Portanto, quer os menos qualificados, quer os mais qualificados serão impelidos a adquirir novas competências, preparando-se para este futuro, sempre num processo contínuo e cumulativo de conhecimento.

Efetivamente, por melhores que os sistemas de educação e formação possam ser, já não é possível preparar alguém para um emprego que dure 40 anos, mas é possível dotá-lo de competências (específicas e transversais) que o ajudem a ser continuamente empregável, ainda que o seu percurso profissional venha a ser feito de transições entre áreas distintas de atividade.

É por isso que, nos últimos anos, quase todos os Estados-membros têm encetado mudanças nos seus sistemas de educação e formação que visam alcançar um perfil de competências compatível com uma vivência condigna no futuro, em todas as suas dimensões: cultural, pessoal, social, cívica e profissional.

Mas não basta que fiquemos à espera que a solução advenha apenas das alterações que forem sendo introduzidas pelos sistemas de educação e formação. Perante a mudança, ditada por uma aceleração digital sem precedentes na História da humanidade, é preciso que a qualificação de todos seja pensada de forma estruturada, pelo menos a médio prazo, envolvendo todos os que dela necessitam ou beneficiam. Refiro-me às estruturas empresariais, aos parceiros sociais e à sociedade civil como um todo.

Se a única solução que temos para enfrentar este novo futuro passa pela qualificação de cada um de nós individualmente e de um todo coletivo que ultrapassa as barreiras fronteiriças, há que envolver todos na construção do nosso maior legado de sempre: o conhecimento. Foi com o conhecimento adquirido e acumulado que construímos o nosso mais precioso património cultural e será também com o conhecimento que nos poderemos preparar para o futuro, ainda que este nos pareça incerto.

Isso mesmo será evidenciado o Fórum Futurália que irá acontecer em Lisboa, no dia 15 de março, no decorrer de um dos mais conceituados eventos que acontece todos os anos no domínio da educação, da formação e do emprego. Este fórum será mais um exemplo do quanto o nosso futuro depende da qualificação e do quanto o futuro da qualificação depende de todos nós.