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António Costa admite que “não sabemos se vamos estar um, dois ou três meses” em isolamento

Primeiro-ministro participou no programa das manhãs da SIC horas antes do Conselho de Ministros no qual será discutido o decreto de prorrogação do Estado de Emergência até 17 de abril. “É fundamental fazermos todos um esforço para que as empresas não fechem, para que os empregos não sejam destruídos mesmo com diminuição de rendimento”, disse durante a entrevista de 40 minutos.
  • António Costa no Programa da Cristina
1 Abril 2020, 12h24

O primeiro-ministro António Costa entrou em direto no “Programa da Cristina” da SIC, admitindo que “não sabemos se vamos estar um, dois ou três meses” em medidas de contenção da pandemia de Covid-19.  Poucas horas antes do Conselho de Ministros em que o Governo analisará o decreto presidencial de prorrogação do Estado de Emergência até 17 de abril, que deverá ser aprovado pela Assembleia da República na manhã de quinta-feira, Costa disse que “estamos a vier um mês perigosíssimo”, pois além da manutenção do isolamento mais portugueses começarão agora a sentir o impacto da pandemia nos seus rendimentos.

“Vamos sair reforçados na nossa autoestima coletiva, pois aprendemos todos a respeitar e a admirar o comportamento uns dos outros. Vamos sair mais pobres e mais frágeis do ponto de vista económico. Vamos ter que fazer um esforço para relançar as nossas vidas e os nossos empregos a seguir a esta fase, e por isso é que fundamental fazermos todos um esforço para que as empresas não fechem, para que os empregos não sejam destruídos mesmo com diminuição de rendimento, que o rendimento seja quebrado o mínimo possível, para que possamos chegar o melhor possível ao final deste túnel, e que este túnel que não dure mais de dois ou três meses, mas essa é uma esperança que eu não posso incutir”, disse António Costa no final de uma entrevista com mais de 40 minutos.

“A vida tem de continuar. Não podemos morrer da cura”, disse o primeiro-ministro, destacando a necessidade de manter tantas empresas quanto possível a funcionar, mas deixou claro que muitas não poderão abrir portas durante o Estado de Emergência devido ao elevado risco de contágio. “Quanto mais disciplinados formos, menos tempo isto dura. Quando reabrirmos vamos ter que reabrir devagarinho, pois o vírus vai continuar entre nós”, advertiu, aludindo ao exemplo da China, onde apareceram casos importados de Covid-19.  A meta do primeiro-ministro é que Portugal possa atingir “um número de casos novos tão limitado que possamos viver socialmente com o vírus”, pois não haverá vacinas disponíveis no mercado até ao verão do próximo ano.

Respondendo a uma pergunta da apresentadora da SIC sobre as ajudas do Estado aos afetados pela crise económica, António Costa respondeu que “todas as medidas de apoio tradicionais continuam a existir”, como o subsídio de desemprego, o rendimento social de inserção e o complemento social para idosos, mas que o Estado está a dar apoio “a fundo perdido” nos casos do lay-off simplificado e nas medidas para os trabalhadores independentes, realçando que estes últimos têm direito a subsídio de desemprego caso tenham mais de 50% do rendimento dos últimos 12 meses de apoios proveniente da mesma entidade. “É o caso dos chamados falsos recibos verdes”, admitiu o primeiro-ministro.

Quanto ao eventual agravamento das limitações à circulação de circulação aquando da prorrogação do Estado de Emergência, António Costa repetiu várias vezes a necessidade de contenção durante as férias da Páscoa, que terá de ser vivida “de uma forma radicalmente diferente”. “Se os nossos números são bons é graças à disciplina dos portugueses. Não podemos ter um polícia em cada porta nem queremos ser uma sociedade totalitária”, disse o primeiro-ministro, reforçando a mensagem de que não poderá haver deslocações em tempos de Páscoa, numa mensagem que repetiu várias vezes ao longo da conversa com Cristina Ferreira. “As famílias numerosas vão ter que estar juntas separadas”, realçou Costa, apelando a que os emigrantes não regressem a Portugal nesta época.

O primeiro-ministro não se comprometeu com um dia de reabertura das escolas, admitindo o cenário “menos mau” de apontar para o início de maio, destacando os problemas dos alunos que têm exames nacionais e o acesso ao Ensino Superior no horizonte, recordando que no dia 7 de abril a sessão de apresentação da situação epidemiológica em Portugal será dedicada a estudar as condições de regresso à normalidade. “Temos que salvar o ano letivo e assegurando a todos a maior justiça na avaliação e na aprendizagem”, disse António Costa, apontando uma “rede de segurança através da televisão” como a solução para manter os conteúdos educativos disponíveis, nomeadamente através da televisão digital terrestre, enquanto “rede de segurança”, e dos meios digitais.

Quanto às acusações de falta de equipamentos de proteção para os profissionais de saúde e de material hospitalar para o tratamento de doentes com Covid-19, António Costa disse “não querer alimentar polémicas”, mas garantiu que “todos os dias adquirimos mais material para satisfazer as necessidades que são constantes”. Algo que salientou ser particularmente difícil numa conjuntura em que todos os países fazem encomendas para responder à pandemia e a China, principal produtor mundial desses equipamentos, viu a sua produção industrial afetada pelas medidas de contenção para evitar o contágio do coronavírus.

“Porque é que estamos a comprar tantos ventiladores? Primeiro porque temos de desejar o melhor e estar sempre preparados para o pior, e ninguém quer que os médicos estejam a escolher a quem vão aplicar o ventilador, e dar segurança à população que temos preparação para aguentar esta situação caso se agrave”, disse António Costa, que indicou “o vírus do pânico que se generalize” como uma ameaça tão grave quanto o próprio coronavírus.

“É fundamental que com sintomas ou sem sintomas todos mantenhamos a distância social”, realçou o primeiro-ministro, sentado a cerca de três metros de distância da apresentadora da SIC. Quando esta lhe perguntou se pudesse escolher seria primeiro-ministro nesta altura,  Costa respondeu ter muito orgulho de servir o meu país neste momento difícil que estamos a viver e uma enorme angústia de saber se estou à altura”.

António Costa já tinha entrado em direto no “Programa da Cristina” em março de 2019, tendo então cozinhado uma cataplana de peixe no estúdio, acompanhado pela mulher, Fernanda Tadeu, e pelos filhos. Tratou-se de uma conversa intimista sobre o seu percurso de vida, mas em que o primeiro-ministro também abordou temas como os incêndios florestais de 2017.

Antes dele, fora a então presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, a “visitar” Cristina Ferreira, demonstrando igualmente os dotes para a culinária com uma sopa de peixe. Mais tarde seria o líder social-democrata Rui Rio a fazer uma corrida de carrinhos elétricos com a apresentadora, a qual contou com um telefonema em direto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na primeira emissão do seu programa, depois de se transferir da TVI para a SIC.

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