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Abel Matos Santos: “Os deputados que não jurarem lealdade à nova liderança do CDS-PP, deverão sair”

O candidato à liderança do CDS-PP Abel Matos Santos defende que a nova direção do CDS-PP “não pode ter nada de continuidade” porque a estratégia da atual direção em colocar o partido ao centro levou ao “desaire eleitoral de outubro”. Em entrevista ao Jornal Económico, Abel Matos Santos diz que o CDS-PP “não pode ser um PSD pequenino ou um partido de centro-esquerda” e não deve ter “vergonha ou complexos” em se afirmar de direita. Compromete-se a “arrumar a casa” e tornar o CDS-PP mais transparente e “a grande casa da direita em Portugal”.
23 Janeiro 2020, 07h43

O que é que falhou nas eleições legislativas de outubro?

Em primeiro lugar, o desaire eleitoral de outubro é o resultado acumulado de vários erros anteriores que já se tinha visto nas Europeias. Essencialmente, o caminho e as escolhas dos últimos anos levaram o CDS a perder a sua identidade, a deixar de ser um Partido de causas, valores e princípios, com um discurso claro e afirmativo, na defesa das suas bandeiras de sempre e na defesa das preocupações do seu eleitorado. A juntar a isto, uma má comunicação e um desligamento total das bases, dos militantes e das estruturas locais, tornando a líder e a direção distantes e sem sintonia com o Partido e o eleitorado. Cristas e a sua direção ao posicionarem o CDS ao centro, numa deriva de agradar a todos, abandonou a Direita e perdeu espaço e influência.

Como é que o partido se pode reerguer?

Com uma mudança clara de posicionamento político e de direção. O CDS não pode ser um PSD pequenino ou um Partido de centro-esquerda.  Temos de refundar o CDS assente na sua doutrina e como um Partido sem vergonha ou complexos de se assumir de Direita.

Qual será a primeira medida que vai tomar, caso seja eleito presidente do CDS-PP?

No estado em que o CDS se encontra são necessárias muitas primeiras medidas. A nível interno, uma auditoria exaustiva às contas do Partido e uma verdadeira reforma que respeite os funcionários e torne o partido digital e moderno, maximizando os seus recursos. A nível externo, criar condições para que possamos ser a grande casa da Direita em Portugal. Temos de dar cartas na defesa daquilo que são as aspirações dos portugueses e do nosso eleitorado.  Isso não se pode fazer com cedências à Esquerda nem ao politicamente correto. Combater a pobreza, criar um Sistema Nacional de Saúde que integre público, privados e sociais, colocar a Escola como um meio de alcançar excelência, um espaço onde se ensina e não se doutrina, porque quem deve educar são as famílias e os pais. E assumir um combate sem tréguas à corrupção e aos atrasos na justiça.

Assunção Cristas fez bem em deixar a liderança do CDS-PP? Vai ter algum lugar nos órgãos nacionais do partido com a sua direção?

Era a única atitude que poderia ter tido, dado os maus resultados que teve e pelo facto de ter ao longo dos anos, obstinadamente, decidido manter a sua estratégia e da sua direção. Nunca nos ouviu. Entendo que uma nova direção não pode ter nada de continuidade, esse caminho falhou. É preciso futuro e uma nova forma de afirmar o CDS e a direita, com novos protagonistas. A nova direção tem de ser um grupo coeso e bem esclarecido no que diz respeito ao pensamento a que subjazem todas as decisões políticas, nesse sentido só faz sentido ter lugar quem pensar e estiver alinhado com o novo líder. Assunção Cristas não fará seguramente parte. A continuidade até pode ter 100% no Congresso mas os eleitores, os portugueses, não lhe darão nem mais um voto do que nas últimas eleições, aliás até lhe darão menos.

Qual a relação que manterá com o grupo parlamentar?

O grupo parlamentar tem de ser de uma lealdade absoluta. Se não for assim, os deputados que não jurarem lealdade à nova liderança, deverão sair. São os deputados eleitos pelo CDS e é com eles que temos de trabalhar. Agora não podem ser um instrumento de bloqueio da nova direção legitimamente eleita em congresso.

Que estratégia política vai seguir em relação aos restantes partidos, à esquerda e à direita?

Um Partido humanista e personalista tem de saber dialogar com todos, da esquerda à direita. Temos de contribuir para boas soluções e práticas governativas, mas acima de tudo temos de conquistar a abstenção e os portugueses para termos mais peso e força parlamentar. Temos de contribuir para fazer crescer a direita em Portugal, ganhando credibilidade, arrumando a casa e tornando transparente toda a atividade do CDS, política mas também financeira e de gestão.

Admite a possibilidade de acordos com outros partidos à direita. Quais?

Claro que sim, nós não podemos estar fechados a essas possibilidades. No entanto, o fundamental agora é pensar em tirar o CDS na sua maior crise, regenerar o partido e devolver aos portugueses atitudes e medidas que os levem a confiar de novo em nós.

Aceitaria formar uma espécie de ‘geringonça’ com outro dos candidatos à liderança do CDS-PP para conseguir derrubar algum candidato?

É normal nos congressos fazerem-se alianças e acordos, tudo isso é normal. Agora, se uma moção ganhar, que é o programa que o partido terá de fazer cumprir nos próximos dois anos, o normal e desejável é que o primeiro subscritor dessa moção vencedora seja o novo líder do CDS. E isso, eu respeitarei e espero que todos os outros o façam.

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