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Ai Weiwei expõe pela primeira vez em Portugal

A Cordoaria Nacional, em Lisboa, vai acolher exposição inédita do artista chinês entre 4 de junho e 28 de novembro de 2021.
21 Outubro 2020, 07h20

Ai Weiwei, um dos mais influentes artistas contemporâneos, vai fazer da Cordoaria sua casa e partilhar dois universos que o habitam e capturam: realidade e fantasia. Se o nome de uma exposição nunca é um acaso, em “Rapture” são várias as leituras subjacentes.

Na conferência de imprensa realizada esta terça-feira no Museu da Eletricidade, com a presença do artista, o curador da exposição, Marcello Dantas, explicou o conceito por detrás de “Rapture” como as duas dimensões de Weiwei, o “artista-político” e o “artista-espiritual”. As duas alas da Cordoaria Nacional serão, assim, o espelho de cada uma dessas dimensões. Separadas, mas unidas: “São como duas asas que fazem o pássaro voar”, ilustrou Marcello Dantas.

Defensor dos direitos civis e da liberdade de expressão e símbolo da resistência à opressão – e uma voz particularmente crítica do regime chinês – Weiwei traz a Lisboa algumas das suas obras mais emblemáticas, como “Snake Ceiling” (2009), uma grande instalação em forma de serpente constituída por centenas de mochilas de crianças, em memória aos estudantes mortos no terremoto de Sichuan, em 2008; e “Law of the Journey” (Prototype C) (2016), que consiste num barco insuflável de 16 metros de comprimento com figuras humanas e faz alusão a um dos temas mais recorrentes na obra do artista: a crise global de refugiados.

Na ala que incide sobre a dimensão mística e espiritual, onde explora a sua veia de “arqueólogo de técnicas ancestrais”, nas palavras do curador, procura resgatar tradições e saberes locais para lhes dar “uma nova leitura, uma leitura contemporânea”, acrescentou Marcello Dantas. Este trabalho de arqueologia cultural é outro pilar da obra de Weiwei, que na exposição agora anunciada vai contar com criações inspiradas pelas “tradições e técnicas artesanais portuguesas”.

O artista afirmou estar “fascinado com os materiais e técnicas tradicionais usados em Portugal”, tendo destacado a cerâmica e os azulejos portugueses, a par da cortiça e da madeira. “Estou em Portugal há alguns meses, a aprender com a cultura local e a absorver o artesanato”, disse Ai Weiwei, que tem trabalhado numa propriedade no Alentejo, onde está a desenvolver as criações que poderão ser vistas na exposição que vai marcar o calendário cultural lisboeta.

Nascido em 1957, em Pequim, Ai Weiwei tem trabalhado sobretudo nas artes visuais e na área do documentário, sendo “Human Flow”, filmado em mais de 20 países, sobre a temática dos refugiados (2017), e “The Rest” (2019), sobre a crise dos migrantes, dois dos seus trabalhos mais recentes.

Em 2011, esteve preso durante 81 dias, na China, sem acusação formal, apenas com alegações de crimes económicos, e, depois de libertado, apenas foi autorizado a sair do país em 2015.

Ai Weiwei viveu em Berlim, na Alemanha, durante quatro anos e em 2019 mudou-se para o Reino Unido. Este ano foi eleito o artista mais popular do mundo pelo “The Art Newspaper”.

Os bilhetes para a exposição já estão à venda nas plataformas habituais.

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