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António Câmara: “Os melhores estudantes nunca tinham tido a oportunidade de ter uma ideia”

Professor universitário e visionário da tecnologia defendeu, na Web Talk “Educação” promovida pelo Jornal Económico e pela Huawei, que o verdadeiramente crítico no ensino é “aprender-fazendo“, ganhar mundo também através da leitura e ter ideias criativas.
14 Julho 2020, 11h45

António Câmara,  professor na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, visionário da tecnologia, fundador da empresa YDreams, considerou, esta terça-feira, que muito mais do que a tecnologia o que é verdadeiramente crítico no ensino em Portugal e no qual este deve focar-se é no ajudar os alunos a “aprender-fazendo”, dar-lhes mundo através das leituras e incentivá-los a ter ideias.

“As ideias são decisivas”, declarou na conferência promovida pelo Jornal Económico e Huawei sobre os novos desafios tecnológicos que se colocam à educação. Partiu da sua experiência pessoal há três anos para enfatizar essa importância e como ela escasseia entre os alunos com as melhores notas. Entre uma turma de delinquentes e uma turma composta pelos melhores estudantes selecionados num programa da Gulbenkian do ensino secundário de Lisboa, adivinhem quem teve melhores ideias…!? “O meu desafio era cada um deles ter uma ideia – uma ideia sobre algo, uma ideia sobre um movimento, um produto, uma solução, uma ideia deles próprios….  os melhores estudantes ficaram em choque, porque nunca na vida tinham tido a oportunidade de ter uma ideia. Depois, obviamente tiverem ideias óptimas, mas… curiosamente, os delinquentes todos tiveram ideias”. Conclusão do participante na Web Talk “Educação”: não estavam contaminados.

António Câmara contou que, no âmbito das suas funções na Universidade Nova, tem sido muitas vezes encarregado de fazer o benchmark de tudo o que se passa no mundo não só  a nível universitário, mas também na formação do ensino secundário. A este propósito destacou a Coreia do Sul, país do sudeste asiático, onde todos os estudantes até ao 9.º ano aprendem a fazer óculos de realidade virtual, micro-satélites, usar o  CRISPR… “No nosso ensino secundário não há nenhum programa assim, o que há são casos individuais, professores fantásticos que ensinam robótica e programação aos estudantes”, ressalvou.

Todos os educadores, pais e estudantes em Portugal deviam ver o que os estudantes coreanos estudam até ao 9.º ano neste módulo, salientou o professor, que deixou a referência, que pode ser  consultada aqui.

“Há outra componente que nos falha completamente, sobretudo em ciências e tecnologia  que é a parte humanística. A lista de leituras em qualquer universidade americana  não tem nenhuma comparação com a lista de leituras que temos em Portugal, que é muito reduzida”, salientou.

O método e o modo de ensinar têm variantes, mas não são críticas como a troika anterior. “As ferramentas vão estar aí, nós próprios, temos formas que as estão a desenvolver, mas não é por aí ainda …”, destacou.

Contou também que quando era aluno de Engenharia no Instituto Superior Técnico não ia às aulas, porque jogava ténis na selecção (primeiro nos sub-18 e depois na seleção de sub-20),  mas em contrapartida teve grandes treinadores. Transpôs o seu exemplo para os dias de hoje. “O que achei depois desta experiência é que um professor é como um treinador. O verdadeiro drama hoje de só estarmos online é exigir a um grande treinador que só fale com os atletas online. Não vai resultar! Imaginem o Mourinho ou ainda o Jorge Jesus só a comunicar online. É impossível e o mesmo se passa no ensino”.

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