[weglot_switcher]

“A rodovia é um grande negócio para as financeiras e os bancos”, acusa o presidente da CP

Carlos Gomes Nogueira acredita que a transportadora ferroviária nacional poderá fechar o presente ano com uma subida de de passageiros face as 2017, possivelmente entre os 125 e os 127 milhões de passageiros transportados.
  • Cristina Bernardo
19 Setembro 2018, 07h35

A situação deficitária do setor de transporte ferroviário em Portugal, em particular a situação crítica da CP, tem sido motivo de grande debate em Portugal nas últimas semanas, originado até duas audições prolongadas na Assembleia da República, quer ao presidente da CP, quer ao ministro da tutela setorial, Pedro Marques.

O Jornal Económico inicia hoje uma série de trabalhos com análises inéditas sobre o setor da ferrovia em Portugal, que passaram despercebidas nas audições parlamentares a estes dois responsáveis e que poderão trazer aos nossos leitores uma nova luz sobre a realidade deste modo de transporte em Portugal.

“O estado a que se chegou, quer no se refere a infraestruturas, quer no que se refere a material circulante, é suficientemente conhecido de todos nós, de quem acompanha minimamente este setor. E o estado a que se chegou é fruto de uma aposta de sucessivos governos no modo rodoviário. Estradas, autoestradas, IP [Itinerários Principais] e IC [Itinerários Complementares]. Autocarros para transportar passageiros, camiões TIR para transportar mercadorias e a aposta no transporte individual”, sublinhou Carlos Gomes Nogueira, presidente da CP, na audição que prestou na Comissão Parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas.

O presidente da CP acusou mesmo que a aposta no setor rodoviário em Portugal é, ou foi um “grande negócio para as financeiras e para os bancos, a aposta no transporte individual”.

“Portanto, a situação a que se chegou em termos de ferrovia é o abandono durante décadas em matéria de falta de investimento tempestivo. E isto não se corrige de um momento para o outro, como iremos ver. O país, como um todo, tem de enfrentar esta questão. E tem de perceber se querem fazer de facto, uma aposta no modo de transporte ferroviário. É disso que se trata”, defendeu Carlos Gomes Nogueira.

Depois de explicar que, “quando se fala de ferrovia, há aqui uma relação muito importante, sem a qual não há modo de transporte ferroviário, que é a infraestrutura e o material circulante”.

“E, como sabem, a CP tem uma missão que é transportar passageiros. E, portanto, tem material circulante para assegurar a mobilidade dos passageiros, dos cidadãos. Há outros operadores ferroviários em Portugal. Mais um de passageiros,  mais dois de mercadorias. A CP só tem material circulante para transportar passageiros”.

Mesmo assim, “com todas essas restrições, a CP tem vindo a crescer em termos de passageiros transportados”.

“De facto, a procura não falta, o que falta é a disponibilidade do material circulante para responder à procura. Desde 2015, para não ir muito mais atrás. Desde 2015 até 2017, transportámos mais 10 milhões de passageiros. Transportámos no ano passado 122 milhões de passageiros. Em 2015, à volta de 112 milhões de passageiros, em 2017 cerca de 122 milhões de passageiros. Um crescimento significativo e sustentado nos últimos anos. Também o primeiro semestre de 2018 em relação ao período homólogo do ano anterior, registámos um crescimento de mais 3%. Atingimos, no primeiro semestre, entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2018, 62 milhões de passageiros transportados”, revelou Carlos Gomes Nogueira nessa audição parlamentar.

O presidente da CP acrescentou que, “projetando esta tendência, mas o segundo semestre será melhor que o primeiro, atingiremos facilmente os 125 milhões de faturação, talvez mesmo os 126 ou 127 milhões de passageiros”.

“Estou a ser muito realista nestas previsões”, garantiu Carlos Gomes Nogueira.

Este responsável anunciou ainda que o volume de faturação da empresa, “um fator importante para dependermos menos do Orçamento de Estado e das finanças públicas”, foi de 250 milhões de euros em 2017 na rubrica de receitas de tráfego. “Em 2016, tínhamos ficado pelos 230,4 milhões de euros”, relembrou.

“No primeiro semestre deste ano, comparativamente com o primeiro semestre de 2017, crescemos 5,1% em termos de receita, com uma faturação de 124,7 milhões de euros”, adiantou Carlos Gomes Nogueira.

O presidente da transportadora ferroviária nacional revelou ainda que a CP realizou no ano passado 445 mil comboios, a que corresponde uma média de 1.415 comboios por dia útil.

“No primeiro semestre deste ano, não obstante algumas restrições, que não vou escamotear, em termos de disponibilidade de material circulante, estamos alinhados com o mesmo número de comboios realizados no ano anterior”, assegurou Carlos Gomes Nogueira.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.