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As quatro doenças mais mortíferas do mundo (e como estamos a lidar com elas)

Ao longo da história da humanidade foram vários os desafios colocados à segurança sanitária global. Conheça o que foi feito e o que está a ser feito para prevenir e controlar quatro das doenças infecciosas que mais vítimas fizeram em todo o mundo.
  • Ricardo Moraes/REUTERS
15 Julho 2017, 16h00

Em pleno século XXI, as doenças infecciosas são ainda consideradas uma ameaça à segurança sanitária global. De tal forma que em 2013, a Organização Mundial de Saúde (OMS) veio defender que um dos maiores desafios da humanidade está na resistência dos microrganismos infeciosos aos antibióticos, apesar dos esforços médicos para o seu controlo e prevenção.

Ao longo da história da humanidade foram vários os desafios colocados em relação a esta matéria e vários foram também os avanços dados e as vitórias conseguidas. Entre as infeções mais mortiferas de sempre estão a tuberculose, a varíola, o HIV/SIDA e a gripe:

 

Tuberculose

Responsável pelo maior número de mortes em todo o mundo, a origem desta doença infecciosa é ainda pouco clara. A doença é causada por uma bactéria, designada por “bacilo de Koch” e atinge sobretudo os pulmões, sendo vulgarmente confundida com a pneumonia. No entanto, a “peste cinzenta” – como era conhecida antigamente – pode alastrar-se a outras partes do corpo como os gânglios, rins, ossos e intestinos.

O primeiro e mais importante sinal da tuberculose é a tosse recorrente. Esta é uma doença que vai avançando vagarosamente e pode manifestar-se ainda com o aparecimento de febre, especialmente durante a noite, perda de peso, fadiga, suores noturnos, tosse com sangue e a sensação de ser “consumido por dentro”.

Nos últimos 200 anos, mais de mil milhões de pessoas morreram devido a esta doença, que é altamente contagiosa. A OMS acredita que cerca de um terço da população mundial esteja infetada com tuberculose de forma latente, o que significa que a bactéria está presente no organismo mas é controlada pelo sistema imunológico e está “inativa”, não havendo a manifestação de sintomas nem a possibilidade de transmissão.

Atualmente existem medicamentos para a combater e, em diversos países, a doença foi dada como praticamente controlada e inexistente. Ainda assim, em 2015, houve 10,4 milhões de novos casos detetados em todo o mundo, sobretudo em países em desenvolvimento. O tratamento é complicado e os medicamentos aplicados são muitas vezes mal tolerados e têm efeitos colaterais. Acresce que quando não são tomados nas devidas quantidades, a bactéria pode tornar-se resistente ao tratamento.

Às crianças era administrada uma vacina contra a tuberculose após o nascimento, em Portugal. Contudo, o novo Programa Nacional de Vacinação, que entrou em vigor em janeiro, veio retirar esta vacina da lista, sendo esta apenas dada a crianças que pertençam a famílias com risco acrescido para a tuberculose ou que vivam numa determinada região com uma taxa da doença superior à do país.

 

Varíola 

Esta doença infectocontagiosa atormentou a humanidade por milénios. É causada por um vírus, chamado Orthopoxvirus, que é um dos maiores microrganismos infecciosos que atingem os seres humanos em todo o mundo, com 300 namometros de diâmetro e a possibilidade de ser visto ao microscópio.

A doença, agora dada como extinta, manifesta-se iniciamente com sintomas semelhantes aos da gripe: febre, dores musculares e gástricas e vómitos violentos. Trata-se de uma infeção ao nivel respiratório, mas o vírus multiplica-se e espalha-se para os órgãos linfáticos e para a pele, onde surgem as lesões desfigurantes, primeiro na boca, e depois em todo o corpo.

A varíola pode ser transmitida através de espirros ou contacto direto, tendo sido particularmente grave, com cerca de 30% das pessoas infetadas a morrer e grande parte das restantes a ficar com complicações associadas à infeção.

