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“Apertão? Não, Não. Temos de lá ir falar todos”. A reunião onde tudo começou

Episódio foi relatado ao “Jornal Económico” por fonte oficial do Sporting a 18 de maio, três dias após os ataques na Academia do SCP em Alcochete. Desejo da Juve Leo em dar um “apertão” aos jogadores foi manifestado num encontro com Bruno de Carvalho, a 7 de abril, depois da derrota da equipa em Madrid.
  • Cristina Bernardo
12 Novembro 2018, 12h09

O presidente do Sporting reuniu com os núcleos da juventude leonina a 7 de abril, dois dias após a derrota com o Atlético de Madrid (2-0). No encontro, as claques reclamaram uma festa de homenagem a Fernando Mendes (ex-líder da Juve Leo), que voltou a ser recusada por Bruno de Carvalho. O ambiente azedou e subiu de tom quando confrontaram o presidente do clube com a derrota no jogo dos quartos-de-final da Liga Europa, tendo os líderes da Juve Leo lançado repto: “Presidente, temos de lá ir dar-lhes um apertão”. Bruno de Carvalho respondeu: “Não. Não. Temos de lá ir falar todos”.

O episódio foi relatado ao “Jornal Económico” a 18 de maio, três dias depois dos ataques em Alcochete, por fonte oficial do clube, após ter sido questionado sobre a realização de uma reunião entre o ex-presidente do Sporting e os membros das claques, na sede da Juve Leo no espaço conhecido como a Casinha, em Alvalade, depois da derrota da equipa em Madrid, e onde, face às críticas e pressões das claques, terá dado carta branca para “pressionarem” os jogadores e o treinador.

A resposta oficial surgiu através de José Ribeiro, do gabinete de comunicação, depois de várias insistências do Jornal Económico, junto do clube para saber se Bruno de Carvalho deu carta branca para os radicais desta claque do Sporting “apertarem” com os jogadores e equipa técnica.

“Teve uma reunião no dia 7 de abril, por volta das 23 horas. Bruno de Carvalho foi acompanhado por um grupo de seguranças à sede da Juve Leo, onde se realizava uma festa dos núcleos da juventude leonina”, avançou na altura José Ribeiro.

A mesma fonte avançou que, nessa reunião “o presidente esteve meia hora” e “foi criticado pelo facto de na festa de Natal [de 2017] não ter aceite a proposta de se fazer uma festa de homenagem a Fernando Mendes, [ex-líder da Juve Leo]”. E realçou que “o assunto voltou à carga quatro meses depois “ e “o presidente voltou a dizer: «não contem comigo para fazer qualquer festa de homenagem a Fernando Mendes»”.

É aqui que Bruno Jacinto assegura que o “ambiente azedou”, tendo a tensão “aumentado” com outros assuntos que Bruno de Carvalho foi confrontado, nomeadamente um pedido de explicações por ter “destratado os três irmãos Rocha [filhos de João Rocha, antigo presidente do Sporting que dá nome ao pavilhão, e fundadores da Juve Leo”]”.

Questionado sobre se o ambiente azedou por terem sido colocados apenas esses temas e se a derrota do Sporting em Madrid não foi tema de discussão, dado que tinha ocorrido dois dias antes, José Ribeiro prossegue: “sim, foi abordado. Disseram que os jogadores não jogaram nada e que era uma vergonha o que aconteceu em Madrid”.

Foi neste ponto da conversa com Bruno de Carvalho, que, diz a mesma fonte, os elementos da Juve Leo lançaram o repto: “Presidente, temos de lá ir dar-lhes um apertão. Bruno de Carvalho respondeu: Não. Não. Temos de lá ir falar todos”.

Segundo José Ribeiro, “o Sporting costuma realizar não mais de uma vez por ano, encontros para desanuviar o ambiente de tensão”. Estes encontros, explica, “passam por levar representantes de cada claque à Academia de Alcochete, acompanhados por Bruno de Carvalho e segurança,  para falar com os jogadores e treinador”.

Questionado sobre se este encontro já se realizou alguma vez com o treinador Jorge Jesus, a mesma fonte afirma que foram feitos com os treinadores Leonardo Jardim e Marco Silva. “Esta situação foi falada dia 7 de abril [reunião entre Bruno de Carvalho e os responsáveis da Juve Leo], mas nunca se proporcionou devido ao calendário das competições oficiais do Sporting na Liga Europa“, explicou.

José Ribeiro acrescentou ainda que “o ambiente estava de cortar à faca e isto tudo aconteceu depois de uma reunião com o plantel, nessa mesma tarde, onde os jogadores acusaram Bruno de Carvalho de ter mandado Mustafá [líder da Juve Leo] agredir os jogadores”.

Número de arguidos sobe para 40

Na sequência das agressões na Academia de Alcochete,  a 15 de maio, mais de 40 dos cerca de 50 invasores foram já identificados, segundo.

Até agora, excluindo Bruno de Carvalho e “Mustafá”, apenas 38 encontram-se detidos em prisão preventiva – todos eles estão indiciados pela prática de crimes de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro, dano com violência, incêndio florestal e introdução em lugar vedado ao público, segundo comunicado do Tribunal do Barreiro.

Vários testemunhos terão incriminado Bruno de Carvalho e Mustafá, nomeadamente o de Bruno Jacinto, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA) do Sporting, o último dos alegados envolvidos nas agressões aos jogadores do Sporting que ficou em prisão preventiva, depois de ter sido ouvido no mês passado no Tribunal do Barreiro, no âmbito do ataque à Academia de Alcochete.

O juiz justificou a medida de coação mais grave com perigo de fuga, risco de perturbação do inquérito e de continuação da atividade criminosa.

Bruno Jacinto, que na altura das ocorrências era oficial de ligação aos adeptos, permitiu que os elementos da claque invadissem o centro de estágios do Sporting e, após os ataques, ajudou a retirar alguns do local. Está indiciado, entre outros, pela prática, em co-autoria, de mais de 20 crimes de ameaça agravada, 12 crimes de ofensa à integridade, 20 crimes de sequestro e um crime de terrorismo.

Na altura desta última detenção, o advogado de Jacinto chegou a afirmar que quem deveria estar na prisão era Bruno de Carvalho. Bruno Jacinto foi quem telefonou para a academia de Alcochete poucos minutos antes da invasão dos adeptos que agrediram jogadores e treinadores, avisando sobre chegada dos membros da Juve Leo.

 

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