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António Costa diz que discurso de ministro holandês das Finanças é “repugnante”

Depois do ministro holandês das Finanças ter pedido à Comissão Europeia para investigar países como Espanha e Itália, por não terem uma almofada financeira que lhes permita enfrentar a crise provocada pelo Covid-19, o primeiro-ministro criticou a atitude de Haia.
  • António Pedro Santos / Lusa
27 Março 2020, 08h16

António Costa qualificou as declarações do ministro das Finanças holandês como “repugnante”, no final de uma reunião dos líderes dos países da União Europeia (UE).

Wopke Hoekstra defendeu que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha ou Itália por não terem acumulado nos últimos anos uma almofada financeira que lhe permitisse neste momento enfrentar a crise provocada pelo novo coronavírus.

“Esse discurso é repugnante no quadro da União Europeia e a expressão é mesmo esta: repugnante”, disse o primeiro-ministro em conferência de imprensa na noite de quinta-feira. “Ninguém está disponivel para voltar a ouvir ministros das Finanças holandeses como aqueles que já ouvimos em 2008, 2009, 2010 e anos consecutivos”.

“Essa mesquinhez recorrente mina completamente o espirito da UE, e ameaça o futuro da UE. E se a UE quer sobreviver é inaceitável que um responsável político, seja de que pais for, possa dar respostas dessa natureza perante uma pandemia como aquela que estamos a viver, foi à custa disto que todos percebemos que insuportável trabalhar com o senhor [Jeroen] Dijsselbloem [antigo ministro das Finanças holandês]. Mas pelos vistos há países que insistem em irem mudando de nomes, mas mantendo pessoas com o mesmo perfil”, afirmou António Costa após a videoconferência de seis horas.

O primeiro-ministro recordou assim o episódio polémico que envolveu Jeroen Dijsselbloem, então presidente do Eurogrupo, quando acusou os europeus do sul da Europa de de gastarem o seu dinheiro “em copos e mulheres” e “depois pedirem que os ajudem”. Uma polémica que levou o Governo de António Costa a pedir o seu afastamento da liderança do Eurogrupo.

Na reunião do Conselho Europeu de quinta-feira – e tal como nos anos da crise das dívidas soberanas a partir de 2011 -, a União Europeia dividiu-se em dois blocos. França, Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, Bélgica, Luxemburgo e Eslovénia defenderam a necessidade de emitir eurobonds para financiar medidas de forma a mitigar o impacto económico da epidemia do novo coronavírus (Covid-19), segundo avança o jornal holandês Volkskrant. No outro lado da barricada, quatro países defendem uma linha mais dura: sem emissão de eurobonds: Alemanha, Países Baixos, Aústria e Finlândia.

“É uma boa altura de compreenderem todos que não foi a Espanha que criou o vírus, nem foi a Espanha que importou o vírus. O virus infelizmente atingiu a todos por igual”, disse António Costa.

“Se não nos respeitamos todos uns aos outros e se não compreendemos que perante um desafio comum temos de ter capacidade de responder em comum entao ninguem percebeu nada o que é a UE. Se alguém na UE pensa que resolve o problema do vírus, deixando-o a solta, está muito enganado”, afirmou o primeiro-ministro.

A reunião dos líderes europeus esteve muito perto de terminar num fracasso, como escreve o El País, depois de Itália e de Espanha terem decidido rejeitar assinar uma declaração vaga e sem medidas concretas.

A nega de Espanha chegou no momento em que o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, perguntou se havia acordo: “Não”, respondeu o primeiro-ministro espanhol, avisando que não iria assinar “nenhum acordo que não fixe um mandato claro para que os ministros de Economia possam continuar a trabalhar” num plano económico de resposta à crise, segundo o El País.

Perante a recusa de Espanha, apoiada por Itália, os líderes aceitaram um adiamento de 15 dias para tentar chegar a um acordo sobre um plano para responder economicamente à pandemia do coronavírus.

 

 

https://jornaleconomico.pt/noticias/antonio-costa-nao-ha-consenso-a-europa-precisa-de-fazer-muito-mais-566815

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