[weglot_switcher]

As ações eletrizantes da Tesla

Pioneira e ambiciosa, a fabricante de carros elétricos tem disparado na bolsa. Os analistas mostram receio, mas a visão do CEO convence os investidores.
16 Julho 2017, 17h00

Na Tesla, a moderação reside somente nas emissões de carbono. Em tudo o resto, a fabricante norte-americana de carros elétricos é agitada e acelerada, seja na velocidade dos próprios veículos, nas vendas e metas, no investimento e inovação, ou na criatividade e carisma do CEO, Elon Musk.

O desempenho das ações em bolsa não é excepção. Em pouco mais de sete anos a cotação disparou mais de 1.200%. Uma conjugação de fatores criou enorme expetativa em relação à empresa que quer acelerar a transição mundial para a energia sustentável. O crescimento das vendas, o lançamento de novos modelos e os anúncios de Musk sobre grandes investimentos costumam ser os gatilhos positivos.

No entanto, a intensa antecipação resulta, de vez em quando, em desilusão, com a carga emocional que a empresa parece representar para os investidores a refletir-se nas ações. Não é que seja um título volátil. A tendência desde a entrada em bolsa tem sido de crescimento, mas é caraterizado por variações significativas. Seja em alta ou em queda, os dias em que ações da Tesla variam menos de 1% são uma minoria, enquanto os disparos e tombos não são raros.
A últimas semanas de junho e as primeiras duas deste mês são sintomáticas das oscilações do título. Após a cotação ter atingido um novo máximo histórico (383,75 dólares) com notícias sobre negociações para abrir uma fábrica na China, o início de julho trouxe uma inversão.

No dia 5, as ações afundaram mais de 7% após a empresa ter anunciado que um défice significativo de baterias limitou a produção de veículos no primeiro semestre, realçando um dos principais desafios enfrentados pelas fabricantes de carros elétricos. Na sessão seguinte, a queda foi de 5,58%, causada por um resultado fraco num teste de segurança ao Model S.

Os analistas explicaram que a pressão sobre as ações advém também do aumento da concorrência que a Tesla vai enfrentar. Nessa mesma semana, a Volvo anunciou que todos os modelos produzidos a partir de 2019 vão ser elétricos ou híbridos.

A sequência de quedas veio ressuscitar alguns dos alertas recorrentes sobre a Tesla – que é ambiciosa mas incapaz de garantir a produção, que foi pioneira mas não tem o poder de fogo necessário para combater a entrada em campo dos rivais tradicionais como a Volvo, a BMW ou a Volkswagen, e que há dúvidas sobre quando irá registar lucros.

“Vemos as ações da Tesla como estando sobre-avaliadas”, alertaram os analistas da Cowen&Company. “É um título que tem negociado como um concept dado a diferença entre o desempenho da cotação e as estimativas”.

Segundo dados da Thomson Reuters, a cotação está cerca de 25% acima do preço-alvo médio dos analistas. 14 das 21 recomendações deste são ‘vender’ ou ‘manter’, um sinal de como o mercado começa a ter mais cuidado com o rally da Tesla.

O histórico demonstra, no entanto, que o CEO Elon Musk tem conseguido ultrapassar esses receios através de notícias positivas, muitas vezes causando perdas significativas a operadores que têm posições curtas na Tesla.

Às quedas da semana passada, seguiu-se o anúncio que a empresa ganhou um contrato para desenvolver uma bateria que servirá de backup à rede elétrica num estado do sul da Austrália. O projeto, que representa um teste sobre a fiabilidade de energia renovável em larga escala, terá capacidade para fornecer energia a 30 mil residências no caso de um apagão.

Passados dois dias, Musk mostrou, num tweet, o primeiro Model 3 a sair da fábrica. A Tesla espera que este novo modelo, um sedan e mais barato que os antecessores (35 mil dólares) possa atrair um mercado mais alargado e multiplicar as vendas anuais da empresa em cinco vezes. Depois do tombo de dia 6, as ações subiram nas cinco sessões seguintes.

A visão e a liderança de Musk também têm garantido que a Tesla se consiga financiar sem problemas, como se viu num aumento de capital de 1.200 milhões de dólares realizado em abril. Foi a segunda operação do género em menos de um ano.

“A habilidade de Musk em angariar capital no mercado significa que a empresa terá oportunidade de estar por aí durante muito tempo”, realçou Stephen Guilfoyle, presidente da corretora Sarge986 ao The Street.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.