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“As empresas são tão determinantes para um futuro sustentável como os consumidores”

De forma geral, a produção e distribuição alimentar terá que ser reformulada e tanto os produtores e os retalhistas estão na mira da frente para a adoção de novas práticas internas e a promoção de uma alimentação mais sustentável.
16 Outubro 2019, 13h54

Em 2050 seremos mais de 10 mil milhões e por isso a produção alimentar terá que aumentar. Seremos mais a necessitar de alimento numa altura em que haverá menos recursos e o acesso à comida vai ser menor. Para além desta componente ser uma preocupação para o consumidor, é também um desafio que terá de ser enfrentado pela industria de produção e retalho.

Este foi o tema de debate na conferência “Alimentar o Futuro” realizada em com o apoio da sociedade de advogados Vieira de Almeida & Associados (VdA), esta quarta-feira, e no qual o Jornal Económico foi media partner. No painel de debate que contou com figuras determinantes no setor alimentar, foram discutidos os vários pontos desta problemática e as soluções para combate-la.

Para se chegar a uma alimentação sustentável é preciso ter em conta dois fatores: a industria e os consumidores.

Do ponto de vista social, o problema mais alarmante para estas empresas será a demografia e a dificuldade que será em responder ao aumento da procura. A população mundial deverá atingir os 10 mil milhões de pessoas em 2050. Para alimentar todas estas pessoas, a produção de alimentos terá que aumentar 70%, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Serão necessários mais recursos, no entanto, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tanto o acesso à agua como a um espaço na terra será limitado.

Para isso, a produção vai ter que ser reformulada e quem vai impulsionar essa reforma serão os consumidores. “Existem dificuldades em termos de recursos, como o terreno e a água, mas também existem novos consumidores sensíveis a temáticas”, explica a diretora de comunicação corporativa do Lidl. “São estes consumidores que vão exigir a mudança e influenciar o mercado, nomeadamente em termos do plástico, redução do consumo de carne, etc”. Enquanto retalhistas, caberá aos grandes players inovar o mercado, sublinhou Vanessa Rocha. “O consumidor hoje em dia exige comportamentos mais responsáveis por parte de todos”, remata.

A resposta para a inovação é a tecnologia. “Estamos programados para comer de uma maneira. Temos que ser reprogramados para aceitar outras alternativas”, continuou Jorge Portugal que fez referência às várias startups que têm na mira oferecer alternativas ao consumo de carne e à distribuição alimentar de modo a que haja um consumo mais sustentável.  Num mercado que vale mais de 3 mil milhões de euros, o universo dos alimentos funcionais, grande parte criados a partir de resíduos, é identificado como um outro grande potencial no futuro da alimentação.

Porém, para estas startups, que têm como objetivo oferecer uma alternativa ao consumidor, apurar um financiamento de um banco ou fechar um acordo de investimento, é também um desafio. Segundo Sofia Santos, o tema de “sustentabilidade” só agora é que estão a chegar ao setor financeiro. “Estes temas são novos, porém estão a ser desenvolvidos rapidamente no sentido de juntar a ciência à finança”, explica a economista e especialista em economia circular. “Não existe uma linguagem comum, mas de modo a avaliar um projeto que tenha como base a sustentabilidade, o setor financeiro vai ter que investir em compreender a ciência”.

O Conselho Europeu tem no topo da agenda desenvolver plataformas para financiar esta tendência, através das Green Bonds e os critérios mínimos ambientais. Este tipo de emissões de dívida, destinadas a financiar projetos sustentáveis da perspetiva ambiental, tem vindo a crescer de forma significativa e a tendência irá manter-se nos próximos anos.

Até que exista um aumento significativo deste tipo de empresas, é necessário que as atuais trabalhem no sentido de fornecer alternativas sustentáveis aos consumidores. O Diretor de Marketing da Cerealis, também presente no painel, sublinhou esse ponto: “Na Cerealis o consumidor e os parceiros têm um papel importante”, começou por vincar João Paulo Rocha. “Nós, enquanto parceiros do Lidl, temos que respeitar as políticas de sustentabilidade que eles defendem. Se queremos trabalhar com parceiros que tenham na mira políticas verdes, enquanto empresa, temos que nos adaptar também”, reforçou.

Esta quarta-feira, dia 16 de outubro, o Jornal Económico assinalou o Dia Mundial da Alimentação com uma conferência “Alimentar o Futuro”. Este evento foi organizado em parceria com o Executive Board dos Food & Nutrition Awards (FNA), servindo de arranque à décima edição destes prémios que distinguem os projetos e os produtos mais inovadores na indústria agroalimentar e que serão atribuídos em janeiro. A conferência contou com o apoio da Vieira de Almeida & Associados (VdA).

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