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Agência Internacional de Energia quer reunião do G20, “em breve”, para debater crise do petróleo

Uma reunião do G20 – presidido pela Arábia Saudita -, a realizar dentro de muito pouco tempo, é a proposta da Agência Internacional da Energia (AIE), para avaliar o “mais feroz” choque petrolífero, provocado pela crise da pandemia global da Covid-19. Como a pandemia mundial é tão dramática, a AIE diz que vai criar um “hub” de dados, especializado nos efeitos económicos da tragédia que afeta o mundo inteiro.
  • Sergei Karpukhin/Reuters
7 Abril 2020, 08h03

“Nenhum choque petrolífero mundial foi até hoje tão feroz como o que está agora a atingir a indústria do petróleo”. É desta forma que a Agência Internacional de Energia (AIE), dirigida pelo economista turco Fatih Birol, manifesta “a preocupação perante a atual situação do mercado de petróleo, com todas as implicações negativas que tem para a estabilidade da economia global”, refere a última newsletter da instituição sediada em Paris. No sentido de “encontrar um caminho que proporcione soluções”, nos últimos dias, o diretor executivo da AIE, vem discutindo a situação “com ministros da Energia dos EUA, do Canadá, da Arábia Saudita, do Brasil, do Iraque e da Índia, além de debates com altos funcionários de outros países relevantes”. Para já, e de forma a promover um diálogo construtivo, a AIE pediu que este debate seja alargado a todos os países produtores e consumidores de petróleo no âmbito da próxima reunião do G20, cuja presidência está atualmente a cargo da Arábia Saudita.

Ainda antes do suposto encontro que russos e sauditas deverão manter na OPEP+, na próxima quinta-feira, 9 de abril, no mesmo sentido, o secretário de Energia dos EUA, Dan Brouillette, e o ministro da Energia da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, já tinham acordado em continuar as conversações sobre as estratégias a seguir para reequilibrar o mercado petrolífero na próxima reunião de ministros de energia do G20, a realizar “em breve”.

Dan Brouillette disse que “o que começou como uma disputa entre a Arábia Saudita e a Rússia está a ter grandes implicações para os EUA e para o mundo”, segundo a transcrição oficial da conversa mantida entre ambos, divulgada pelo Departamento de Energia dos EUA. Também o presidente dos EUA, Donald Trump utilizou várias vias mediáticas para aproximar russos e sauditas, incluindo os tuítes divulgados a 2 de abril.

A principal preocupação de Trump é a situação insustentável a que chegaram os produtores de shale oil dos EUA, na sua maioria confrontados com paragens de atividade – para os que tenham maior “almofada” financeira para enfrentarem a crise –, enquanto os mais vulneráveis são remetidos para quase inevitáveis falências. Conjugada com a paragem da economia global forçada pelo confinamento das populações, o mundo assistiu a uma queda brutal do consumo de produtos petrolíferos, já estimada por grandes bancos de investimento em cerca de 35 milhões de barris diários, o que trava a sustentação das cotações internacionais de petróleo.

Vários especialistas do sector admitem que além da inexistência de uma parte considerável do normal consumo mundial, a produção petrolífera está a ser confrontada com outro problema de grandes dimensões e que é o da saturação do armazenamento de combustíveis.

Efetivamente, os produtores que mantiveram a sua atividade, mesmo com níveis mais reduzidos de produção, são confrontados com um excedente de petróleo que vem aumentando diariamente. O próprio secretário de Estado da Energia dos EUA, Dan Brouillette, já reconheceu publicamente este problema, tendo disponibilizado alternativas de armazenamento na reserva de emergência dos EUA, embora limitado a cerca de 30 milhões de barris, o que nem sequer equivale à queda de consumo mundial quantificada apenas para um dia.

AIE quer fortes medidas de estímulo económico

No entanto, as preocupações da AIE não se ficam por aqui. “Uma vez resolvida a crise da saúde, os governos terão de se focar nas medidas de estímulo económico para revitalizarem as suas economias”, refere a última newsletter da AIE. Porque – avisa – “as decisões que os Governos tomarem poderão moldar a infraestrutura principal nas próximas décadas”. A AIE tem vindo a trabalhar em estreita colaboração com Governos de todo o mundo “para garantir que possamos apoiar os seus esforços neste momento crítico”, refere.

Nesse sentido, a AIE já está a produzir um relatório especial do World Energy Outlook que “avaliará as medidas de curto prazo que poderiam fazer parte dos planos de recuperação económica na pós-pandemia”. “O foco mais forte é colocado na criação de empregos e no impacto no crescimento”, adianta. Essas medidas seriam “baseadas em análises rigorosas de políticas e de casos de estudo comprovados”, refere a AIE, considerando que “poderiam constituir uma ‘caixa de ferramentas operacionais’ para quem elabora as políticas que desejam construir sistemas de energia mais avançados e sustentáveis, ​​dentro dos seus esforços de recuperação económica”. A AIE anuncia que este relatório especial será publicado nesta primavera.

No sentido de debater esta questão, Fatih Birol realizou uma videoconferência, a 31 de março, com Frans Timmermans, vice-presidente executivo da Comissão Europeia, responsável pelo Acordo Verde da Europa, e Kadri Simson, comissário da Energia, refere a AIE.

O debate visou a forma como a AIE “poderia contribuir para uma ampla gama de questões críticas que abrangem a resiliência energética – principalmente a segurança elétrica – e as transições para um sistema de energia limpa”.

Isso inclui as “tecnologias das energias renováveis ​​– especialmente, as eólicas offshore –a eficiência energética, as baterias de veículos elétricos, a eletrólise com hidrogénio e, ainda, a captura, utilização e armazenamento de carbono”, refere a AIE. Os contactos mantidos por Fatih Birol incluíram Michał Kurtyka, o ministro polaco do Clima, e Dan Jørgensen, o ministro dinamarquês do Clima e Energia, e abordaram igualmente a forma como “a AIE pode ajudar os países a saírem da crise, com recurso a sistemas de energia mais limpos e resilientes”.

Finalmente, como a pandemia da Covid-19 criou um problema de saúde global e provocou “uma situação de emergência económica sem precedentes” – refere a AIE –, a agência  anuncia que “está comprometida em fornecer dados, análises e recomendações rigorosas para ajudar os Governos e a indústria a tomarem decisões inteligentes para lidarem com a crise imediata, enquanto pretende avançar para sistemas de energia mais acessíveis, seguros e sustentáveis ​​a longo prazo”. Trata-se de um “Hub de análise da Covid-19”, um trabalho que a AIE foca nas “questões da segurança de eletricidade, dos mercados de petróleo, das fontes renováveis, e das transições para os sistemas de energia limpa”.

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