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Antes da Tesla sair de bolsa, é melhor comprar ou vender ações?

“Sair de bolsa é uma hipótese, mesmo para a Tesla”, afirmaram os analistas do Barclays, referindo que, apesar de surpreendente, a possibilidade existe. Será, no entanto, um desafio financeiro.
13 Agosto 2018, 07h35

Os analistas que seguem a Tesla estão a mudar de posição em relação às ações, graças à hipótese levantada pelo CEO, Elon Musk, de uma saída de bolsa. Desde a passada terça-feira, dia em que Musk usou o Twitter para anunciar estar a considerar tornar a empresa privada novamente (reembolsando os investidores com 420 dólares por cada ação), o consenso das recomendações passou de ‘comprar’ para ‘manter’.

“Estou a considerar tornar a Tesla privada nos 420 dólares. Financiamento garantido”, escreveu Musk no Twitter, na terça-feira passada. Não é certo como é que o empresário pretende reunir a quantia necessária de financiamento.

Num e-mail para os funcionários a que a CNBC teve acesso, Musk clarificou que ter o capital aberta leva a que a volatilidade das ações em Wall Street criem grandes distrações. A hipótese provocou agitação no mercado norte-americano, sobretudo pelo facto de os títulos da empresa serem já classificados como “lixo” por agências de rating de crédito.

A Securities Exchange Comission (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) questionou a empresa sobre a intenção e suspendeu ao longo do dia seguinte a negociação das ações, que foi entretanto reaberta. No entanto, há ainda muitas dúvidas sobre o assunto e, para já, a recomendação dos analistas é de ‘manter’ as ações.

“Continuamos a acreditar que a avaliação da Tesla, com base apenas nos fundamentos não vale mais do que 195 dólares (o nosso anterior preço-alvo)”, referiram os analistas do JP Morgan, numa nota citada pelo jornal. “Mas a introdução de uma nova ponderação de 50% de 420 dólares sugere uma grande revisão em alta face à nossa meta de preço e recentemente revimos a avaliação da Tesla para 308 dólares por ação”.

Fonte: Nasdaq

Fonte de financiamento é a dúvida

“Sair de bolsa é uma hipótese, mesmo para a Tesla”, afirmaram os analistas do Barclays também numa nota de análise, referindo que, apesar de surpreendente, a possibilidade existe. Será, no entanto, um desafio. “A aquisição exigiria cerca de 70 mil milhões de dólares: cerca de 60 mil milhões para ações e cerca de 10 mil milhões de dólares para dívidas”.

Musk é detentor de 19% dos títulos e o Fundo Soberano da Arábia Saudita adquiriu, no início da semana passada, uma posição no valor de dois mil milhões de dólares na empresa, o que corresponde a cerca de 5%.

“Com 145 milhões de ações, uma aquisição de 420 dólares por ação exigiria 60 mil milhões de dólares para excluir todos os acionistas públicos. Mesmo com a participação do fundo saudita de 3% a 5%, há uma grande lacuna de financiamento. E os mercados de crédito podem não ser muito receptivos”, alertou o Barclays.

O conselho de administração da Tesla poderá tomar brevemente a decisão de revê formalmente a proposta de Musk, segundo garantiram fontes próximas do processo à agência Reuters. Os administradores da fabricante de automóveis elétricos já estarão em conversações com banqueiros e consultores financeiros a fim de obter assessoria para o processo.

Dada a recente entrada do Fundo Soberano da Arábia Saudita no capital da Tesla, o investidor institucional foi visto como um parceiro atual no negócio. No entanto, o fundo público não estará interessado, segundo afirmou uma fonte anónima à Reuters. Uma segunda fonte próxima confirmou que o fundo não iria participar em nenhum plano neste momento e que não faria um investimento dessa dimensão sem procurar antes orientação do Softbank, com quem tem estado atualmente a trabalhar.

Elon Musk processado pelos tweets

Dadas as dúvidas, já foi também levantada a hipótese de tudo não passar de um esquema. O CEO da Tesla foi processado por dois investidores na passada sexta-feira por ter levantado, no Twitter, a hipótese de retirar a empresa de bolsa. As ações judiciais acusam Musk de fraude, alegando que as mensagens foram projetadas para pressionar short-sellers, de acordo com documentos a que a Reuters teve acesso.

Os processos judiciais deram entrada no Tribunal da California na sexta-feira, três dias depois que Musk surpreender os investidores com o anúncio no Twitter. Num dos processos, o autor Kalman Isaacs disse que os tweets de Musk eram falsos e enganosos, destinando-se a “dizimar completamente” os investidores com posições a descoberto (shortsellers), segundo a agência.

A par de Isaacs, também William Chamberlain, autor do segundo processo, defendeu que a conduta de Musk inflacionou artificialmente o preço das ações da Tesla e violou as leis federais de valores mobiliários.

A estratégia dos shortsellers prende-se com usar ações emprestadas, que acreditam estar inflacionadas, para vender e, posteriormente, ter lucro com a recompra das ações a um preço mais baixo. Elon Musk já usou várias vezes o Twitter para criticar a atitude.

O tweet do empresário a 7 de agosto levou a um disparo das ações de 13%. Desde então, os títulos já corrigiram em cerca de dois terços desse ganho, em parte depois de a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos ter suspendido a negociação para investigar a atividade de Musk. Após o fecho de Wall Street, esta sexta-feira, a capitalização de mercado da Tesla situava-se nos 60 mil milhões de dólares ou 355,49 dólares por ação.

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