As eleições europeias deste domingo foram talvez as mais relevantes das últimas décadas, devido ao contexto internacional em que tiveram lugar e aos múltiplos desafios que a União tem pela frente.

Mas comecemos pelo nosso país. O PS (33,4%) é o grande vencedor destas eleições, seguido do Bloco de Esquerda (9,8%), que na euforia da noite eleitoral se assumiu como a terceira força política do país. De destacar ainda o resultado do PAN (5,1%), que de forma consistente tem-se afirmado no sistema político português, acompanhando a tendência europeia de ascensão dos partidos ecologistas (ver abaixo). Por sua vez, o PSD (21,9%) e o CDS (6,2%) foram os grandes derrotados, mostrando-se incapazes de federar as direitas e de chamar às urnas o seu próprio eleitorado tradicional. O apelo de Cristas para os militantes levarem as tias idosas a votar tinha mesmo a sua razão de ser, à falta de outra motivação.

Por sua vez, a CDU (6,9%) ficou atrás do Bloco (com menos 100 mil votos) e perdeu um eurodeputado, deixando antever um reequilíbrio de forças no seio dos partidos da geringonça, com consequências ainda difíceis de prever, no que toca às próximas legislativas. Já o Aliança, o Livre e outros pequenos partidos não conseguiram descolar.

Dito isto, a principal vencedora em Portugal é a abstenção, com mais de dois terços dos portugueses a optarem por não exercer o seu dever cívico. Isto significa que o partido mais votado nestas eleições, o PS, recebeu o apoio de cerca de 10% dos cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais. Este tema da abstenção merece uma análise per si, que aqui faremos noutra ocasião.

Na Europa, deixando de lado o caso específico do Reino Unido (onde o Brexit Party foi o grande vencedor), a grande novidade não foi a ascensão da extrema-direita, dos eurocépticos e dos populistas, apesar das vitórias de Le Pen em França e da Liga em Itália, mas sim a ascensão dos partidos ecologistas, numa altura em que as questões ambientais estão, cada vez mais, entre as principais preocupações dos eleitores. No total, os partidos de extrema-direita (coligados na ELN) conseguiram 58 lugares num parlamento com 751 deputados. Já os Verdes, que em países como a Alemanha passaram a ser a segunda força política, superando os sociais-democratas do SPD, conseguiram 70 lugares, mais 20 que em 2014.

Destaque ainda para o facto de os democratas-cristãos do Partido Popular Europeu (179 lugares, contra 221 em 2014) e os Socialistas e Democratas (150 lugares, face a 191 há cinco anos) terem perdido, pela primeira vez, a maioria na câmara. Por sua vez, os Liberais (onde estão o partido de Macron e o Ciudadanos espanhol) passaram de 67 deputados em 2014 para 107. Isto significa que teremos um parlamento europeu mais heterogéneo e onde as forças outrora dominantes dos democratas-cristãos e dos socialistas terão de procurar consensos com outras formações, nomeadamente com os Liberais e os Verdes. Por exemplo, para aprovar a escolha do futuro presidente da Comissão Europeia.