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Álvaro Santos Pereira apela a reflexão sobre teletrabalho e legislação laboral “mais flexível”

“O grande impacto desta pandemia vai ser o desenvolvimento do digital. Todos estamos, agora, a trabalhar remotamente constantemente. A pandemia obrigou-nos a adaptar-nos muito mais rapidamente ao digital. E isso vai ter um impacto muito grande, não só na indústria”, afirmou, durante a Web Talk “Indústria” organizada pelo JE em parceria com a Huawei Portugal.
21 Julho 2020, 11h15

Álvaro Santos Pereira, antigo Ministro da Economia do governo liderado por Pedro Passos Coelho,  acredita que Portugal deve apostar na reindustrialização como um dos motores da recuperação económica, aproveitando a “aceleração digital” que o mundo atravessa por causa dos efeitos da pandemia da Covid-19. Nesse sentido, a estratégia deve incluir uma legislação laboral “mais flexível” e por uma reflexão sobre o teletrabalho.

“É preciso pensar como é que vamos legislar a questão do teletrabalho e como é que vamos ter a legislação laboral mais flexível para ajudar as empresas a contratarem mais”, afirmou Álvaro Santos Pereira, atual diretor do Departamento de Estudos Nacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), numa WebTalk sobre a indústria nacional, organizada pelo Jornal Económico em parceira com a Huawei, no âmbito do ciclo ‘A Step Into de Future’, no mês de julho.

Mas porquê refletir sobre o teletrabalho e apelar a uma regras laborais mais flexíveis? “O grande impacto desta pandemia vai ser o desenvolvimento do digital. Todos nós estamos, agora, a trabalhar remotamente constantemente. A pandemia obrigou-nos a adaptar-nos muito mais rapidamente ao digital. E isso vai ter um impacto muito grande, não só na indústria, como no desenvolvimento tecnológico e no própria forma como trabalhamos. Isso já acontecia, mas ainda com alguma relutância de alguns setores”, explicou.

A ideia é sustentada no processo de transição digital da economia, que está hoje em processo acelerado, dado os efeitos da pandemia da Covid-19. Além da questão do teletrabalho e da legislação laboral mais abrangente, o antigo governante lembra que o IRC “não é competitivo, principalmente comparando com os países de leste”, e que é necessário investir em mais competências profissionais, sobretudo ao nível tecnológico e criar uma estratégia de as universidades formarem mais talentos, e que o Portugal os consiga suportar.

Portugal utilizou bem a tecnologia na indústria tanto como ferramenta ou como oportunidade nos últimos anos? “A resposta é mista. Penso que grande parte da nossa indústria, ainda, está um pouco atrasada em relação na aplicação do digital. Os indicadores que nos comparam com outros países mostram isso”, responde.

Álvaro Santos Pereira acredita que Portugal tem um setor e uma tradição indústrial “forte”, mas, à luz da crise pandémica, para percorrer uma estratégia de reindustrialização bem sucedida são necessárias “boas condições económicas e boa mão de obra”, factores que aliados às condições climáticas do país poderão chamar a atenção das empresas estrangeiras.

“O que vai acontecer nos próximos anos é que muitas empresas, em vez de concentrarem as suas produções só na China, ou noutro país do sudeste asiático, vão diversificar para mais dois ou três sítios, provavelmente, parte das suas produções criticas. Isso é uma oportunidade para Portugal, ou para países como Portugal”, alertou.

Mas para o antigo ministro, “isso só acontece”, se Portugal tiver “uma estratégia de fomento da industrialização”, em linha do que Santos Pereira tentou implementar entre os anos de 2012 e 2013, quando era ministro da Economia.

Ou seja, Santos Pereira defende que o Governo deverá criar incentivos para as empresas, e evitar dizer que setores devem ser aposta. “Quando se pensa em apostar em campeões digitais, quase sempre dá mau resultado”, disse.

“Estamos a passar uma crise sem precedentes”
O agora diretor da OCDE entende que Portugal atravessa uma crise complexa. “Estamos a passar uma crise sem precedentes. Não estamos, nem de perto, nem de longe, a perceber os impactos dos próximos meses”, afirmou.

Sobretudo, após os meses de verão, Portugal deverá “assistir a um aumento significativo do desemprego e também um aumento nas insolvências”, em linha do que se deverá verificar “em todos os países”. E, nessa altura, Santos Pereira acredita que “algumas indústrias e alguns setores” vão ser apanhados pelos efeitos da pandemia da Covid-19.

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