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As cinco vezes que França e Itália estiveram para pegar nas luvas de boxe

Roma e Paris têm tido momentos de tensão desde Leonardo da Vinci, que morreu em 1519, até às manifestações dos coletes amarelos.
17 Fevereiro 2019, 15h00

A tensão tem vindo a aumentar entre França e Itália e os dois países estão perto de cortar relações. O embaixador francês que está destacado em Roma foi chamado a Paris para participar em uma reunião sobre os “ataques infundados repetidos” de que têm sido alvo por parte do Governo italiano. A participação de um embaixador francês, deslocado em Itália, para uma reunião em França é algo que não acontece desde 1940, quando Benito Mussolini declarou guerra a França.

O jornal italiano “Libero” atacou o vizinho do norte ao dizer que “os franceses acham que são os melhores em tudo. Gostam de se mostrar, e são convencidos mesmo que sejam fracos”. Ainda assim, o jornal online “Politico” contesta esta declaração ao afirmar que os franceses estão a ser superiores, porque nos últimos 20 anos conseguiram comprar a marca de laticínios Parmalat e a marca de luxo Gucci, além de existirem rumores que a Generali poderá unir-se à rival Axa.

Cinco vezes que França e Itália estiveram para pegar nas luvas de boxe

Leonardo Da Vinci

A figura mais conhecida do Renascimento não fica imune a esta luta de boxe. Nasceu em 1452 em Itália mas morreu em 1519 em França, o que dá mote para a batalha onde a arte não fica esquecida.

Em 2017 o governo italiano concordou em emprestar grande parte da obra de Da Vinci ao museu Louvre que quer celebrar o aniversário da morte dos 500 anos do pintor em outubro. Mas existe um problema para os italianos: o autor da famosa “Mona Lisa” e de “A Última Ceia” é italiano, uma vez que lá nasceu. Lucia Borgonzoni, sub-secretária de Estado para a cultura afirmou isso mesmo “Leonardo é italiano, apenas morreu em França” e adicionou que o pintor “não se chama Leonardò, como lhe chamam, mas Leonardo”, depois de anunciar a intenção de renegociar o acordo com o museu francês.

 

Coletes amarelos

A mais recente provocação provém do Movimento 5 Estrelas que identificou Macron como símbolo do modelo pró União Europeia que quer destruir. No entanto, Luigi Di Maio, líder deste movimento e primeiro-ministro, já tinha demonstrado apoio público ao ‘movimento dos coletes amarelos’ que estava a causar destruição em Paris. Di Maio chegou a encontrar-se com líderes do movimento de protesto que inicialmente se opunha ao aumento do preço dos combustíveis mas generalizou-se contra Macron.

O primeiro-ministro italiano declarou que a reunião com os ‘coletes amarelos’ “não constitui uma provocação” para o governo francês, embora o governo parisiense tenha “atacado por diversas vezes o governo italiano” aquando a corrida para as eleições europeias que decorrem em maio.

 

Migração africana

Outro problema que envolve, ainda, o atual governo. Alessandro Di Battista, um dos líderes do movimento, afirmou em um entrevista televisiva que França está a causar os problemas em África. Di Battista disse que a única forma de revolver o problema da migração africana é atacar a soberania monetária que está presente: o franco CFA, que é usado em 14 antigas colónias francesas, nomeadamente nações abaixo do Saara. A moeda usada nesses países é impresso em França e o câmbio fixou, fazendo com que França controle esses países onde a moeda é usada.

 

Líbia

O jornal “Politico” considera que a explosão dos atuais problemas dos dois países começaram em 2011 quando o presidente Nicolas Sarkozy ordenou a intervenção militar na Líbia, uma antiga colónia italiana onde Roma consegue grande parte do combustível fóssil. Muitos habitantes de Roma afirmam que Paris foi longe demais com a invasão do país africano.

Os italianos culpam o governo francês pelo aumento do número de migrantes a atravessar o Mar Mediterrâneo que depois abandonam o país quando existem consequências. Ainda que seja um problema que anteceda a subida de Macron ao poder, nos últimos dois anos tem piorado consideravelmente.

 

Comboio de alta velocidade

Os dois governos estão envoltos em controvérsia devido ao projeto férreo que ligará Turin a Lyon. O governo italiano é contra o projeto de 8,6 mil milhões de euros, e já apresentaram ao embaixador francês Christian Masset um relatório com a análise do custo-benefício onde prova que Itália pode perder 7 mil milhões de euros se o projeto avançar.

No entanto, França não ficou convencida com o relatório. Além de já terem escavado 25 quilómetros na zona dos Alpes, Bruxelas já avisou que se existirem muitos atrasos retira o financiamento do projeto, que vai nos 400 milhões de euros. “Há prazos que requerem decisões que sejam feitas em horários compatíveis com a mobilização dos fundos europeus” garantiu a ministra dos transportes francesa Elisabeth Borne. Itália já avisou que vai discutir o projeto com Paris, mas ainda não marcou nenhuma data.

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