O Governo aprovou no passado dia 26 de outubro mais uma dotação extraordinária para os Hospitais E.P.E. no montante de 500 milhões de euros. Este facto tem vindo a acontecer de forma cíclica e transversal às últimas legislaturas e está associado ao deficit crónico destas instituições de saúde.

As organizações hospitalares têm fortes pressões orçamentais que se manifestam, necessariamente, em problemas clínicos: maiores taxas de mortalidade e infeção, aumento de tempos de espera nas urgências e nas cirurgias programadas, maiores demoras médias e maior rotatividade e dificuldade na retenção dos quadros clínicos… com consequente deterioração dos resultados em saúde.

Quando trabalhamos com prestadores de saúde em temáticas de sustentabilidade há normalmente duas questões que costumamos endereçar, dependendo da situação concreta de cada prestador. A primeira é: como manter a atividade fazendo face a um envelope orçamental ou estrutura de custos menor? A segunda é: como maximizar a atividade mantendo o envelope orçamental ou a estrutura de custos?

Vários estudos internacionais apontam o sector da saúde como sendo um dos menos produtivos e com elevados índices de desperdícios de recursos. O Darmouth Institute afirma que 30% dos gastos clínicos do Medicare podem ser evitados sem afetar os resultados em saúde.

O desperdício existe em variadíssimos pontos da cadeia de valor, por exemplo: i) subuso ou sobre uso de elementos de tratamento como antibióticos ou agentes anestéticos; ii) reduzidas utilizações de salas de bloco operatório; iii) elevadas taxas de faltas a consultas médicas; iv) enorme variação de preços unitários de consumíveis e de gama de fornecedores; e v) enorme variabilidade na prática clínica incluindo no seio das mesmas equipas e serviços.

O fator comportamental é sem dúvida uma das maiores causas de desperdício, o que naturalmente torna complexo endereçar o tema e obter resultados imediatos. Mas existem vários casos de estudo bem-sucedidos de melhoria e otimização da performance de prestadores com programas estruturados e plurianuais de iniciativas que endereçam os vários focos de desperdício e em que se conseguem resultados tangíveis.

O advento do digital traz novas oportunidades, nomeadamente a utilização de inteligência artificial no desenvolvimento de algoritmos de otimização e tecnologias de robotic process automation em processos não clínicos como o agendamento de consultas ou cirurgias.

É endereçando estas fontes de desperdício que verdadeiramente se constroem alicerces sustentáveis e se evita a solução de remediação de pagamentos cíclicos de dívida acumulada.

As duas questões acima são diferentes na sua essência, mas a sua resposta é crítica para a sustentabilidade do setor, não apenas nos próximos anos, mas considerando um horizonte de uma geração.