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“Angola continua a ser um país imprevisível”

Portugueses residentes em Luanda contam ao Jornal Económico como estão a encarar as eleições desta quarta-feira. Emprego e melhoria das condições de vida entre as grandes preocupações.
23 Agosto 2017, 14h10

As incertezas sobre o futuro aumentam entre os mais de 100 mil portugueses que vivem em Angola. Embora não possam participar nas eleições de hoje, os portugueses residentes neste país estão atentos aos resultados e às consequentes implicações desta votação. Entre os portugueses contactados pelo Jornal Económico são poucos os que acreditam numa real mudança política e social.

“Estamos a falar de eleições para eleger um novo governante para o país, mas na verdade não são mais do que uma forma de o atual presidente poder continuar na chefia de Angola nos bastidores da cena política”, afirma ‘Paulo’ (nome fictício), um engenheiro da construção civil a trabalhar em Angola há quatro anos. “Os resultados que dali saírem vão ter consequências óbvias para todos aqueles que vivem no país, quer sejam nativos ou emigrantes, e por isso estamos atentos”.

Os últimos dados revelados pelo Observatório da Emigração, em janeiro, indicam que as saídas de portugueses para Angola cresceu 32% em 2015 face ao período homólogo. Ao todo partiram rumo a Luanda mais 6.715 portugueses para se juntarem aos mais de 100 mil que estabeleceram residência, ainda que temporária, no país. No entanto, Angola já não é considerada a galinha dos ovos de ouro. “Hoje faltam bens de primeira necessidade, como água e alguns alimentos, e várias empresas estão a rebentar pelas costuras e têm de fazer rescisões de contratos”.

http://www.jornaleconomico.pt/noticias/o-dia-a-dia-dos-portugueses-em-angola-200384

Ana Ferreira, outra portuguesa que vive na capital angolana há 10 anos e trabalha na área de eventos, partilha das mesmas preocupações. “O Governo impôs algumas medidas este ano: criou o IPU (Imposto Predial Urbano), implementou a taxa do lixo, proibiu a contratação de novos funcionários públicos e aumentos salariais. Só na Saúde e na Educação houve excepções e a nível financeiro, diminuíram a saída de divisas do país, logo menos importação. Estamos todos na expectativa e se até Março/Abril do ano que vem nada for feito, o povo vai começar a cobrar por emprego e melhores condições de vida. As mudanças são necessárias, mas ao mesmo tempo assustadoras. Vamos ver como corre. A campanha eleitoral tem decorrido sem problema”, diz.

O crescimento imparável da economia angolana na viragem do milénio conheceu em 2014 um revés, com a quebra do preço do petróleo. Esta dependência financeira do ouro negro traduziu-se, por sua vez, num declino sem precedentes no Produto Interno Bruto (PIB) e numa desvalorização de 40% do kwanza face ao dólar, ao mesmo tempo que a inflação avançou a um ritmo galopante. “Grande parte do que ganhamos fica lá”, lamenta ‘Paulo’. “Angola até pode ganhar um rosto novo na liderança, mas com o MPLA no poder a desigualdade social e a repressão política vão eventualmente acabar por se manter na mesma linha”, acrescenta.

Já João Ferreira, engenheiro civil de profissão e também residente em Luanda há uma década, considera que “esta não é uma campanha imparcial no que toca ao acompanhamento por parte da comunicação social, mas também pelo aproveitamento do Governo em actos públicos e oficiais, onde claramente existe uma diferença entre Governo e oposição. Fala-se muito dos resultados, mas Angola continua a ser um país imprevisível nesse sentido e nas suas consequências”.

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