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Angela Merkel sai enfraquecida das eleições

Martin Schulz e a esquerda na sua generalidade foram os perdedores das eleições alemãs, no dia em que a extrema-direita regressa ao Bundestag, que há umas décadas ajudou a destruir.
  • Fabrizio Bensch/Reuters
25 Setembro 2017, 07h45

Sem qualquer surpresa, Angela Merkel (CDU) ganhou as eleições alemãs ontem realizadas, mas a chanceler tem muito poucos motivos para comemorar o que quer que seja. Desde logo porque sabe que vai chefiar um governo mais fraco que o que liderava até à semana passada: o facto de o SPD de Martin Schulz – que ontem teve um resultado historicamente mau – não estar disponível para manter a coligação com a CDU que integrou nos últimos quatro anos obriga a chanceler (a quem os alemães mais uma vez negaram a maioria absoluta) a procurar outro parceiro. Mas, como essa coligação não será entre o primeiro e o segundo partidos mais votados, Merkel surgirá à frente de um governo necessariamente menos representativo do parlamento alemão e do povo que o elegeu.

Por outro lado, Merkel conta agora nas redondezas do seu grupo parlamentar com a presença da extrema-direita alemã agregada na Alternativa para a Alemanha (AfD, que ontem a francesa Marine Le Pen se apressou a ovacionar), o que lhe indica que o país não gostou da forma como a chanceler lidou com a crise dos refugiados nem com o abrir de portas do território germânico aos que fugiam da guerra da Síria. Há quatro anos, o AfD não conseguiu o mínimo de 5% para estar no parlamento, mas ontem teve votos mais que suficientes para estrear um grupo parlamentar que tem agora bem mais hipóteses de escrutinar as políticas de emigração do país e de bloquear (ou pelo menos dificultar) qualquer acesso de bondade para com terceiros não necessariamente alemães que possa passar pela cabeça de Angela Merkel, como sucedeu em 2015.

Por isso, quando Merkel voltar à Europa, já não será a superchanceler que liderava um governo representativo de bem mais de 50% da sociedade germânica, mas apenas uma chanceler alemã que o seu povo decidiu manter como chefe de governo, mas com uma margem de manobra bem mais curta.

A pergunta é se isso será ou não bom para o resto da União Europeia. A resposta – a essa pergunta repetida nos mais diversos fóruns – não é simples, mas parece haver alguma tendência para a maioria dos analistas afirmar que uma chanceler alemã politicamente mais fraca não é necessariamente mau para o resto da Europa. Pelo contrário: a sua voz não se fará ouvir de forma tão ensurdecedora nas capitais europeias que não Berlim, o que quer dizer que haverá mais espaço para os que até agora não se conseguiam fazer ouvir.

Schulz sem margem de recuo

Bem pior que Merkel estava ontem Martin Schulz que, em pouco mais de meio ano, passou de provável chanceler no primeiro dia da era pós-Merkel para o mais derrotado de todos os social-democratas desde há muitos anos. Ao antigo presidente do Parlamento Europeu resta agora a porta de saída: o SPD enfileirou atrás de Schulz, mas os alemães não foram na conversa. Não restava ao seu presidente outra coisa que não fosse afirmar que não faria nova coligação com Merkel, como também não resta outra senão pedir a demissão do cargo partidário.

Enquanto Schulz segue para o grupo dos ex-políticos que andam de um lado para o outro a dar conferências e são pagos a peso de ouro, os dois partidos mais à esquerda do parlamento alemão, Os Verdes e o Die Linke, também tiveram uma noite para esquecer: ambos foram ultrapassados pela extrema-direita – o que diz muito do pouco apreço que os alemães sentem pelos radicais de esquerda, numa altura em que o país sente que a segurança é um dos principais problemas com que se debate no futuro imediato. Pior ainda, as projeções indicavam ontem que até o FDP poderá ter conseguido mais votos que os dois partidos da esquerda.

Não é certo que Merkel não venha a recorrer aos seus serviços para engendrar um governo de coligação – apesar de ter ali à mão os liberais do FDP, que conseguiram regressar ao parlamento – mas, principalmente no que tem a ver com o Die Linke, as expectativas eram muito altas (os seus líderes acreditavam que a formação seria claramente a terceira força política no parlamento) e claramente não foram alcançadas.

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