Acredita-se que a doença terá surgido na Índia, tendo-se propagado depois pelos continentes africano, onde foi considerada endémica até 1960. Por ano, a OMS estima que cerca de 2 milhões de pessoas terão morrido vítima desta infeção.

Em 1980, a varíola tornou-se a primeira doença infeciosa e, a única até agora, a ser declarada erradicada pela OMS, graças à descoberta da vacina contra o vírus pelo britânico Edward Jenner. O último caso de varíola foi relatado na Somália em 1977.

No entanto, apesar de ter desaparecido enquanto doença, o vírus permanece em laboratórios na Rússia e nos Estados Unidos e a preocupação de que a varíola venha a ser usada como arma de bioterrorismo é grande. O seu efeito poderia ser devastador, já que as pessoas já não são imunizadas contra a varíola.

 

HIV/SIDA

A doença surgiu nos anos 80, quando vários homens homossexuais nos Estados Unidos começaram a apresentar infecções incomuns e deficiências autoimunes graves. Só anos mais tarde é que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) haveria de ser descoberto, assim como o seu pesado fardo global.

Ao entrar no organismo, o vírus do HIV dirige-se ao sistema sanguíneo, onde começa de imediato a multiplicar-se. O vírus ataca depois o sistema imunológico, destruindo as células defensoras que encontra pelo caminho e deixando o organismo do infetado mais debilitado e sensível a outras doenças. Sem qualquer tipo de tratamento, quase todas as pessoas morrem.

A comunidade médica defende que o vírus, que provavelmente se originou em primatas em África, pode ter estado a infetar pessoas há quase um século, tendo-se espalhado muito rapidamente por todo o mundo. Até à data, cerca de 40 milhões de pessoas morreram com SIDA e estima-se que 36,7 milhões vivem com o vírus HIV. No entanto, a maioria das pessoas afetadas pelo HIV nos países ocidentais vive uma vida longa e saudável.

A doença pode ser transmitida entre os humanos através de relações sexuais não protegidas, contacto com sangue infectado ou por herança hereditária. Embora não haja uma vacina eficaz para o HIV, estão sendo feitos progressos no diagnóstico, reduzindo a transmissão e melhorando a saúde dos infetados.

Os tratamentos permitem reduzir a possibilidade de transmissão em 90-95%. Uma estatística louvável a que acresce a possibilidade que as pessoas não infectadas têm de prevenir a contração da doença, com medicamentos antivirais conhecidos como profilaxia pré-exposição e a adoção de práticas sexuais mais seguras. Há esperanças de que esses tratamentos acabem com a epidemia até 2030.

 

Gripe

O vírus da gripe não podem nem deve ser menosprezado. Se a maioria das gripes não requer qualquer tipo de tratamento, é importante notar que no último século o vírus vitimou mais pessoas do que o HIV/SIDA, considerado um dos maiores flagelos da sociedade contemporânea.

A gripe é uma doença respiratória de severidade variável, cujos surtos de sazonais ocorrem anualmente, afetando cerca de quatro milhões de pessoas. A OMS nota que por ano cerca de 250 mil morrem em todo o mundo devido ao vírus. São normalmente pacientes mais velhos, com doenças pré-existentes (como insuficiência cardíaca ou doença pulmonar crónica) ou mulheres grávidas, que integram os grupos de risco.

Muitas pessoas desenvolvem um elevado grau de imunidade, por infeção prévia ou devido à vacinação. Embora seja uma estratégia importante no combate à gripe, a vacina não é totalmente eficaz. Ela é desenvolvida com partículas do vírus que circulam no inverno, no hemisfério norte e é apenas 50% eficaz na prevenção da infeção.

Quando o vírus da gripe é transmitido dos seres humanos para os animais, existe o risco sério de que o vírus se venha a desenvolver e evoluir, podendo ter consequências devastadoras caso seja transmitido aos seres humanos. Tal aconteceu em 1918, com a pandemia da gripe espanhola que levou à morte de mais de 40 milhões de pessoas, mais do que a Grande Guerra. Mais recentemente a gripe das aves e a gripe suína vieram mostrar que a ameaça persiste.

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