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“Angola vai continuar a atrair investimento externo”

A recuperação do preço do Petróleo de 2016 para os níveis atuais, perto dos 50 dólares por barril, contribui positivamente para a visão externa de Angola.
16 Junho 2017, 13h30

Ainda é recente, conta apenas com cerca de ano e meio de vida mas é o maior banco de investimento privado de Angola. Em 2017, o BCS realizou o seu primeiro aumento de capital para seis mil milhões de kwanzas e o primeiro a poder realizar pagamentos dentro da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral). Maria do Céu Figueira, está desde o início à frente dos destinos do BCS e ao Jornal Económico revela, que Angola vai continuar a atrair investimento externo e que a dívida do Estado angolano irá passar a ser mais transacionada nos mercados internacionais.

Quais os principais desafios que são hoje colocados ao BCS e à banca angolana em geral?

Estamos focados em desenvolver e consolidar a nossa operação de modo a superar as expectativas dos nossos clientes e criar valor através de um conjunto de regras e procedimentos que são observadas diariamente e para isso, além de seguirmos escrupulosamente as orientações do Banco Nacional de Angola, asseguramos a adequação às melhores práticas internacionais, seja via contabilistas com formação internacional ou as regras internacionais de compliance. Porque acreditamos que um banco é, não só um negócio para os seus investidores, mas uma responsabilidade sobre todos os nossos clientes, o cumprimento das regras de prevenção de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, evidencia um efetivo controlo na prevenção de crimes financeiros, prejudiciais às economias nacionais e internacionais que acabam por nos afetar a todos.

As autoridades internacionais estão cada vez mais exigentes e obrigam a regras estritas em relação ao conhecimento de cliente (KYK – Know Your Customer), branqueamento de capitais (AML – Anti Money Laundering) ou repatriamento de capitais (FOREX – Foreign Exchange). O cumprimento escrupuloso destas regras é fundamental para o nosso banco, bem como para todo o sistema financeiro angolano.

Como está a lidar o BCS com a crise económica, financeira e cambial em Angola, sobretudo decorrente da quebra da cotação internacional do barril de crude?

A crise é, para um gestor, uma oportunidade. Acredito até que um teste de sobrevivência e de reconhecimento. Quando falo de gestores falo também das instituições. E esta fase está a obrigar a um melhor aproveitamento dos recursos existentes e a um melhor planeamento dos investimentos prioritários. O BCS, estando num segmento de grandes clientes corporate, tem uma responsabilidade acrescida no apoio aos seus clientes com vista à sua melhor adequação às novas exigências do mercado e consequente retorno para quem investe através de nós.

Mas atrevo-me a tecer uns comentários sobre a crise e perspetivas futuras de Angola, como estado soberano. A eleição de Donald Trump, entre outros, teve uma implicação imediata na forma como os investidores internacionais passaram a olhar para as dívidas soberanas (essencialmente Europa e Japão) emitidas com taxas de juro negativas. De facto, em agosto de 2016, o montante atingia 14 triliões de dólares e, em janeiro de 2017, representava 10 triliões, uma descida de 40% a que não é alheia a valorização do dólar, que faz com que as obrigações se tornem menos apelativas quando convertidas na moeda norte-americana. Isto leva-nos a pensar na eterna equação de risco e volatilidade (incerteza) que norteiam as decisões dos investidores que, como se sabe, não são a mesma coisa. Risco é a perda permanente de capital e, nesse aspeto, a consolidação da democracia angolana, com as eleições projetadas para este ano, transmite uma sensação de segurança aos investidores estrangeiros, enquanto a volatilidade (incerteza) só se transforma em risco quando o horizonte de investimento não é suficientemente longo para esperar que o mercado reconheça o justo valor do ativo. É essencial que Angola siga uma estratégia consistente a médio e longo prazo de preservação de valor. A resiliência do povo angolano deve ser vista como uma oportunidade para o investidor externo, pois “ … a incerteza é amiga do investidor de longo prazo … “

Não temos dúvidas de que o país vai continuar a atrair investimento externo e que a dívida do Estado angolano irá passar a ser mais transacionada nos mercados internacionais, devido aos yields praticados e diminuição acentuada do Risco Soberano. A própria recuperação preço do Petróleo de 2016 para os níveis atuais, perto dos 50 dólares por barril, contribui positivamente para a visão externa do nosso país.

Quais as soluções que o BCS está a estudar ou a implementar para apoiar a economia angolana e os seus clientes?

Implementámos uma estrutura orgânica vocacionada para apoio e consultoria financeira que acompanha os clientes em todo o processo de desenvolvimento dos seus projetos, desde a definição do business plan ao project finance. O nosso modelo de serviço é baseado em relações sólidas e duradouras, prestado por uma equipa de alto valor técnico e comercial, em que cada cliente é único. Estamos focados no crescimento da economia nacional, apoiando empresas e particulares a investir em todos os setores económicos, gerando valor para os nossos clientes e para a nossa economia. Queremos ser agentes e gestores desta mudança pioneira no panorama económico angolano, sejam estes pessoais, profissionais ou corporativos.

Que medidas considera determinantes para que a economia e indústria em Angola cresça?

Nos últimos anos começaram a ser implementadas diversas medidas que estão a produzir bons resultados no crescimento da economia e indústria, nomeadamente criação de comissões de acompanhamento e incentivos de diversa natureza para projetos estruturantes no sector produtivo. Existem hoje muitos projetos bem estruturados em fase de implementação e outros já a produzirem resultados, com impacto na criação de empregos, redução das importações e aumento da autonomia produtiva nacional. Os investimentos em infraestruturas (Aeroportos; Portos Marítimos; Caminhos de Ferro; Vias de Comunicação) e em Capital Humano (formação de pessoal qualificado) estão a fazer com que Angola se torne numa plataforma internacional giratória e aglutinadora de negócios em Africa.

O crédito bancário concedido à economia e particulares em Angola voltou a subir depois de uma retração. Como se posiciona o BCS nesta matéria?

O compromisso com o desenvolvimento da economia faz parte do nosso ADN. Temos apoiado e mantemos atualmente o apoio a projetos estruturantes para a diversificação da economia, essencialmente no setor produtivo, o que mais se destaca pela necessidade e pelo apoio nas políticas do Executivo. Continuaremos ao lado dos nossos clientes na procura das melhores soluções de crédito interno e externo. Somos uma parte ativa e integrante na prossecução do desenvolvimento económico de Angola. O país tem recursos imensos e por explorar e tem o perfil para ser um exportador nato em vários setores da economia, que não só a petrolífera e diamantífera.

Como vê as relações entre Portugal e Angola?

Os dois países são efetivamente países irmãos e constatamos esse facto quer seja em Angola, quer seja em Portugal. O que nos aproxima são séculos de convivência, alternados com algumas opiniões divergentes e críticas, mas a níveis que não os sociais e económicos. É natural que, pela história, haja sempre algum ruído, legítimo por quem o provoca, mas que não se identifica com a voz da maioria. É uma ligação inquebrável, tanto do ponto de vista social quanto económico. E é com base nesta relação que ambas as economias têm-se apoiado e florescido e, acredito, assim se manterá.

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