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Angola: na mala de regresso, Costa traz reaproximação “entre iguais”

Visita de António Costa a Angola, após a tensão diplomática, focou-se em estabilizar as relações, mas não exclui a análise de temas como as dívidas às empresas portuguesas.
  • José Sena Goulão/Lusa
19 Setembro 2018, 07h43

O primeiro-ministro português, António Costa, e o presidente angolano, João Lourenço, inauguraram uma nova fase nas relações entre os dois países. A primeira visita de António Costa a Luanda após o “irritante” – que envolveu o antigo vice-presidente de Angola Manuel Vicente – confirmou a intenção de sanar o episódio e o caminho futuro passará por resolver o problema das dívidas do Estado angolano a empresas portuguesas.

No último dia da visita, o líder do Executivo português acenou com uma cortesia diplomática ao afirmar que a relação entre Portugal e Angola “é uma parceria entre iguais, em que cada um contribui para a riqueza do outro e em que ambos beneficiam igualmente da relação”.

Após ser recebido por João Lourenço, no Palácio Presidencial, com honras militares, António Costa sublinhou a reciprocidade e a igualdade numa relação entre dois Estados soberanos, cujas sociedades estão “unidas” por “laços históricos e afetivos”.

António Costa frisou que mais de mil empresas portuguesas de capitais mistos operam em Angola e que mais cinco mil firmas nacionais exportam para o mercado angolano – um dos dez maiores destinos de produtos nacionais.

O presidente angolano manifestou a intenção do país em criar “um ambiente de negócios seguro e atractivo, no âmbito do qual os investidores deixam de se confrontar com obstruções resultantes de procedimentos exageradamente burocráticos para estabelecerem uma empresa ou negócio em Angola”.

Para João Lourenço, porém, há que ter em conta que, para todos esses objectivos, que “prevaleçam sempre o bom senso, pragmatismo e sentido de Estado”, para que as relações entre os dois países saiam “continuamente robustecidas” e possam fazer face, “e vencer” as “visões pessimistas” que, de quando sem quando, se procuram afirmar.

“Encorajo, pois, a mantermos uma linha de diálogo permanente entre nós”, recomendou.

A delicada questão sobre as dívidas às empresas portuguesas, não foi, no entanto, deixada fora da agenda. O primeiro-ministro português assegurou durante a visita que o tema não originará um novo “irritante” ou tensão entre os dois países e reconheceu a “grande preocupação, interesse e motivação” das autoridades angolanas em ultrapassar o problema.

Ainda assim, disse esperar ser “um problema que as empresas portuguesas irão ver resolvido”, já que “teve impacto em muitas empresas”. No entanto, não foi ainda anunciado nenhum calendário ou medida para responder ao volume das dívidas às empresas portuguesas, cujo volume mínimo é estimado, pelo governo angolano, entre 400 e 500 milhões de euros.

Aumento da linha de crédito às exportações angolanas

No primeiro dia da visita, António Costa anunciou ainda que o Governo português vai aumentar a linha de crédito de apoio às exportações para Angola de 1.000 para 1.500 milhões de euros. Num sinal claro de querer reforçar as relações político-económicas, o líder do Executivo português considerou que a “é um sinal muito importante da vontade dos dois países continuarem a estreitar as suas relações económicas”.

Perante empresários portugueses, o líder do executivo defendeu a tese sobre a necessidade de novos objetivos e, por outro lado, de os diferentes agentes no terreno “não se cingirem ao que têm feito” em termos de cooperação.

Para António Costa, os passos agora dados “traduzem que as relações políticas entre Portugal e Angola não só estão boas, como estão sólidas e com grande perspetiva de se poderem aprofundar ao longo dos próximos anos”.

“Da parte de Portugal, creio que não há com nenhum outro país, em qualquer continente, uma relação tão intensa como temos com Angola, assente nos laços individuais que se foram estabelecendo. Como todas relações intensas marcadas pela paixão, muitas vezes essas relações são também emotivas. Mas, como sabemos, sem emoção não há uma boa relação”, advogou.

Ainda neste capítulo da sua intervenção, o primeiro-ministro defendeu que, no âmbito da relação entre África e União Europeia, Portugal e Angola encontram-se em posição privilegiada.

“As relações políticas são essenciais, mas é absolutamente indispensável que o relacionamento humano, com a presença constante de quem aqui trabalha e investe, continue a construir a aprofundar as nossas relação com Angola”, disse.

*Com Lusa

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