Espanha já teve em seu poder parte de França, parte de Itália, parte da Alemanha e ainda Portugal. Espanha foi um Estado-império na Europa que, ao longo dos séculos, sempre mostrou dificuldade em libertar-se dessa amarra. É também verdade que a Catalunha só é nação conscientemente desde os primeiros anos 20 do século passado, com uma bandeira de 1918.

Mas o que está em causa neste crescendo de afirmação da autoridade por parte de Madrid, com sentenças sobre dirigentes catalães, é a falta de diálogo. Recordemos a história, na qual Portugal é um exemplo. Tivemos também um problema relativamente recente de secessão com a Frente de Libertação dos Açores. A organização não teve êxito em termos de escolhas políticas, mas o líder, José de Almeida, chegou a ser acusado pelo Estado português, num modelo muito idêntico ao processo dos independentistas da Catalunha. A solução em Portugal foi simples: absolvemos e assim deixou de haver separatismos.

Em Espanha o bom senso deveria ter prevalecido. O país vive um momento eleitoral e os independentistas, a acreditar nas sondagens, nem sequer ganhariam as eleições e, convenhamos, numa democracia, um voto não pode ter esta carga dramática. E importa não esquecer outro tema complexo, que é a circunstância de em Bilbau e Barcelona haver mais espanhóis do que no resto da Catalunha e do País Basco. Os espanhóis também lá estão há 500 anos e não tem de haver deslocações massivas.

Acontece que Espanha tem uma atitude de elite que gera ódios. Por esta via pode surgir um novo fenómeno de independentismo e fenómenos de violência, algo que antes das condenações dos dirigentes estava relativamente adormecido. No que respeita ao rei Filipe VI, já disse o que tinha a dizer: a sua missão é a unidade de Espanha.

E voltando às sondagens na Catalunha, aquilo que os analistas constatam é que existem três grandes tendências, sendo que aquela que defende uma autonomia sem rutura tenderá a crescer, embora o problema persista. Relembremos que na região não há um PSOE, mas sim um Partido Socialista da Catalunha.

E perante o mal que está feito e que gerou confrontos, divisões, ódios perante Madrid, e confrontos entre a população local, os políticos de Madrid ficam com a solução fundamental para evitar sangue, desemprego ou quebra da economia: uma nova Constituição federalista, semelhante à da antiga República Federal da Alemanha.

Tudo isto acontece quando temos o problema do Curdistão e aquilo que não queremos é que a Catalunha seja o Curdistão da península. E depois há outros interesses colaterais e o receio do impacto na própria França, que tem uma minoria basca e outra catalã dentro do seu território, uma vez que aquelas minorias podem, no futuro, reivindicar território francês.

A solução é, claramente, o federalismo europeu numa estratégia de dividir para unificar. E tudo sem necessidade de intelectualismo na apresentação do projeto. Muito naturalmente, irá emergir a história da Escócia independente mas que quer estar dentro da União Europeia. É a democracia a funcionar.