Vivemos num mundo onde nunca a informação foi tão vasta e acessível. Ao mesmo tempo, a quantidade de informação criada diariamente torna quase impossível o seguimento de qualquer desenvolvimento ou verificação dos acontecimentos. O diz e desdiz é tal, que confunde qualquer cidadão. Hoje uma medida é anunciada, para depois ser esquecida, ou revertida sob qualquer pretexto.

O anúncio da parceria com o MIT, uma das mais prestigiadas universidades americanas, constitui um exemplo da impossibilidade de verificação. Com a promessa de criar 25.000 empregos no sector privado até 2030, como se pode pensar que alguém em 2031 se lembre de verificar o cumprimento destas metas? De que interessa serem anunciadas estratégias que não são implementadas, e pelas quais ninguém é responsabilizado? Podemos recordar a famosa Estratégia de Lisboa, aprovada no ano de 2000, que visava criar da Europa a economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica, até 2010, num quadro de crescimento sustentável. Como sabemos, a Europa não só não se preparou, como mergulhou numa crise económica e financeira da qual não saiu até aos dias de hoje. Ninguém foi responsabilizado pela falha da implementação da estratégia, se é que ela existiu. No entanto serviu para iludir os europeus e criar expectativas que depois de goradas, criam as sementes para o aparecimento dos nacionalismos.

Enquanto se anunciam medidas a perder de vista, a inflação ataca e rouba os rendimentos aos portugueses todos os anos. Existe uma inflação escondida, os impostos indirectos, que diminuem o rendimento disponível dos agentes económicos, de forma quase imperceptível, mas que não rouba votos. O aumento da carga fiscal via aumento de impostos que não são perceptiveis, como imposto de circulação, imposto sobre os produtos petrolíferos, entre outros, ou a criação de novas taxas. A última é a possibilidade de ser cobrada a “taxa rtp” na factura dos carregamentos de carros electricos. Depois de se incentivar os consumidores a mudarem para meios de transporte mais ecológicos, e até se anunciar o fim dos carros a diesel, defraudam-se as expectativas dos agentes económicos, criando taxas.

Temos também o combate à burocracia, com o anúncio de centenas de medidas, que embora benéficas, não compensam as novas obrigações que são criadas para as empresas e cidadãos, como por exemplo, a necessidade de investimento na protecção de dados, cumprimentos com novos regulamentos e directivas da EU que têm de ser adoptadas. Ou seja, somos anestesiados com promessas de soluções que na prática não são implementadas. A saúde, educação e justiça, pilares do desenvolvimento de uma sociedade, estão ameaçadas pela suborçamentação e falta de planificação do Estado, permitindo a verdadeira privatização destes serviços a custo zero. Qual a família que actualmente não quer ter um plano de saúde, mesmo tendo acesso à ADSE, ou que os seus filhos estudem numa escola privada?

Enquanto as atenções estiverem concentradas no futebol, e em fait diverts, a anestesia global irá continuar, até que as diferenças sociais tornem incomportável o actual sistema político.