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“As Ilhas Gregas” pelos olhos de Lawrence Durrell

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
  • Marta Teives
1 Outubro 2016, 10h05

A literatura de viagens é tão vasta como qualquer outro género, pelo que tem livros bons e maus, alguns nem uma coisa nem outra, e uns quantos excelentes. Estes valem bem por um guia e, mesmo quando ficamos a lê-los no sofá de casa, transportam-nos para o local descrito, ao ponto de quase sentirmos sabores e odores. Um dia, quando decidimos visitar esses locais, reconhecemo-los sem dificuldade. A memória faz-nos regressar às páginas do livro. São raros e “As Ilhas Gregas” é um deles.

Lawrence Durrell nasceu em 1912, no norte da Índia, perto do Tibete, de pai inglês e mãe irlandesa, aí vivendo até aos onze anos, quando foi enviado para Inglaterra para estudar. As dificuldades de adaptação impediram-no de prosseguir os estudos até à universidade. Durrell nunca gostou desta sua estadia em Inglaterra e chegou a afirmar que “a vida inglesa era como uma autópsia”. Foi então que escolheu outro caminho: ser escritor.

A sua vida iria mudar em 1935 graças a dois acontecimentos: uma mudança com toda a família – mãe, irmãos e primeira mulher, Nancy Myers – para Corfu, na Grécia, onde a vida era mais barata e o inverno muito mais suportável. Isto e uma carta que escreveu a Henry Miller depois de ter lido “O Trópico de Capricórnio”, que viria a ser a primeira de muitas e daria início a uma amizade que duraria 45 anos. Diga-se, a título de curiosidade, que acabou por ser o irmão mais novo, Gerald Durrell, o autor daquela que é a descrição mais hilariante desses anos em Corfu, em “My Family and Other Animals”.

A ida de Durrell para o Cairo, em 1941, fugindo do avanço do exército alemão e, no ano seguinte, após separar-se de Nancy, para Alexandria – na época da guerra, um paradigma do cruzamento oriente-ocidente –, serviu de inspiração para a obra pela qual é mais conhecido: a tetralogia “O Quarteto de Alexandria”.

 

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Na obra “As Ilhas Gregas”, Durrell oferece-nos uma lindíssima descrição das pessoas, da paisagem e da cultura gregas. Com inúmeras referências à história e mitologia, o autor leva-nos numa viagem pelos vários arquipélagos, do mar Jónico ao estreito de Dardanelos, o Helesponto dos gregos, tão importante na Guerra de Tróia, e que Alexandre Magno viria a atravessar, iniciando a sua conquista da Ásia.

Numa época em que o turismo de massas ainda não tinha chegado à Grécia, o tempo e o modo como decorre a viagem de Lawrence deixam no leitor um travo algo nostálgico, como só a nostalgia por aquilo que não tivemos a oportunidade de viver consegue deixar.

Se juntarmos a este livro “Corazón de Ulises”, do escritor e viajante espanhol Javier Reverte, “O Colosso de Maroussi”, de Henry Miller (relato de uma viagem à Grécia feita a convite de Durrell) e “Le Labyrinthe au Bord de la Mer”, do poeta polaco Zbigniew Herbert, teremos a tetralogia perfeita para ler antes, durante ou depois de uma viagem a este extraordinário país mediterrânico, a quem tanto devemos, histórica e culturalmente, e sobre o qual muito se tem escrito ultimamente mas nunca à altura do legado que nos deixou.

Por tudo isto, saudamos esta edição da Relógio d’Água, integrada numa coleção dedicada a viagens. À laia de apontamento, refira-se que Durrell tem mais dois livros sobre a Grécia, “Prospero’s Cell”, especificamente sobre Corfu, e “Reflections on a Marine Venus”, dedicado a Rodes.

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