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António Saraiva: “Gostaria de ter deixado um salário mínimo melhor”

Em entrevista ao programa “Primeira Pessoa”, o palco das grandes entrevistas do Jornal Económico (com Shrikesh Laxmidas, Diretor Adjunto do Jornal Económico e o jornalista João Marcelino), António Saraiva, presidente da CIP falou do caminho que Portugal deve seguir para se tornar mais competitivo.
  • Cristina Bernardo
12 Março 2019, 07h47

Já disse que em dezembro termina um mandato à frente da CIP. Sei que ainda falta bastante tempo mas que legado acha que deixa na economia portuguesa?

Na verdade, terminarei em março, de hoje a um ano. Porque o mandato termina em dezembro e as eleições só serão no primeiro trimestre do ano seguinte. Daqui a um ano estaremos em eleições para os novos órgãos sociais da CIP.

O legado que deixo é uma melhor arrumação do movimento associativo empresarial. A CIP, aproveitando as três letras, cada vez mais antecipa e participa e por isso uma melhor resposta, uma dignificação dos empresários, da iniciativa privada, num tempo que foi difícil. Nos meus mandatos passei pela troika, pela austeridade, pela desalavancagem que fizemos, pela desagregação empresarial porque as empresas, fruto de tudo isto muitas delas fecharam o desemprego a níveis inamagináveis. De facto, Portugal está melhor. A CIP sempre respondeu presente enquanto parceiro social responsável com ideias, quer internamente em sede de concertação social quer em Bruxelas, por isso, em termos de dignificação da iniciativa privada e dos empresários, o papel da CIP, que tive o orgulho de liderar durante os últimos 10 anos, é hoje mais visível e mais necessário do que foi no passado, permita-me a modéstia.

Já que estamos a falar em legado, qual a personalidade com quem teve mais gosto em trabalhar?

Não lhe destacaria um em particular. Quando iniciei funções na CIP como presidente, estava o Governo de José Sócrates, e tive com ministros de José Sócrates, com os quais ainda tenho relações depois do Governo de Pedro Passos Coelho. Lidamos muito com a economia, com o trabalho, com negócios estrangeiros. Por isso, desde Luís Amado, Pedro Mota Soares, Vieira da Silva, agora Pedro Siza Vieira. Não destacaria ninguém em particular mas há um leque alargado, uns que inclusivamente já saíram e que estão hoje na Câmara Municipal de Lisboa, como Fernando Medina. O próprio Pedro Passos Coelho. Há um leque de pessoas porque, independentemente, dos partidos eu ainda alimento uma certa utopia de posicionamento. Habituei-me com estes Governos, com os quais trabalhei, a perceber que independentemente das ideologias e do clubismo que os partidos obrigam, todas as pessoas mostraram ter interesse num Portugal melhor.

Já que falou nos trabalhadores. Acha que deixa um salário mínimo digno?

Gostaria de ter deixado um salário mínimo melhor porque gostaria de ter criado condições à economia para o poder pagar. Porque o espaço europeu em que nos inserimos tem também sérias desigualdades. Em Portugal, hoje pagamos 600 euros mas na República Checa, na Roménia, Eslováquia, Eslovénia, infelizmente, este é menor e é com ele que nós concorremos. Temos fragilidades empresariais em Portugal em que os 600 euros, porque estamos a falar de um ordenado em que a empresa tem de ter cerca de mil euros em caixa, e há empresas que pelas curtíssimas margens e que demasiado expostas a esta concorrência perversa que a legislação os obriga, têm sérias dificuldades em grandes alterações da massa salarial. Temos de as proteger. É também com orgulho que vejo que a esmagadora maioria das empresas, nos sucessivos contratos coletivos de trabalho que têm sido realizados, pagam hoje acima do salário mínimo e isso significa que a economia criou condições para que isso acontecesse e ainda bem que assim é.

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