Depois da Cimpor, do BES e da PT (que deixou de ser uma blue chip e é agora um veículo chamado Pharol), em breve sairá de cena outro título emblemático do índice PS20, o BPI.

O verdadeiro problema não é a saída do BPI, que constitui um movimento natural num mercado que se quer dinâmico. Até porque a bolsa cumpriu o seu papel no que diz respeito ao BPI e aos seus acionistas. Ao longo de décadas, o banco financiou-se no mercado de capitais, levantando os recursos de que necessitava para crescer, até se tornar apetecível para vários potenciais compradores. E foi no mercado de capitais que os acionistas do BPI tiveram oportunidade de vender as suas ações ao CaixaBank. Logo, missão cumprida.

O que nos deve preocupar é antes por que razão não há muitas empresas portuguesas a quererem seguir o exemplo do BPI, utilizando a bolsa para financiar o seu crescimento e criar valor para os acionistas. Até porque a bolsa portuguesa é demasiado pequena face à dimensão da economia. E isto deve-nos preocupar porque quanto mais dinâmico for o mercado de capitais, melhor será a gestão das empresas, contribuindo para a competitividade da economia e para tornar Portugal mais atrativo para aqueles investidores que valorizam a boa gestão, o rigor e a transparência.

Pois é também de falta de transparência que se fala, quando se explica a resistência à entrada em bolsa. Afinal, para quê cumprir as regras de transparência e sujeitar-se ao escrutínio dos investidores, dos media e dos supervisores, se for mais fácil entregar uma qualquer garantia para obter um financiamento bancário? Para quê ter dores de cabeça com supervisores e auditores, se for mais eficaz meter uma “cunha” junto de um político ou de um “facilitador” com influência em certos bancos?

É certo que esta relutância deve-se também a factores como a crónica escassez de capital em Portugal e os custos que as cotadas têm de suportar, pois não é qualquer empresa que tem condições materiais para entrar em bolsa.

Cada caso é um caso, mas não tenhamos ilusões, em Portugal gostamos pouco de partilhar o controlo e de prestar contas. E, para alguns empresários, a bolsa só interessa se servir para vender ações a preços altos e logo de seguida as poder recomprar com desconto, tirando proveito da iliteracia financeira da população e de práticas comerciais agressivas estimuladas por incentivos errados.

Os sucessivos governos têm a sua quota de responsabilidade. O seu crónico desinteresse pela bolsa é inversamente proporcional à preocupação com os problemas da banca. António Costa apressou-se a criar uma plataforma para gerir o crédito malparado – apesar de os principais bancos serem perfeitamente capazes de resolver sozinhos a maior parte do problema – mas até agora não houve o mesmo cuidado com a dinamização do mercado de capitais.

Nos EUA, uma empresa cotada em bolsa é considerada “pública” (public company), dado que se considera aberta ao público. Em Portugal, quando se fala em investir em ações, diz-se “jogar na bolsa”. Isto diz tudo sobre o desconhecimento sobre a bolsa e o papel que esta poderia desempenhar no desenvolvimento do País. Resta esperar que o próximo Orçamento ajude a inverter esta tendência.